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Caritas lança década de combate à pobreza

Central Alimentar da Região de Lausanne, mantida pela Caritas, para a população necessitada. Keystone

A organização filantrópica Caritas, ligada à Igreja Católica, quer reduzir à metade até 2020 o número de pobres na Suíça.

Críticos da campanha relativizam a pobreza no país. O maior partido político suíço pede uma redução da ajuda social.

Quem é pobre na rica suíça? Segundo a Caritas, um em cada dez suíços não consegue sobreviver com a renda própria e poderia pedir ajuda social ao Estado.

A entidade estima que existam entre 700 mil e 900 mil pobres na Suíça. Na opinião de Walter Schmid, presidente da Conferência Suíça para Ajuda Social (SKOS), esse número é muito alto.

“Nós nos orientamos pelos números do Departamento Federal de Estatísticas, que falam de cerca de 600 mil atingidos ou de uma taxa de pobreza de 8%”, diz Schmid ao jornal Berner Zeitung, da capital suíça.

Ele aponta duas dimensões da pobreza: “Quem ganha menos do que cerca de 2300 francos por mês ou precisa de ajuda para sobreviver é materialmente pobre. Do ponto de vista social, é considerado pobre quem está completamente só, não tem mais perspectivas e se sente marginalizado pela sociedade.”

A Caritas aproveita o ano europeu contra a pobreza, 2010, para lançar sua ambiciosa campanha de “uma década de combate à pobreza”. A meta é reduzir a pobreza à metade até 2020.

Reivindicações

Segundo o diretor da Caritas, Hugo Fasel, a crise econômica ameaça provocar uma nova onda de pobreza. Mensalmente 1800 pessoas estariam sendo descartada pela economia. “Apesar disso, não se quer discutir sobre pobreza na Suíça”, disse em entrevista coletiva em Berna.

Num documento de 12 páginas, a Caritas cobra dos setores político e econômico a elaboração de uma estratégia nacional contra a pobreza. A entidade pede também relatórios estaduais da pobreza e uma regulamentação nacional da ajuda social, que hoje é de competência dos estados e municípios.

A organização filantrópica reivindica mais apoio político a empresas da área social e a uma primeira formação profissional dos jovens. A própria Caritas pretende aumentar de 18 para 30 o número de seus mercados de produtos baratos e criar mil novos empregos para pessoas excluídas do mercado de trabalho.

A SKOS publicou na segunda-feira (4/1) um relatório em que propõe 31 medidas nas áreas de educação, saúde ou integração de estrangeiros para reduzir a pobreza. Entre elas, a conferência cita a criação de “empregos de nichos” como pontes para desempregados voltarem ao mercado de trabalho formal e a criação de novas “empresas sociais” municipais e estaduais.

A pobreza é feminina

Apesar das reivindicações da Caritas e da SKOS, a União Democrática de Centro (UDC, também chamada Partido do Povo Suíço – o maior do país), acha que a ajuda social na Suíça é generosa demais.

“Ela faz com que alguns beneficiários ganhem mais do que empregados mal pagos”, disse o deputado federal Toni Bortoluzzi. Várias lideranças da UDC propõem cortes na ajuda social ou que ela seja assumida pelo país de origem dos beneficiários.

Segundo a Caritas, quem cresce numa família pobre e com pouca formação corre mais risco de permanecer pobre. “A sociedade suíça é formada por camadas sociais pouco permeáveis”, disse Carlo Knöpfel, responsável pela política nacional da instituição.

Além da origem social, o nível de formação, o local de residência e o número de filhos influem sobre o risco de se tornar pobre. A nacionalidade, a saúde, a forma de família e o gênero podem aumentar esse risco. “A pobreza é feminina”, disse Knöpfel.

“Pobre vivem bem”

Antes mesmo de deslanchar, a campanha da Caritas já provoca críticas. A pobreza na Suíça é relativa e sempre haverá disparidades sociais, disse Thomas Held, diretor da Avenir Suisse, uma fundação financiada por 13 grandes empresas suíças e 70 doadores.

“Quando se observa o que ocorre no mundo, acho que na Suíça também muitos pobres vivem bastante bem”, disse Held ao jornal dominical Sonntag.

Sobre os 700 mil a 900 mil pobres citados pela Caritas, ele disse: “Se falamos de um décimo da sociedade, isso não é escandaloso. Em outras sociedades, essa fatia é de um terço ou mais.”

Segundo Held, considerando o PIB per capita da Suíça (70.272 francos em 2008), “que também reflete as condições gerais de vida, nos movimentamos no mais elevado nível de riqueza”.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

Na Suíça, é considerado pobre quem vive abaixo da chamada linha da pobreza, ou seja, quem tem renda mensal média inferior aos seguintes valores: 2.200 francos para solteiros; 3.250 para mãe solteira com filho; e 4.650 francos para um casal com dois filhos.

Segundo a Caritas, isso são entre 700 mil a 900 mil pessoas. Segundo a SKOS, cerca de 600 mil pessoas são atingidas pela pobreza.

Segundo o Departamento Federal de Estatísticas, em 2007 existiam cerca de 150 mil trabalhadores considerados pobres na Suíça.

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