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Maestro lança livro inspirado em TV suíça

O maestro Rafael Righini em pleno trabalho. swissinfo.ch

O maestro Rafael Roso Righini é um noveleiro confesso e virou autoridade em trilhas musicais. Parte dos seus conhecimentos estão no livro "A trilha sonora na Telenovela brasileira".

É um estudo das formas de produção das músicas de novela. O maestro afirma ainda que existe preconceito dos músicos em relação às novelas.

O projeto nasceu no período em que viveu na Suíça, onde fez o curso de aperfeiçoamento em composição, orquestração, arranjo e regência no Conservatório de Música de Genebra.

Segundo ele, durante os três anos que passou em solo helvético pode ter contato com várias programações de emissoras suíças, francesas, italianas e internacionais, facilitando comparações e análises sobre as produções brasileiras.

Idéia surgiu na Suíça

Ele comenta que a estadia na Suíça foi fundamental para ter uma visão mais ampla sobre a música brasileira e internacional e que foi a partir desta análise que pode perceber a riqueza e a diversidade musical do Brasil.

Rafael conta que foi em terras suíças que teve a inspiração: juntar a arte da música com sua outra paixão, as telenovelas. Por isso, decidiu fazer um estudo sobre o uso das trilhas nas novelas brasileiras.

O maestro Righini explica que a telenovela utiliza os mesmos recursos de linguagem sonora do cinema e que, curiosamente, estes recursos têm base na ópera, onde se tem o espetáculo completo com figurino, iluminação, atuação, balé e orquestra.

Ópera popular

Para ele, a novela brasileira é uma forma de ópera popular através da tela da tv, que é a sua vitrine. Isso é que justifica tanto interesse comercial nos bastidores destes espetáculos dramáticos.

Rafael Righini afirma que muitos espectadores acreditam que o grande combustível da produção televisiva é o conceito de entretenimento, mas o aspecto fundamental é puramente comercial.

É neste contexto em que ele cita a relação da emissora de tv com as gravadoras, onde são escolhidos os artistas que farão parte da trilha sonora ou serão lançados na novela. Só após acertar as condições que atendam aos interesses de todos os envolvidos é que o projeto segue para a produção.

Outro aspecto importante é a seqüência de trilhas instrumentais que vão representar os personagens em momentos de tensão, suspense, alegria e tristeza. Por isto, explica Rafael, a trilha de cada novela é discutida, acertada e trabalhada com pelo menos seis meses de antecedência.

– Existe um trabalho de pré-produção muito anterior ao momento em que a novela é colocada no ar, que começa quando o autor do texto, o diretor musical e o produtor interagem afinando cada detalhe para cada um dos personagens na trama, lembra o maestro.

Ritimo intenso de trabalho

Após a estréia, o ritmo de trabalho passa a ser alucinado, pois todos os dias chegam capítulos para serem finalizados com as trilhas de cada cena. O maestro Righini afirma que é neste momento em que a experiência do profissional de música é mais exigida, pois não há tempo para dúvidas. O material precisa ser editado e finalizado em tempo hábil para ir ao ar com qualidade e dentro dos prazos.

– A loucura da telenovela é que os capítulos vêm chegando todos os dias e os responsáveis pelas trilhas devem cobrir com sons todos os espaços necessários para dar um bom andamento à trama, afirma.

A experiência necessária para efetuar este trabalho minucioso não é aprendida em cursos de música. No Brasil, não há praticamente nenhuma obra que trate deste assunto, mesmo porque, segundo o autor, as escolas de música e as faculdades não formam profissionais para atuarem neste nicho de mercado, deixando os músicos profissionais sem amparo.

Preconceito dos músicos

O maestro afirma que esse filão acaba sendo ocupado, muitas vezes, por músicos sem formação acadêmica mas com grande intuição e qualidade.

Ele diz que a universidade negligencia essa fatia de mercado e os músicos de formação o discriminam, já que a maioria acredita que compor para o mercado publicitário ou para novelas é uma atividade menor, que não está à altura do seu talento.

Para o músico e escritor o ideal é desmistificar este processo mostrando que este conceito de todo profissional de música tem de ser concertista é bastante conservador e retrógrado.

– É como dizer que o músico que não se encaixar em trabalhos para o palco e para consertos não serve para mais nada. É um profissional fracassado no mundo da música, diz Righini.

O maestro Rafael Righini afirma que existem várias oportunidades de trabalho no mercado de trilhas.

– Se o músico entra no mercado de trabalho com esse preconceito, acaba abrindo mão de um bom filão para alguém que muitas vezes não tem o mesmo preparo acadêmico, completa.

Um exemplo disso é que a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, até alguns anos atrás, não se preocupava com o mercado fonográfico. Há bem pouco tempo, a direção da Osesp passou a investir também em gravações de consertos abrindo um novo espaço comercial.

Ele conclui afirmando que a TV brasileira é uma das melhores do mundo em nível técnico e que devemos ter orgulho disso. Por este motivo defende uma formação melhor para os músicos poderem ingressar no mercado de trabalho, atendendo a uma demanda gerada pelas emissoras na produção de trilhas para telenovelas.

swissinfo, Alvaro Bufarah, São Paulo

– Rafael Righini é bacharéu em Música, em Composição e Regência e Doutor em Comunicações.

– Cursou, ainda, Aperfeiçoamento em Composição, Orquestração, Arranjo e Regência no Conservatório de Música de Genebra, na Suíça.

– Nessa época passou a estudar a estrutura das trilhas sonoras das novelas e publicou “Trilha sonora da telenovela brasileira”, pela Paulinas Editora, São Paulo.

– É professor da Universidade São Judas Tadeu e da Faculdade Cásper Líbero, nos cursos de Rádio e TV, e também coordenador de Pós-graduação de Criação e Áudio do Senac/SP.

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