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O inimigo número um dos ortopedistas

Para o ex-boxeador, clientes vêm para exercitar e não paquerar ou tomar sucos naturais. swissinfo.ch

Ninguém expande mais rápido no setor de academias de ginástica do que o suíço Werner Kieser. Mais de 217 mil europeus adotam o método que promete acabar com as dores de coluna.

Segredo número um da “Kieser Training” são academias sem música, sem paquera ou supérfluos.

“Coluna forte não conhece dor” é a frase em letras graúdas, que ilustra cartazes de propaganda espalhados em diversas capitais européias.

Não se trata de um produto revolucionário ou o chamado de uma nova seita evangélica, mas sim a publicidade da “Kieser Training”, uma rede européia de academias de ginástica que promete um milagre: acabar com dores de coluna, um mal que atinge de 60 a 80% das mulheres e 65 a 70% dos homens entre trinta e sessenta anos de idade.

O “guru” dos músculos

O suíço Werner Kieser, 63 anos, é o chefe do império de 129 academias que funcionam em grandes cidades da Alemanha, Suíça, Inglaterra, Luxemburgo e Áustria. Aproximadamente 217 mil clientes se exercitam nos centros “Kieser Training”.

Ao contrário da maior parte das academias de ginástica, que se tornaram hoje em dia verdadeiros templos comerciais da saúde, a característica mais marcante das academias Kieser é a austeridade: além de aparelhos, banheiros e chuveiros, nada mais é oferecido.

Os clientes chegam, pegam sua ficha de exercícios, a toalha (obrigatória) e se torturam nos aparelhos em salões sem música eletrônica, bar de sucos ou saunas relaxantes. Não há tempo para conversa. Como numa rede de “fast-food”, pessoas vêm e vão.

“Nossas academias de ginástica não são lugares de convivência mas sim fábricas de musculatura e de ossos resistentes”, explica Kieser. “Aqui nós não oferecemos fitness, mas sim higiene corporal, comparável com a retirada de tártaro dos dentes”, conclui.

Tudo começa num ringue

A história da empresa Kieser Training começa em 1958 nos salões de boxe de Zurique. Werner Kieser sonhava na época em ser um boxeador profissional, quando sofreu uma grave contusão de costela durante uma luta.

Com fortes dores, Kieser decidiu seguir as orientações de um colega espanhol de fazer exercícios localizados. O resultado foi uma rápida recuperação. A partir desse dia, Kieser passou a acreditar no poder milagroso do treinamento físico.

Em 1967, ele abriu sua primeira academia de ginástica. Onze anos depois, o suíço equipava seu salão com as primeiras máquinas “Nautilus” desenvolvidas por Arthur Jones, uma espécie de avô do fisiculturismo nos Estados Unidos.

Até hoje as academias Kieser utilizam essas máquinas que mais lembram aparelhos de tortura da Idade Média. Cada uma delas é numerada e mostra qual dos músculos está sendo exercitado.

Expansão na Europa

Influenciado pelos Estados Unidos, o ex-boxeador começou em 1981 a expandir sua empresa por toda a Europa através do sistema de franquia.

“Como no McDonald’s, meus clientes podem freqüentar qualquer uma das academias na Europa e nelas tudo é igual, do sistema até o lápis que marca cada etapa do treino”, revela Kieser.

A família também atua nos negócios do “guru” dos músculos. A médica Gabriela Kieser é não somente a esposa, mas também diretora do departamento de pesquisa e desenvolvimento.

Em 1990 ela abriu o primeiro consultório de terapia médica de reforço na Europa, voltada especificamente para o tratamento da dor de coluna através de máquinas de ginástica. Suas idéias fazem parte atualmente do manual básico de todas as academias Kieser na Europa.

Em 2002, o faturamento das 129 academias foi de 89 milhões de euros. Uma percentagem do dinheiro vai diretamente para o caixa da central em Zurique. Além das academias, Walter Kieser mantém um grupo de pesquisa com três funcionários em Colônia, onde são criados novos aparelhos de ginástica.

E a “tortura” gradual dos músculos em academias de ginástica espartanas parece não agradar apenas aos clientes de Kieser. Também empresas como a DaimlerChrysler decidiram aplicá-lo ao seu pessoal.

Nesse caso a saúde também é uma questão econômica, pois problemas como dores de coluna provocam custos de até 20 milhões de euros para a economia alemã, como afirma o Instituto de Medicina Social de Lübeck, no norte da Alemanha.

Em 2002, o produtor alemão de veículos instalou na sua fábrica em Gaggenau, sul da Alemanha, uma academia de ginástica Kieser, que é freqüentada regularmente por um terço dos seis mil funcionários.

Maioria é mulher e acima dos 40

O típico freqüentador das academias de Kieser não é, ao contrário do que se acredita, musculosos “marombeiros”: a idade média dos clientes está acima dos 43 anos e 53% são mulheres.

Os recepcionistas recomendam um treinamento de, no máximo, meia hora e duas vezes por semana. Não há tempo para desperdiçar.

“Meus clientes não são adolescentes vaidosos, mas sim pessoas normais, de todas as faixas etárias. Elas não vêm para se comunicar. Sua comunicação ocorre em outro lugar. Elas realizam aqui uma tarefa e depois precisam ir embora, ir ao escritório ou voltar para casa”, assegura Kieser.

Uma missão

Kieser acredita que tem uma missão. Não é por acaso que desde 1979, ele também se tornou escritor. Nesse ano, o inquieto suíço lançou seu primeiro livro: “Melhora do condicionamento através de exercícios”. Depois da primeira obra, seguiram outras com títulos sugestivos como “A alma dos músculos” (1995) e “Um corpo forte não conhece a dor” (1999).

“Eu descobri há muito tempo que a dor é um problema de músculos que são exercitados de forma incorreta ou nem são exercitados. Esse é um problema típico das sociedades desenvolvidas”, explica Kieser.

Não é por acaso que a revista alemã “Spiegel” o qualificou de “inimigo mortal dos ortopedistas”. “Muitos ortopedistas – não todos, mas alguns conhecidos – não querem aprender. Eles se sentem ameaçados quando alguém aparece com novas idéias, que podem tornar seus tratamentos completamente desnecessários. A indústria farmacêutica também não deve ter interesse em que a dor seja combatida sem a sua ajuda”.

Para o futuro, Kieser não quer limitar sua expanção apenas à Europa. “Penso na China, nos Estados Unidos e, por que não, até mesmo na América do Sul”.

Perguntado se ele próprio tem dores de coluna, Kieser não titubeou e mostrou o seu próprio plano de exercícios: duas vezes por semana o empresário treina numa academia da Kieser Training, instalada apenas dois andares abaixo do seu próprio escritório em Zurique.

swissinfo, Alexander Thoele

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