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Plano florestal da ONU pode ameaçar espécies, dizem cientistas

Por Peter Griffiths
LONDRES (Reuters) – Um plano da ONU para a proteção de florestas tropicais, como forma de combate à mudança climática, pode ameaçar mais plantas e animais de extinção, disseram cientistas na segunda-feira.
A proposta da ONU, a ser discutida em dezembro na reunião climática de Copenhague, poderia salvar algumas espécies, mas ameaçaria inadvertidamente muitas outras, segundo uma equipe internacional de pesquisadores.
Pelo plano Redd (“Reduções pelo Desmatamento e Degradação”, na sigla em inglês), os países pobres receberiam dinheiro para proteger suas árvores, o que reduz as emissões globais de gases do efeito estufa. O mecanismo seria financiado por um mercado de créditos de carbono.
Em artigo na revista Current Biology, os cientistas alertaram que o mercado pode privilegiar florestas de proteção mais barata e que sejam ricas em carbono, negligenciando aquelas que têm menos carbono, mas um número maior de espécies ameaçadas.
“Estamos preocupados de que os governos irão focar o corte de desmatamento em florestas mais ricas em carbono, só que as pressões de limpeza se deslocariam para outras florestas de alta biodiversidade que não recebam prioridade para proteção”, disse o coordenador do grupo, Alan Grainger, da Universidade de Leeds.
A destruição de florestas para a extração de madeira e ocupação pecuária causa quase um quinto das emissões de gases do efeito estufa, segundo estimativas da ONU. O desmatamento ameaça espécies como os gorilas das montanhas africanas e os pandas gigantes da Ásia.
Os cientistas, da Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Cingapura, disseram que as concentrações de carbono e a biodiversidade nas florestas tropicais se sobrepõem apenas parcialmente.
Eles disseram que até 95 por cento dos danos às florestas protegidas pelo plano Redd poderiam ser transferidos para florestas desprotegidas próximas.
O estudo deles cita o exemplo da Amazônia Peruana, onde a criação de reservas florestais contribuiu para um aumento de 300 a 470 por cento nos danos a florestas em áreas adjacentes.
Os cientistas acrescentam que recursos humanos e financeiros dos governos podem ser deslocados para as florestas Redd, causando mais riscos nas áreas desprotegidas.
Eles temem também que o plano Redd possa, perversamente, levar os países a adiarem medidas de proteção florestal que seriam inevitavelmente adotadas, mas que agora poderia esperar a aprovação do novo sistema, com seus respectivos benefícios.
“Apesar das melhores intenções, erros podem facilmente acontecer por causa de um planejamento ruim”, acrescentou Grainger. “Um Redd bem planejado pode salvar muitas espécies.”

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