STF inclui Lula em inquérito da Lava Jato sobre ‘organização criminosa’

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será investigado por suspeita de ter integrado um “grupo criminoso organizado” de políticos que desviou cifras milionárias da Petrobras, informou nesta quinta-feira o Supremo Tribunal Federal (STF).
O juiz Teori Zavascki autorizou incluir Lula em um dos inquéritos que investigará a participação de dirigentes do PT na rede de desvios, em paralelo a outras investigações contra líderes do PMDB e seu aliado, PP.
Lula já é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo juiz de primeira instância Sergio Moro, e em outro caso por suposta obstrução da Justiça, na 10ª Vara Federal de Brasília.
Mas esta é a primeira vez que é investigado por suspeita de ter integrado uma organização criminosa no âmbito do escândalo de corrupção na Petrobras.
A investigação sobre Lula resulta de um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que solicitou ao STF o fatiamento do inquérito principal da Lava Jato para agilizar os trabalhos.
O STF deferiu o pedido e dividiu as investigações por partidos. No caso do PT, a lista de suspeitos inclui Lula e vários ministros de seu governo (2003-2010) e de sua sucessora, Dilma Rousseff, a fim de desvendar uma trama montada para se perpetuar no poder.
Trata-se de “um grupo criminoso organizado, comandado e articulado por políticos integrantes de várias agremiações partidárias, com o objetivo de viabilizar o enriquecimento ilícito deles e de grupos empresariais, assim como de financiar campanhas eleitorais mediante desvios” de recursos públicos, expôs Janot em sua solicitação.
A Lava Jato investiga o maior caso de corrupção da história do Brasil, no qual políticos, empresários e funcionários da Petrobras cometeram fraudes envolvendo contratos entre a estatal e um grupo formado pelas maiores empreiteiras do país com o objetivo de desviar dinheiro para os partidos políticos.
Deflagrada em 2014, a Lava Jato já colocou na prisão vários empresários, banqueiros e dirigentes do PT, e se transformou em foco permanente de tensão para a classe política brasileira.
A esquerda afirma que por trás do impeachment de Dilma – destituída em agosto por manipular as contas públicas – existia a intenção de barrar as investigações, apesar de a Lava Jato ter atingido mais profundamente o próprio Partido dos Trabalhadores (PT).
Golpeado em cheio pelo escândalo do “Petrolão”, o PT sofreu uma grande derrota nas recentes eleições municipais, perdendo quase dois terços das prefeituras que controlava a partir de 2012.
“A autorização da investigação contra Lula constitui um passo a mais no sentido do que vem ocorrendo desde que (Lula) foi designado como ‘o chefe’ da organização criminosa”, disse à AFP Daniel Vargas, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.
“Há um número muito grande de políticos investigados, e se o STF aceitar as denúncias, isto terá um grande impacto político”, acrescentou Vargas.