Trump promete aos americanos que política tarifária terá final feliz

“No final, será algo maravilhoso”, disse nesta quinta-feira (10) o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre sua ofensiva tarifária destinada a trazer de volta a produção para os Estados Unidos, apesar de envolver um “custo”, “problemas” e instabilidade nos mercados.
“Haverá um custo de transição e problemas de transição”, reconheceu durante uma reunião de seu gabinete.
“Mas no final, será algo maravilhoso”, acrescentou Trump, que tenta reorganizar a economia mundial obrigando os fabricantes a se instalarem nos Estados Unidos.
Minutos depois, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que não viu “nada incomum hoje” nos mercados.
Mas ao fim do dia, Wall Street fechou com fortes quedas: o índice Dow Jones perdeu 2,50%, o tecnológico Nasdaq caiu 4,31% e o ampliado S&P 500 recuou 3,46%, ao contrário das bolsas europeias e asiáticas, que fecharam no azul.
O petróleo e o dólar também caíram bruscamente em meio a temores de uma desaceleração global da atividade. O ouro atingiu um novo recorde histórico.
Na quarta-feira, o presidente americano deu uma guinada de 180 graus para concentrar o ataque na China e dar um pequeno alívio aos demais parceiros comerciais dos Estados Unidos que, ainda assim, continuam sujeitos a tarifas aduaneiras adicionais de 10% sobre suas exportações para a maior potência mundial.
Diante da decisão de Pequim de responder à altura, Trump anunciou na quarta-feira que a sobretaxa sobre os produtos chineses será de 125%.
Nesta quinta-feira, a Casa Branca esclareceu, por meio de um decreto, que isso representa um aumento das tarifas aduaneiras para 145%, uma vez que os 125% se somam aos 20% já aplicados à China no âmbito do combate ao tráfico de fentanil, um opioide sintético que causa estragos nos Estados Unidos.
E detalha os termos: a sobretaxa afetará a maioria dos produtos chineses, mas não todos. Estão isentos, por exemplo, os semicondutores. E os novos valores se somam às tarifas existentes antes de Trump retornar à Casa Branca em janeiro.
– “Em pé de igualdade” –
Isolada em sua luta contra a administração norte-americana, Pequim continua enfrentando Washington. Promete “lutar até o fim”, sem, no entanto, fechar a porta para um diálogo.
“A porta está aberta às negociações, mas esse diálogo deve ocorrer em pé de igualdade e com base no respeito mútuo”, advertiu o Ministério do Comércio chinês.
Enquanto aguarda um possível acordo, Pequim anunciou que reduzirá o número de filmes norte-americanos exibidos em seu território.
Depois que Trump suspendeu por 90 dias suas chamadas “tarifas recíprocas” para quase 60 parceiros comerciais, incluindo a União Europeia, o bloco suspendeu sua resposta para “dar uma chance às negociações”, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Caso as negociações não avancem, a UE colocará em vigor as contramedidas anunciadas sobre os produtos norte-americanos.
O principal assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, declarou à CNBC que a taxa mínima universal de 10%, que entrou em vigor no sábado, provavelmente será mantida.
Segundo ele, Washington precisava “criar pressão suficiente” sobre seus parceiros para repatriar as atividades industriais para os Estados Unidos.
– “É outro mundo” –
Nesta quinta-feira, a Asean, bloco de dez países do sudeste asiático, comprometeu-se a “não impor medidas de retaliação” contra os Estados Unidos.
O Vietnã, atingido por uma tarifa de 46%, também afirmou que comprará mais produtos norte-americanos em troca de um acordo.
Segundo Donald Trump, mais de 75 países já demonstraram interesse em negociar com os Estados Unidos.
Na noite de terça-feira, Trump disse que muitos líderes estrangeiros estão “beijando sua bunda” para chegar a um acordo.
Mas, segundo o economista e prêmio Nobel Joseph Stiglitz, os países não sabem “como negociar” com os Estados Unidos porque “não há nenhuma teoria econômica por trás do que ele [Donald Trump] está fazendo”.
“É outro mundo”, comentou ele em entrevista ao programa independente Democracy Now!
A ofensiva tarifária obriga uma movimentação no cenário comercial.
A UE anunciou nesta quinta-feira que os 27 países-membros iniciarão negociações com os Emirados Árabes Unidos para um acordo de livre comércio.
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