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Antissemitismo: cada vez mais judeus pensam em emigrar

Entrada de uma sinagoga na Suíça
Polícia vigiava a entrada de uma sinagoga na semana seguinte ao ataque antissemita contra um homem de 50 anos, em 2024. Keystone / Michael Buholzer

O antissemitismo não é o principal motivo pelo qual a comunidade suíça em Israel cresce. No entanto, cada vez mais judias e judeus estão pensando em emigrar por causa disso.

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A comunidade de suíços em Israel cresce continuamente em várias centenas de pessoas por ano. Em 2023, 833 suíços se juntaram a ela.

Nem todas as pessoas registradas nessa estatística emigraram para Israel, pois a comunidade suíça no país também cresce devido aos nascimentos de cidadãos suíços. “No entanto a emigração também aumenta”, afirma Ralph Steigrad em entrevistaLink externo ao portal “Audiatur”.

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Steigrad representa seus conterrâneos no exterior na Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSELink externo), e menciona informações do consulado suíço em Israel. O Ministério suíço das Relações Exteriores (EDALink externo) não comenta esses dados.

Hostilidade como motivo de emigração?

“Eu teria esperado que, após 7 de outubro, muitos suíços em Israel retornassem à Suíça”, declarou Steigrad. No entanto, segundo o consulado suíço em Tel Aviv, a imigração para Israel até cresceu um pouco. “Com o aumento do antissemitismo na Europa, a comunidade suíça em Israel provavelmente continuará a crescer”, especula.

O aumento do antissemitismo na Suíça está levando pessoas judias a deixarem o país? Na França, por exemplo, há anos mais pessoas judias emigraram para Israel porque não se sentem mais seguras devido a ataques antissemitas e discriminação. Na Suíça, o fenômeno seria inédito nessa escala. O Depto. Federal de Estatísticas (BfSLink externo) publicou as estatísticas de 2024 em 28 de março.

“Suíça não é mais especial”

Existem novos números sobre o antissemitismo e um estudo publicado em 2024Link externo mostra como ele cresceu desde 7 de outubro de 2023. “O antissemitismo na Suíça se impôs perceptivelmente contra qualquer resistência. O que antes era pensado e dito em segredo, veio à tona”, afirma o relatório.

“Sempre se pensou que a Suíça era especial quando se tratava de antissemitismo, que era diferente dos outros países europeus”, diz Jonathan Kreutner, secretário-geral da Federação das Comunidades Israelitas da Suíça (SIGLink externo). “Isso não é mais verdade.”

Terrorismo desperta ódio

Xingamentos, cuspidas, agressões físicas e ataques contra a vida eram vistos até agora como “acontecimentos distantes do exterior”, segundo o relatório da SIG sobre antissemitismo em 2024. Hoje, são uma realidade.

Organizado por temas, o relatório anual sobre antissemitismo fornece uma visão geral cronológica dos incidentes registrados. Em agosto de 2024, ele se destacou por apresentar todo o espectro de ataques contra a comunidade judaica na Suíça.

Em Davos, dois homens atacam um jovem judeu, batem em seu rosto, cospem nele e gritam “Free Palestine”. Em um teleférico, um homem diz a uma família judaica: “Uma verdadeira praga, como gafanhotos.” Em Zurique, alguém tenta incendiar uma sinagoga. No cantão de Aargau, um jogador de futebol diz a uma equipe judaica: “Vocês deveriam ser todos queimados, seus judeus de merda!”

Em universidades, nas ruas e em bares alternativos, uma frase está sendo repetida, interpretada por muitos como um chamado à erradicação de Israel: “From the river to the sea, Palestine will be free” (“do rio ao mar, a Palestina será livre”, em tradução livre), ao mesmo tempo que as ações de Israel em Gaza são comparadas ao Holocausto.

“Em 2024, vemos a maior onda de incidentes antissemitas já registrada na Suíça”, afirma Jonathan Kreutner. Ele também notou que o maior número de ataques contra pessoas judias na Suíça ocorreu logo após os atentados terroristas do Hamas em 2023, antes mesmo da ofensiva de Israel em Gaza gerar antipatia contra Israel em partes da população.

“Na época, todos concordavam que judias e judeus eram as vítimas”, diz ele, “e justamente isso foi o que alguns usaram como pretexto para expressar seu ódio latente contra essas pessoas.”

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Outro ponto relevante: antes de 2023, os autores do estudo sobre o antissemitismo ainda conseguiam associar os picos de incidentes antissemitas a eventos específicos que geravam atenção ou ressentimento, desencadeando reações antissemitas.

Ataque a faca em Zurique

Desde então, alguns fatores provocam o aumento do antissemitismo. “Começou com a pandemia de Covid-19, depois veio a guerra na Ucrânia e, desde 7 de outubro de 2023, os atentados do Hamas e a guerra no Oriente Médio dominam como fatores desencadeantes.”

Em particular, um ataque a faca contra judeus cometido em Zurique por um jovem de 15 anos radicalizado, de origem tunisiana, no início de março de 2024, foi um divisor de águas para muitos. Um pai de família sobreviveu ao ataque por sorte.

Depois disso, muita coisa mudou na vida das judias e judeus suíços. “Ser reconhecido como judeu hoje traz um risco muito alto para muitos”, afirma o estudo.

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Jonathan Kreutner destaca que as autoridades e a política suíça reagiram rápida e decisivamente ao aumento do antissemitismo. O ministro suíço do Interior, Beat Jans, condenou o ataque a faca em Zurique “com uma clareza que nunca ouvi antes”, diz Kreutner. O presidente da Confederação Suíça, Albert Rösti, encontrou “as palavras certas” em uma cerimônia de luto. “Compartilhamos sua dor, compartilhamos seu choque”, disse Rösti em nome da Suíça após 7 de outubro.

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Os custos de segurança também foram rapidamente ajustados à nova realidade, acrescenta Kreutner.

Vontade de deixar o país

Apesar dessas reações, a sensação de segurança das judias e judeus na Suíça se deteriorou, segundo um estudo da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW). Um reflexo disso é que mais pessoas judias pensam em deixar o país.

Esse é um dos chamados “comportamentos de evitação” identificados pelos criminologistas da ZHAW entre a população judaica. Muitas pessoas judias escondem sua identidade – e pensam em emigrar.

A parcela de judias e judeus suíços que consideram emigrar cresceu 10% em apenas um ano, chegando a 28,4%.

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No entanto, até agora não houve um êxodo em massa, como após a Guerra dos Seis Dias em 1967 ou o crescimento econômico de Israel no início dos anos 2000. O crescimento contínuo da comunidade suíça em Israel se deve a vários fatores.

Por um lado, a migração dessa comunidade é bastante circular, com muitas pessoas retornando após algum tempo. Por isso, o número de judias e judeus na Suíça permanece estável em cerca de 18. mil, apesar da emigração contínua.

Com exceção de 2023, a migração líquida nos últimos anos sempre foi inferior a 100 pessoas.

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“Cada um tem sua própria história”, diz Ralph Steigrad ao Audiatur Online. “Alguns se mudam por razões profissionais, outros se casam em Israel, alguns se sentem cultural ou religiosamente ligados ao país. E alguns imigrantes são judeus ultraortodoxos suíços que têm pouco contato com o restante da comunidade.” O grupo é muito diversificado.

Além disso, a taxa de natalidade entre as suíças em Israel é mais alta do que em outros lugares, como mostra a pirâmide populacional dessa comunidade. Há mais crianças em comparação com a média de outros grupos de suíças e suíços no exterior.

Portanto, o principal fator de crescimento estatístico ainda está entre os próprios emigrantes e não é uma consequência óbvia do aumento do ressentimento contra judias e judeus.

No entanto, esse ressentimento “se consolidou em um nível elevado”, afirma a Federação das Comunidades Israelitas da Suíça. Assim como nos anos anteriores, a organização exige medidas mais eficazes contra o antissemitismo.

Adaptação: Flávia C. Nepomuceno dos Santos

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