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Seis dias hipnotizado pela Suíça

Um dos destinos na viagem: o vale de Goms, no cantão do Valais (sul da Suíça). swiss-image

Anualmente a Suíça Turismo convida jornalistas estrangeiros para viver o país da forma mais intensiva possível. Em 2009, eram 150 a descobrir os parques naturais durante seis dias.

Os custos são altos, mas compensam: 10 mil artigos inspirados em tais viagens são publicados anualmente na imprensa mundial, alguns até ganhadores de um “Oscar”.

O convite chega à mesa do jornalista como uma dádiva. Uma viagem visual e gastronômica de três dias através do Vale de Binn, nas montanhas do cantão do Valais (sudoeste). Opcionalmente o passeio também pode ser estendido à reserva natural e arqueológica no Monte San Giorgio e a cidade de Bellinzona(sul) – dois locais tombados como patrimônio mundial da Unesco no Ticino, a parte italiana do país dos Alpes – e Zermatt, vilarejo onde está a legendária montanha triangular “Matterhorn”.

O programa faz parte da estratégia de comunicação da Suíça Turismo, o órgão oficial do país. Todos os anos são trazidos jornalistas estrangeiros para participar de uma viagem de aproximadamente uma semana de duração. Em 2009, o tema era os parques naturais. No total, 152 jornalistas originários de 31 diferentes países foram convidados para visitar entre 31 de agosto e 5 de setembro a Suíça, alguns pela primeira vez.

A tarefa de encantar estrangeiros com a natureza helvética não é difícil. Na varanda do hotel Serpiano, na base da montanha de San Giorgio no Ticino, a assessora de imprensa Edith Zweifel apresenta aos quinze profissionais de jornais, revistas, fotografia e internet – o grupo que havia escolhido o passeio adicional pela parte italiana do país – a vista estupenda para o vale e o lago de Lugano. Do outro lado das suas águas verdes, o pequeno vilarejo de Morcote, com suas casas de cores quase tropicais. Ao pôr-do-sol e regado a vinho branco da região, ela explica o objetivo do passeio. “Queremos mostrar a vocês os encantos do nosso país”.

Experiências visuais e degustativas

No dia seguinte, o grupo faz uma excursão nas montanhas da região, conhecida também pelo grande número de sítios arqueológicos com fósseis de várias épocas da pré-história. Andrea Tintori, professor de paleontologia da Universidade de Milão, atua de guia. Com sua pequena picareta, ela bate nas pedras e mostra porque determinadas camadas de sedimento podem esconder esqueletos de dinossauros e outras não. Difícil de imaginar que um antigo oceano tenha se elevado às alturas durante a formação do planeta.

A expedição termina em um tradicional “grotto”, uma espécie de instituição gastronômica do Ticino. Essas construções simples escondidas nas florestas serviam no passado de clube social para os habitantes da região. Lá eram guardadas linguiças, vinho e outros mantimentos. Hoje são restaurantes simples que só funcionam no verão. Os jornalistas sentam e degustam um típico prato do Ticino: polenta e ossobuco, regado a vinho de uvas Merlot.

A visita da cidade de Bellinzona também faz parte do programa. Seus impressionantes castelos são testemunhos de uma época em que os diferentes povos cruzavam os Alpes. Os guias da Suíça Turismo explicam como a parte italiana se integrou ao resto do país. Muitos estrangeiros se espantavam. “Eles me mostram a parte alemã, a parte francesa e a parte italiana, mas me pergunto onde está a parte suíça”, indaga a jornalista indiana Latha Anantharaman. Todos acham graça da pergunta.

Estratégia de comunicação

O que parece ser apenas um passeio para mostrar a Suíça aos jornalistas é uma estratégia refinada de vender o país. Sua indústria do turismo é seu quarto maior produto de exportação e emprega 1/10 da população ativa (ver quadro à direita). A importância do setor explica o planejamento a longo termo.

“A organização da viagem começa dois anos antes. Mas os temas já estão determinados em um período de cinco anos. No ano passado foi a Suíça móvel, com passeio no Expresso da Geleira, também tombado pela Unesco. Em 2010, o tema será “caminhadas e trilhas”, explica Edith.

A chamada “campanha de verão na montanha” é organizada todos os anos e tem um custo aproximado de 32,7 milhões de francos (US$ 31,2 milhões). Ela envolve não apenas os custos da viagem de 150 jornalistas, mas também apresentações em vários países. Em parte, as despesas também são cobertas pelas parcerias, como passagens oferecidos pela companhia aérea Swiss e hospedagem paga através das diferentes organizações regionais de turismo na Suíça.

O programa exige um grande esforço de logística: um programa principal de viagem, várias viagens adicionais e optativas, animação cultural e gastronômica, hospedagem e transporte para estrangeiros de diferentes culturas. O resultado de tanto esforço se reflete nos números. “No ano passado foram 9.979 artigos ‘influenciados’ publicados na imprensa internacional”, revela Edith, acrescentando o número total de jornalistas convidados em 2009 pela Suíça Turismo: 1.875.

Uma das reportagens apoiadas pelo órgão chegou a ser premiada internacionalmente. O show de TV americano “Travel Café” ganhou no início de setembro de 2009 um prêmio Emmy graças ao perfil da região de Engadin e St. Moritz (leste). Foi a segunda vez que um programa televisivo dos EUA dedicado à Suíça ganhou o chamado “Oscar” da televisão. “Só no ano passado trouxemos 143 equipes de TV para o país”, acrescenta a assessora de imprensa.

Cenários deslumbrantes

Os 152 jornalistas chegam a Sion, capital do cantão do Valais. Depois da prova de vinhos – a região é a maior produtora do país – eles partem para o parque natural de Pfyn, a maior floresta helvética de pinheiros, também conhecida como “jungle of Switzerland”. A noite termina com um banquete no castelo de Leuk, vilarejo nas proximidades de Sion. Os cozinheiros são campeões mundiais de cozinha. Na mesa, uma jornalista brasileira.

“É um programa intenso, mas muito gostoso. Visitamos áreas de preservação natural, com paisagens completamente diferentes do que estamos acostumados no Brasil. No meu país não existe o cuidado com a preservação como vi aqui na Suíça”, declara Márcia de Chiara, do jornal O Estado de São Paulo.

A viagem leva até a região de Goms, também no Valais. Um dos passeios leva ao pico do Eggishorn (2.926 metros acima do nível do mar) para ver o majestoso espetáculo da geleira Aletsch, a mais extensa da Europa. A impressão é de que, na Suíça, qualquer um pode ser alpinista: os teleféricos fazem milagres. Para um fotógrafo português, a combinação ideal: “As pessoas querem se sentir especiais quando estão a viajar hoje em dia. A Suíça tem sítios com bastante gente e, ao mesmo tempo, sítios com menos gente e que oferecem coisas especiais”, admira-se Nuno Oliveira.

Um presente final

A despedida do grande grupo ocorre à noite no pequeno vilarejo de Binn, no alto do vale de Binn. Apesar de ser uma região conhecida pelos cristais e natureza alpina, o que mais impressiona os jornalistas é descobrir um povoado como nos contos de fadas: chalés de madeira, rios cristalinos, antigas capelas e pequenas ruas cobertas de cascalho. Um habitante conta que muitas vezes, no inverno, a neve chega a cortar a ligação com o resto do vale.

Os jornalistas se dividem. Uns vão conhecer Zurique, a verdadeira “metrópole” do país. Outros vão conhecer um símbolo nacional da Suíça: o Matterhorn, a montanha triangular com 4.478 metros acima do nível do mar. Para ver com os próprios olhos esse ícone mágico de granito, também conhecido por ilustrar o Toblerone, é preciso ir à Zermatt.

A pequena cidade no alto das montanhas ao extremo sul da Suíça, quase na fronteira com a Itália, é extremamente turística, mas espanta por só ter carros elétricos nas ruas e ainda manter preservado seu centro histórico, com paióis de madeira e até um cemitério para alpinistas ingleses. A combinação de modernidade e tradição surpreende outra jornalista brasileira. “É difícil imaginar que em um país tão organizado e desenvolvido como a Suíça, existam tantas pessoas levando uma vida tão próxima à natureza”, lembra-se Marília Scalzo do seu encontro com uma camponesa do Valais.

Ao entrar na cremalheira mais elevada da Europa para subir à estação de Gornergrat, a paulistana esperava vislumbrar o Matterhorn. No alto, os guias preparam uma foto do grupo de jornalistas. Porém o tempo estava nublado e nada se via da famosa montanha.

Porém, à noite, uma surpresa. Além da calorosa despedida, a Suíça Turismo trazia as fotos com um “milagre” tecnológico: o Matterhorn reluzindo ao sol com um céu de brigadeiro fazendo pano de fundo para o grupo. Como voltar à pátria sem uma pose dessas?

Alexander Thoele, swissinfo.ch

A Suíça Turismo, agência oficial de turismo do país, organizou de 31 de agosto a 5 de setembro de 2009 sua tradicional viagem para jornalistas estrangeiros.

Neste ano participaram 152 jornalistas originários de 31 países nos cinco continentes. O tema do ano eram os parques naturais da Suíça.

O principal programa era a descoberta de áreas protegidas no cantão do Valais (sul) como o vale de Binn (conhecido no passado por ser rota de contrabandistas e seus cristais), o parque natural de Pfyn-Finges (onde está a maior floreta de pinheiros da Suíça) e o Vale das Conchas (próximo à geleira de Aletsch).

Outros programas incluíam também visitas ao parque natural do Monte San Giorgio no Tessin (parte italiana da Suíça) e os três castelos de Bellinzona.

Segundo as estatísticas oficiais, o turismo é considerado o quarto maior produto de exportação da Suíça (turistas estrangeiros consumido serviços e produtos oferecidos internamente) e ocupam 1/10 da população ativa.

Em 2008, o setor faturou 15,6 bilhões de francos, um bilhão a mais do que no ano anterior. Especialistas acreditam que a crise econômica deve afetar o turismo em 2009.

Em 2007, 57,5% dos hóspedes em hotéis suíços vinham de outros países. Mais de três quartos dos estrangeiros vem da Europa (incluindo Turquia e Rússia). Os principais países de origem são Alemanha (16,7%), Grã-Bretanha (6,3%), EUA (4,6%), França (3,8%) e Itália (3,1%).

Suíça Turismo tem 220 funcionários e representações em 28 países.

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