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Sistemas de saúde entram em crise na África enquanto Ebola mata 932 pessoas

Voluntários carregam corpos em um centro liderado pelo grupo Médico Sem Fronteiras para pacientes com Ebola, em Kailahun, Serra Leoa, no fim de semana. 02/08/2014 REUTERS/OMS/Tarik Jasarevic/Divulgação reuters_tickers

Por Derick Snyder e Daniel Flynn

MONRÓVIA/DACAR (Reuters) – Os funcionários da saúde no oeste da África fizeram um apelo nesta quarta-feira por ajuda urgente para controlar o pior surto de Ebola da história. O saldo de mortos chegou a 932 e a Libéria fechou um hospital onde vários agentes foram infectados, incluindo um padre espanhol.

A epidemia de febre hemorrágica sobrecarregou os rudimentares sistemas de saúde pública e levou ao destacamento de tropas para impor quarentenas nas áreas mais atingidas, na região remota das fronteiras entre Guiné, Libéria e Serra Leoa.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) relatou 45 novas mortes nos três dias desde 4 de agosto. Seus especialistas iniciaram uma reunião de emergência em Genebra nesta quarta-feira para discutir se a epidemia constitui uma “Emergência de Saúde Pública de Gravidade Internacional” e avaliar novas medidas para detê-la, incluindo o possível uso de tratamentos com drogas experimentais.

“Este surto é inédito e está fora de controle”, disse Walter Lorenzi, chefe da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Serra Leoa. “Precisamos desesperadamente de novos participantes no local – não em escritórios ou reuniões – mas com luvas, fazendo trabalho de campo”.

O alarme global com a propagação da doença aumentou quando o norte-americano Patrick Sawyer morreu na Nigéria no mês passado depois de passar pela Libéria.

O Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira que uma enfermeira nigeriana que cuidou de Sawyer morreu de Ebola e que cinco outras pessoas estão sendo tratadas em uma ala de isolamento em Lagos, maior cidade da África.

A Libéria, onde o saldo de mortos cresce mais rápido, está com dificuldades para lidar com o problema. Muitos moradores estão em pânico e em alguns casos abandonam os corpos de familiares nas ruas de Monróvia para evitar quarentenas.

O hospital católico St. Joseph foi fechado depois que seu diretor morreu de Ebola, disseram autoridades, e seis funcionários testaram positivo, incluindo duas freiras e o padre espanhol Miguel Pajares, de 75 anos, que deve ser repatriado de avião por uma equipe médica.

CONTENÇÃO

Três dos maiores especialistas mundiais em Ebola exortaram a OMS a também oferecer drogas experimentais às pessoas no oeste africano, mas a agência afirmou que “não irá recomendar qualquer droga que não passou pelo processo normal de licenciamento e testes clínicos”.

Muitos hospitais e clínicas convencionais foram forçados a fechar em toda a Libéria, muitas vezes porque os próprios funcionários temem contrair o vírus ou por causa de episódios de violência de locais que acreditam que a doença é uma conspiração governamental.

O país mobilizou o Exército para implementar controles e isolar as comunidades atingidas com maior gravidade, a chamada operação “Escudo Branco”.

A vizinha Serra Leoa afirmou ter implementado novas restrições no aeroporto e estar pedindo aos passageiros que preencham formulários e meçam a temperatura. No leste da nação, os militares criaram bloqueios nas estradas para limitar o acesso às áreas afetadas.

Algumas das maiores companhias aéreas, como a British Airways e a Emirates, interromperam os voos aos países contaminados, e muitos expatriados estão partindo, segundo autoridades do governo.

(Reportagem adicional de Clair MacDougall, em Monróvia; de Emma Farge e Daniel Flynn, em Dacar; de Tim Cocks, em Lagos; de Paul Day, em Madri; e de Tom Miles, em Genebra)

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