Na Venezuela, ex-socialistas desiludidos agora apoiam a oposição

Por Vivian Sequera e Tibisay Romero
CARACAS/VALÊNCIA, Venezuala (Reuters) – A eleição presidencial de domingo na Venezuela atraiu um nível de entusiasmo dos eleitores que não era visto há pelo menos uma década.
Apesar de uma atmosfera carregada, marcada por prisões de figuras da oposição e acusações de conspiração, os comícios da oposição atraíram grandes multidões — incluindo ex-apoiadores desiludidos do partido governista do presidente Nicolás Maduro.
Maduro, que está buscando um terceiro mandato, tem se mostrado confiante quanto à conquista de uma vitória contra o que ele chama de “extrema-direita”.
A oposição — que boicotou a eleição de 2018, alegando que a votação não seria justa — disse que as decisões das autoridades eleitorais foram tomadas com a intenção de confundir os eleitores e reprimir o apoio da oposição.
Mas a campanha do desafiante Edmundo González marca a primeira vez desde 1999, quando o falecido presidente Hugo Chávez assumiu o poder, que um movimento político além do Partido Socialista teve um impulso real e uma possível vantagem.
Parte do entusiasmo por González, um ex-diplomata de 74 anos, vem de antigos “chavistas” que antes compareciam em massa para apoiar o partido de Maduro e de seu mentor Chávez, de acordo com entrevistas realizadas pela Reuters em comícios da oposição em cidades de todo o país.
Anos de crise econômica e o êxodo de mais de 7,7 milhões de pessoas cobraram seu preço, disseram.
“Eu gostava do chavismo, do que eles propunham, que a riqueza deveria ser compartilhada, que as oportunidades de progredir deveriam ser dadas a muitos, que os mais vulneráveis teriam uma chance”, disse Edgar González, de 39 anos, ao participar de um comício da oposição em Valência, capital do Estado de Carabobo, na região central do país.
“Mas então veio essa loucura”, disse González. Ele contou que perdeu seu emprego de contador em 2021 quando sua antiga empresa fechou e agora ganha a vida fazendo entregas em sua motocicleta. “Não me arrependo de meu passado, mas entendi que esse não é o caminho.”
Há um amplo apoio à líder da oposição Maria Corina Machado, disse Oswaldo Ramírez, diretor da consultoria ORC Consultores, de Caracas. Machado venceu de forma retumbante as primárias eleitorais no ano passado, mas está proibida de ocupar cargos públicos e se dedicou à campanha de González.
Mas há também “um descontentamento chavista que acredita que o país precisa iniciar um novo caminho e que a revolução basicamente enferrujou”, disse Ramírez.
Maduro afrouxou os controles monetários e reduziu a inflação, que antes era altíssima, mas a economia continua prejudicada pela queda na renda do petróleo no país da Opep e pelas sanções duradouras.
Ele advertiu sobre um “banho de sangue” se a oposição vencer e prometeu um novo período de crescimento que significará que a economia não dependerá mais da renda do petróleo.
“Passamos 25 anos apoiando os chavistas com a esperança de que em algum momento eles iriam endireitar o caminho do país, mas cada dia fica pior”, disse a professora Marina Pérez em um comício conjunto de González e Machado em Valência. Seu salário não aumentou em dois anos, disse ela.
“Agora há dois líderes que nos dão nova inspiração”, disse Pérez. “É isso que queremos: uma mudança”.