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Raquel Dodge assume a PGR em um país abalado por denúncias de corrupção

Temer aplaude Raquel durante a cerimônia de posse afp_tickers

A nova Procuradora-Geral do Brasil, Raquel Dodge, assumiu o cargo nesta segunda-feira com uma mensagem a favor da harmonia entre os poderes da República, quatro dias depois que seu antecessor acusou o presidente Michel Temer de ser o líder de uma organização criminosa.

Dodge é a primeira mulher a ocupar a chefia da PGR e chega em plena intensificação da crise política desatada pelos escândalos de corrupção que criaram um clima de tensão entre o Governo e o Congresso com o poder judiciário.

“A harmonia entre os poderes é um requisito para a estabilidade da nação”, afirmou Dodge em seu discurso inaugural na sede do Ministério Público (MP) em Brasília.

“O país passa por um momento de depuração, os órgãos do sistema de administração da justiça têm no respeito e na harmonia entre as instituições a pedra angular que equilibra a relação necessária para se fazer justiça”, acrescentou, em uma passagem elogiada por Temer, que presenciou o ato de posse.

A Procuradora mencionou rapidamente seu antecessor, Rodrigo Janot, que denunciou duas vezes por corrupção o chefe de Estado e transformou Temer no primeiro presidente em função da história a ser acusado por um crime comum. A primeira acusação foi bloqueada em agosto pela Câmara de Deputados, que vai esperar por uma resolução do Supremo Tribunal Federal antes de começar a analisar a nova acusação.

Dodge também falou da corrupção como um dos capítulos centrais de sua agenda, mas não mencionou a “Operação Lava Jato”.

O Brasil, sentenciou, já “não tolera a corrupção e não só espera, como também exige resultados”.

Dodge, que estudou em Brasília e em Harvard, é funcionária do MPF desde 1987.

Seus primeiros passos serão observados com atenção, enquanto o STF decide se transmite à Câmara dos Deputados o último pedido de denúncia contra Temer.

– Sombra de Janot –

Temer é acusado de liderar uma organização criminosa para espoliar o Estado e de tentar obstruir a ação da Justiça.

O primeiro caso, por corrupção passiva, foi bloqueado em agosto, mas deu origem a um amargo enfrentamento entre Janot e Temer, cuja defesa atribuiu ao procurador uma perseguição de caráter pessoal contra o chefe de Estado.

Janot também deixa abertas denúncias contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), contra José Sarney (1985-1990) e outros políticos em funções.

O mandato da Procuradora-Geral começa em uma semana sensível. Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal julgará um pedido da defesa de Temer para congelar as últimas denúncias até que se determine se as provas contra o presidente fornecidas pelos proprietários da JBS são válidas.

Os irmãos Wesley e Joesley Batista assinaram um acordo de colaboração com a Justiça em troca de imunidade, em razão do qual revelaram que Temer teria recebido dinheiro sob a mesa e endossado propinas para manter em silêncio aqueles que poderiam incriminá-lo.

Mas o pacto foi derrubado depois que o próprio Janot, responsável por essa delação, descobriu que os irmãos ocultaram informações. Ambos foram presos.

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