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Suíço Joseph Deiss é eleito presidente da Assembleia Geral da ONU

Deiss assume o cargo em setembro. Keystone

O ex-ministro suíço Joseph Deiss foi eleito nesta sexta-feira (11/6) presidente da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Uma honra para a pessoa que, como ministro das Relações Exteriores, viveu a adesão da Suíça à Organização das Nações Unidas.

No plenário estava também a ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, que em 2003 sucedeu Deiss na equipe do governo suíço. Deiss vai suceder o diplomata líbio Ali Treki.

Deiss agradeceu a confiança depositada em sua pessoa e em seu país. “Os valores abraçados pela Nações Unidas ao ser fundada continuam sendo absolutamente relevantes”, disse o ex-ministro, que ocupou a presidência rotativa da Suíça em 1994.

De maneira formal, a presidência da Assembleia Geral é o cargo mais elevado da ONU. Ao contrário do secretário-geral Ban Ki-moon ou do Conselho de Segurança, o presidente da Assembleia Geral não tem poder de decisão.

Deiss irá assumir o cargo juntamente com o início da 65ª sessão em 14 de setembro. Assim ele retorna ao lugar estreitamente ligado a um dos mais importantes sucessos da sua carreira política: o “sim” do eleitor helvético no plebiscito que aprovou a adesão da Suíça à Organização das Nações Unidas.

Deiss já descreveu o momento em que a bandeira vermelha com a cruz branca foi içada na sede da ONU em Nova Iorque, em setembro de 2002, como um dos momentos mais bonitos da sua carreira.

Como ministro das Relações Exteriores, Joseph Deiss apoiou abertamente a campanha pelo “sim” à adesão à ONU. Um dos seus mais fortes opositores, o político Christoph Blocher, se tornou posteriormente colega no colegiado de ministros da Suíça. Ele havia advertido contra a perda de soberania, neutralidade e independência da Suíça caso isso ocorresse.

Homem de centro

Chamar a atenção não é uma característica de Deiss. Como representante do Partido Democrata Cristão (CVP, na sigla em alemão) ele foi no governo um homem de centro.

Muitos críticos consideram o friburguense um político sério e competente, mas sem cores ou contornos e desprovido de carisma ou visões. Ele seria um homem sem paixões ou características.

Deiss, que antes de ser ministro foi professor de economia, pode parecer um pouco duro ou inacessível. Porém, por trás dessa imagem, esconde-se alguém com um bom senso de humor seco, quando há oportunidade de demonstrá-lo.

O mediador

Deiss é uma pessoa que se considera um mediador, um construtor de pontes, que analisa as coisas nos seus diferentes aspectos e que procura compromisso e consenso. Ele é equilibrado e discreto. Também é considerado como um bom coordenador de negociações. São características que poderão contribuir ao exercício do seu cargo na ONU.

O fato de Deiss analisar o mundo através de mais de um ponto de vista pode estar relacionado às suas origens. Ele vem de Friburgo, onde está o chamado “Röstigraben” (n.r.: o Fosso do Rösti, o prato típico da Suíça alemã), a fronteira linguística entre alemão e francês. As duas culturas e mentalidades marcaram sua infância. Além disso, ele fala fluentemente inglês.

Sabe-se que a procura por compromisso e consenso é a principal característica do sistema político suíço. Após a nomeação a candidato a presidente da Assembleia Geral, Deiss declarou que, sobretudo, os valores tradicionalmente suíços como neutralidade, bons serviços e a capacidade de firmar compromisso levaram a balança a pender ao seu favor.

Deiss descreveu o papel do presidente como significativo e comparou suas tarefas com as de um árbitro no esporte, alguém que precisa mediar de forma neutra entre as equipes.

Sucesso diplomático da Suíça

A eleição de Deiss pode ser considerada um sucesso diplomático da Suíça. Durante seu mandato, ele não irá defender os interesses da sua pátria. Essa função continuará a ser cumprida pelo embaixador suíço na ONU, Paul Seger.

O presidente da Assembleia Geral tem a função de ser um mediador independente, neutro e cuja primeira prioridade são os objetivos da comunidade internacional. Ele não tem poderes especiais para representar interesses nacionais.

Mas é claro que o sistema de valores da Suíça, simbolizado também por Deiss, estará presente de certa forma. Importante para ele é mostrar suas capacidades de mediador, capaz de ajustar compromissos nos trilhos, sobretudo no sentido de levar adiante temas considerados controversos entre os diferentes blocos na ONU.

Reforma da ONU, objetivos do milênio, economia

Como tarefas importantes da 65ª Assembleia Geral, Deiss citou em entrevistas dadas à imprensa helvética após sua nomeação, dentre outros, a reforma da ONU, o debate sobre as “metas do milênio” e questões econômicas.

Em uma entrevista aos jornais zuriquense Tages-Anzeiger e bernense Der Bund, Deiss esclareceu que o presidente da Assembleia Geral pode ter um importante papel em questões como, por exemplo, o processo de reforma.

Como suíço, ele estará em uma boa posição para costurar compromissos. Por um lado, a Suíça está fortemente comprometida com as reformas. “Por outro, não temos na ONU grandes aspirações como as dos países que aspiram se tornar membros permanentes do Conselho de Segurança.”

Ao ser questionado sobre a possibilidade de a interdição recente dos minaretes na Suíça poder minar seu campo de manobras, como a de forjar compromissos, Deiss respondeu que pretende angariar para a Suíça simpatias durante o ano em que estará na presidência.

Apoio da missão suíça

O embaixador Paul Seger acredita que a influência da Suíça na ONU deve crescer com a escolha de Deiss. O país irá perceber mais fortemente seu papel de construtor de pontes.

Porém, Seger é claro em dizer que Deiss não irá defender os interesses da Suíça, mas sim garantir que a Assembleia Geral possa cumprir suas tarefas.

“A missão suíça dará apoio a Deiss dentro das suas possibilidades”, explica o diplomata. Ele calcula que a missão irá funcionar como um centro de recepção a outros países da ONU na solução de determinadas questões. Possivelmente, a embaixada terá um pouco mais de trabalho.

Rita Emch, swissinfo.ch, Nova Iorque
(Adaptação: Alexander Thoele)

Joseph Deiss nasceu em 1946, em Friburgo. Ele é casado e pai de três filhos já adultos.

O político do Partido Democrata Cristão foi eleito para a Câmara dos Deputados em 1991. Ele foi eleito membro do governo federal em 1999, onde assumiu primeiramente o posto de ministro das Relações Exteriores. Em 2003, assumiu o posto de ministro da Economia. No verão de 2006, Deiss pediu para se retirar do governo federal.

De 1984 até sua eleição ao governo federal em 1999, ele atuou como professor de economia na Universidade de Friburgo.

De 1993 até 1996, Deiss foi o controlador oficial de preços na Suíça.

Dentre os sucessos durante seu mandato como ministro das Relações Exteriores: o “sim” em maio de 2000 do eleitor aos acordos bilaterais com a União Europeia e, em 2002, o “sim” para a adesão da Suíça à ONU.

Como ministro da Economia: o “sim” do eleitor em 2005 ao tratado de extensão da livre circulação com a União Europeia.

A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) é o órgão inter-governamental, plenário e deliberativo da Organização das Nações Unidas.

Ela é composta por todos os países membros, tendo cada um direito a um voto. No que respeita ao processo de deliberação.

As questões importantes são votadas por maioria de dois terços dos membros presentes e votantes enquanto as questões restantes são votadas por maioria simples.

É um fórum político que, igualmente, supervisiona e coordena o trabalho das agências.

A AGNU reúne-se uma vez por ano em sessão ordinária que começa na terceira terça-feira do mês de setembro na sede da ONU, em Nova Iorque.

Sessões especiais podem ser convocadas a pedido do Conselho de Segurança, da maioria dos membros das Nações Unidas ou ainda de um só membro com a anuência da maioria.

A AGNU, seguindo as determinações da resolução “Unidos para a Paz”, também pode ser convocada em sessão especial de emergência, com o prazo de 24 horas de antecedência, a pedido do Conselho de Segurança, por decisão da maioria dos membros das Nações Unidas ou de um só membro com a anuência da maioria. (Texto: Wikipédia em português)

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