Simpatizantes celebram centenário de nascimento de Pinochet no Chile

Cerca de 400 partidários do falecido ditador Augusto Pinochet vão comemorar seu centenário de nascimento na quarta-feira, convocando os adeptos mais fervorosos do “pinochetismo”, uma corrente com muitos detratores, embora seguida por parte expressiva da sociedade chilena.
A homenagem será realizada com uma missa na capela da fazenda de Los Boldos, na costa central chilena, onde estão as cinzas do ditador que morreu há nove anos.
A cerimônia é organizada pela Fundação Presidente Pinochet e pelo pequeno partido político em formação ‘Por mi patria’ (Pela minha pátria), liderado pelo neto homônimo do ditador, aspirante a líder do movimento que hoje conta com poucas figuras públicas e nenhum porta-voz.
Não há mais comemorações populares previstas.
“Vamos porque somos gratos. O general Pinochet salvou este país”, disse à AFP um dos participantes da reunião, pedindo que seu nome não fosse revelado por medo das represálias.
“Politicamente incorreto”
Aqueles que participarão desta cerimônia pertencem ao chamado núcleo duro do “pinochetismo”, um grupo pequeno de nostálgicos de uma obra que acreditam não ter sido suficientemente reconhecido, considerando “ingratos” os políticos dos partidos de direita que hoje repudiam o regime.
Passados 25 anos desde o fim da ditadura, declarar-se “pinochetista” é considerado politicamente incorreto no Chile, embora boa parte da sociedade ainda valorize o legado político e principalmente econômico do regime: uma economia de livre mercado que deixou nas mãos do setor privado a saúde, educação e pensões.
“os pinochetistas que homenagearão Pinochet são poucos, mas os que defendem o governo dele são muitos, até demais depois da quantidade de anos que já se passou” desde o fim da ditadura, em 1990, disse Marta Lagos, diretora da consultoria de opinião Mori.
“O que acontece é que hoje é politicamente incorreto estar a favor do pinochetismo” devido às violações dos direitos humanos que ocorreram durante seu regime, ao qual são atribuídos mais de 3.200 vítimas, entre mortos e desaparecidos, acrescenta Lagos.
“Há dois tipos de pinochetismo”, afirma à AFP o cientista político da Universidade Diego Portales, Patricio Navia. Existe o grupo que “rememora a pessoa do general e o que celebra as reformas realizadas por ele”, explica.
“Aquele que recorda do ditador é que comemora o aniversário de Pinochet. Por outro lado, os que lembram das reformas da ditadura preferem não comemorar nada, devido aos danos que causam à credibilidade dessas reformas, associadas a violações dos direitos humanos cometidas na ditadura”, acrescenta.
Grande porcentagem de apoio
O regime de Pinochet chegou ao fim depois de se submeter a um plebiscito em 1988, no qual obteve 44% dos votos. Após a derrota, em março de 1990, entregou o poder ao presidente democrata cristão Patricio Aylwin, que liderou uma transição pacífica para a democracia.
Pinochet permaneceu, no entanto, por mais oito anos como chefe do Exército chileno e, em seguida, até 2001, ocupou uma cadeira no Congresso como senador vitalício.
Após essa renúncia, seguiu quase ausente na vida pública, até que morreu, no dia 10 de dezembro de 2006, vítima de um infarto, quando a justiça voltava a cercá-lo, mais ou vez, devido a novos casos de violações aos direitos humanos e desvio de fundos públicos.
Em seu funeral, onde foram rendidas honras militares, estavam presentes cerca de 50 mil pessoas.
O estudo “La imagen de Pinochet y la dictadura” (A imagem de Pinochet e a ditadura), publicado em julho passado pelas pesquisadoras Mori e Cerc, revelou que, ainda hoje, aproximadamente 15% dos chilenos considera Pinochet “um dos melhores governantes que o Chile já teve”, enquanto cerca de 21% (cinco pontos percentuais a mais que em 2013) acreditam que os militares tinham razão em dar o golpe de Estado no dia 11 de setembro de 1973 contra o governo socialista de Salvador Allende.
“Ainda são números altos”, concluiu Marta Lagos.