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O dia em que o exército suíço atirou contra sua população

O Parlamento suíço recusou limpar o nome de sete pessoas consideradas culpadas por agitação há quase 90 anos. O exército suíço abriu fogo contra civis que protestavam contra uma reunião de fascistas em Genebra em 1932.

Este conteúdo foi publicado em 15. maio 2019 minutos
swissinfo.ch
Jovens soldados foram chamados para ajudar a polícia a parar os manifestantes nas ruas de Genebra em 9 de novembro de 1932. Treze pessoas foram mortas e mais de 60 outras ficaram feridas Keystone / Str

"Preparar, apontar, fogo!", foi a ordem dada pelo primeiro-tenente Raymond Burnat ao seu pelotão, convocado para impedir uma manifestação de militantes de esquerda reunidos no bairro de Plainpalais, em Genebra. O tiroteio durou quase 12 segundos (veja o vídeo abaixo) e deixou 13 pessoas mortas e outras 65 feridas em 9 de novembro de 1932.

O sangrento incidente ocorreu quando os manifestantes, liderados pelo líder do partido socialista local, Léon Nicole, saíram às ruas para protestar contra uma outra manifestação de simpatizantes do político de extrema-direita, Georges Oltramare.

Preocupado com uma onda de agitação pública, o governo do cantão de Genebra pediu ajuda ao exército suíço para manter a ordem pública.

Os historiadores dizem que os eventos trágicos subsequentes foram o resultado de vários fatores: um grupo de jovens soldados ainda em treinamento militar, oficiais inexperientes dando uma série de ordens ineptas, bem como táticas militares inadequadas diante de uma multidão de manifestantes antimilitaristas.

Tensões e julgamento

As tensões estavam em alta em Genebra nos anos 1930, em meio à ascensão de regimes totalitários na Europa, uma crise econômica e aumento do desemprego.

Em maio de 1933, um júri especial condenou sete militantes de esquerda, que haviam organizado a manifestação antifascista, por perturbar a ordem pública. Eles foram condenados a quatro e seis meses de prisão.

No entanto, nenhum dos membros do exército teve que responder às autoridades judiciais pelo seu papel no tratamento dos protestos de rua.

86 anos depois, o parlamento suíço se recusou a reabilitar os sete manifestantes. A Câmara dos Deputados indeferiu um pedido das autoridades cantonais de Genebra, confirmando uma decisão anterior do Senado.

Durante o último debate, os opositores da reabilitação - principalmente da direita - argumentaram que a separação do poder deve ser respeitada.

"O Parlamento deve exercer a máxima contenção no levantamento de um veredito de um tribunal", disse Thomas Hefti, membro do partido liberal radical. O tribunal na época agiu de acordo com as regras da lei e os acusados tiveram a oportunidade de defender seu caso, acrescentou.

Direito democrático

O historiador Jean Batou, autor de um livro sobre o tiroteio em Genebra, está desapontado com a recusa do parlamento em conceder a reabilitação. Ele diz que os manifestantes agiram de boa-fé, tentando defender os direitos democráticos contra extremistas de direita, apenas três meses antes de Hitler tomar o poder na vizinha Alemanha.

“Na verdade, devemos ser gratos a essas pessoas e honrá-las. Elas se levantaram contra o crescente fascismo ”, disse Batou. “Não se trata de criticar os juízes da época, mas dizer: com retrospectiva histórica, seus vereditos não se justificaram”.

Batou também argumenta que a interferência das forças armadas era inaceitável, e as penalidades impostas aos manifestantes desproporcionais.

Ele ressalta que o escândalo causou manchetes não apenas na Suíça, mas também no exterior, nos anos 1930, notadamente na imprensa britânica, assim como em Portugal, sob o regime autoritário do ditador António de Oliveira Salazar.


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