Gabinete de segurança de Israel aprova plano que inclui a ‘conquista’ de Gaza

Israel anunciou, nesta segunda-feira (5), uma nova campanha militar na Faixa de Gaza, que prevê a “conquista” do território palestino e que exigirá, segundo o exército, o deslocamento interno da “maioria” de seus habitantes.
Esta ampliação das operações militares, aprovada de forma unânime pelo gabinete de guerra israelense, contempla “a conquista da Faixa de Gaza e o controle dos territórios” tomados, segundo uma fonte oficial.
Horas antes da reunião, o Exército anunciou no domingo a mobilização de dezenas de milhares de reservistas para intensificar a ofensiva em Gaza contra o movimento islamista palestino Hamas, que governa Gaza e desencadeou o conflito com o ataque realizado no sul de Israel em 7 de outubro de 2023.
“A operação inclui um ataque de grande envergadura” e “o deslocamento da maioria da população da Faixa de Gaza” fora das áreas de combate, disse o general de brigada Effi Defrin, porta-voz do exército israelense.
Praticamente todos os moradores da Faixa tiveram que se deslocar várias vezes desde o início da guerra no território, submetido a um bloqueio por parte de Israel desde 2 de março.
Para Auni Auad, que vive em uma barraca de camping no sul do território palestino, o plano israelense anunciado não deveria mudar muito o dia a dia dos milhares de deslocados que lutam para sobreviver.
“Israel não parou nem a guerra, nem os massacres, nem os bombardeios, nem a destruição, nem o assédio ou a fome, que continuam a cada dia”, ressaltou o homem, na faixa dos 40 anos. “Como pode falar, então, da intensificação das operações militares?”.
– “Janela” para negociar –
As Nações Unidas não deixaram de alertar sobre a catástrofe humanitária e o risco de fome a que estão expostos os cerca de 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
Nesta segunda, o secretário-geral da ONU, António Guterres, se disse “alarmado” com o plano israelense.
Os ministros e chefes militares israelenses alegam que “atualmente há comida suficiente” no território, apesar de as organizações humanitárias e agências da ONU advertirem para as consequências funestas do bloqueio e denunciarem a fome e o desespero vividos pela população.
Segundo o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o objetivo é “derrotar” o Hamas e “trazer de volta os reféns” sequestrados no ataque de 7 de outubro de 2023.
O funcionário avaliou que Israel deixa aberta “uma janela” de negociações para a libertação dos reféns que seguem em cativeiro até que termine a visita do presidente americano, Donald Trump, ao Oriente Médio, prevista de 13 a 16 de maio.
Além disso, a fonte informou que Netanyahu “segue apoiando” a ideia de Trump de promover a emigração voluntária dos habitantes de Gaza para países vizinhos, como Jordânia e Egito, ao que tanto Omã quanto o Cairo se opõem.
– Hamas denuncia “chantagem política” –
O gabinete se reuniu depois que um míssil lançado pelos rebeldes huthis do Iêmen atingiu, no domingo, uma área próxima à pista do principal aeroporto de Israel, perto de Tel Aviv, uma ação reivindicada por este grupo rebelde, aliado do Hamas e próximo do Irã.
“Acredito, como cidadão israelense, que é inteligente lidar finalmente com a raiz do problema”, disse à AFP Yossi Gershon, um funcionário público de 36 anos.
O gabinete de segurança também aprovou “a possibilidade de efetuar distribuições humanitárias, se necessário”, em Gaza, “para impedir que o Hamas assuma o controle dos suprimentos e destrua sua capacidade de governança”.
O Hamas afirmou, nesta segunda-feira, que o plano israelense para a entrega de ajuda em Gaza equivale a uma “chantagem política”.
– O plano “sacrifica os reféns” –
Israel intensificou os bombardeios aéreos e ampliou as operações terrestres na Faixa de Gaza desde que rompeu uma trégua e retomou a ofensiva no território palestino em 18 de março.
A Defesa Civil do território palestino anunciou, nesta segunda-feira, que 19 pessoas morreram em ataques de Israel no norte de Gaza.
O Fórum das Famílias dos reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 afirmou que o plano anunciado “sacrifica os reféns”.
“Esta manhã, o governo reconheceu que escolhe o território e não os reféns, ao contrário do desejado por mais de 70% da população”, assinalou o Fórum em um comunicado.
O Hamas mantém 58 reféns, do total de 251 sequestrados em 7 de outubro de 2023. O ataque do movimento islamista naquele dia provocou as mortes de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
A operação israelense de represália matou pelo menos 52.567 pessoas desde então em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
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