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Oposição aumenta pressão sobre Bolsonaro com ‘superpedido de impeachment’

(Arquivo) Presidente Jair Bolsonaro durante o lançamento de um programa de retomada do turismo no Brasil, em 10 de novembro de 2020 afp_tickers

A oposição registrou nesta quarta-feira (30) na Câmara dos Deputados um “superpedido de impeachment” contra o presidente, Jair Bolsonaro, cercado de suspeitas de corrupção envolvendo o seu governo na compra de vacinas contra a covid-19.

O documento, assinado por partidos de esquerda, sindicatos e organizações sociais, além de alguns ex-aliados do Bolsonaro, reúne os 123 pedidos de impeachment já entregues à Câmara com mais de 20 acusações, incluindo a de ter sido negligente diante da pandemia que já deixou mais de 500 mil mortos no país.

O presidente se opôs repetidamente às medidas de isolamento social, promoveu aglomerações sem o uso de máscaras, questionou a eficácia das vacinas e promoveu medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.

A iniciativa busca pressionar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para dar andamento a alguns dos pedidos de impeachment que se acumulam em sua gaveta. Porém, observadores consideram improvável que Lira, um aliado de Bolsonaro, decida dar esse passo.

E caso isso ocorra, duvidam que o impeachment seja aprovado, já que isso exige o apoio de dois terços dos deputados e Bolsonaro, apesar da queda de sua popularidade, ainda conta com o apoio de uma coalizão heterogênea de partidos conservadores.

Mas a iniciativa se soma a uma crescente mobilização social e ao trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada há dois meses pelo Senado para investigar possíveis omissões do governo na gestão da pandemia. Em suas últimas sessões, a CPI trouxe à luz suspeitas de corrupção na negociação e compra de vacinas.

Na segunda-feira, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Jorge Kajuru (Podemos-GO) e Fabiano Contarato (Rede-ES) entraram com uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que se investigue se Bolsonaro cometeu crime de “prevaricação” ao deixar de denunciar as suspeitas do caso da vacina indiana Covaxin, sobre o qual teria conhecimento.

A oposição realizou protestos massivos em todo o país em 29 de maio e 19 de junho e adiantou para o próximo sábado o que tinha programado para 23 de julho.

Entre os signatários do ‘superpedido de impeachment’ estão o Partido dos Trabalhadores (PT), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como sindicatos de trabalhadores, organizações estudantis, entidades de juristas e coletivos antirracistas.

– O fator “rua” –

“A gente enxerga com muito ceticismo esse pedido de impeachment. A gente não vê uma aderência de um conjunto de forças políticas forte o suficiente para romper essa blindagem que o Bolsonaro tem na Câmara”, explicou à AFP o analista político Creomar de Souza, da consultoria Dharma.

Porém, “a gente está bastante atento a um desdobramento ou o surgimento de novas denúncias, e aí a bola de neve poderia alterar alguma relação” do presidente, acrescentou.

O diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi exonerado nesta quarta-feira, após ser denunciado pelo representante de uma empresa por um suposto pedido de propina, de um dólar por dose, durante a negociação para a compra de uma vacina, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

Outro integrante da pasta, o funcionário de carreira Luis Ricardo Miranda, disse na semana passada que detectou possíveis irregularidades no contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin, a preços muito altos, e que levou sua preocupação ao próprio Bolsonaro, que não teria levado o caso à Polícia Federal.

“Impeachment depende muito de rua. Estamos indo para o terceiro ato de rua, que vai ser essa semana. Com essa denúncia nova da corrupção na compra de vacina, acho que as ruas vão pra cima”, disse à AFP o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

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