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Quando a política ferve, a arte desaparece e o clima empaca 

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, ao centro, conversa com congressistas em uma sessão para analisar um projeto de lei que altera as diretrizes para a determinação da pena em certos crimes, incluindo liderança de um golpe de Estado, pelo qual o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado. KEYSTONE/SWISSINFO

Da controversa lei que pode reduzir drasticamente a pena de Jair Bolsonaro, passando pelo audacioso roubo de obras de Matisse em São Paulo, até a crítica severa à paralisia da COP30 feita na Tribune de Genève: a imprensa suíça destaca um Brasil onde crises políticas, falhas de segurança e impasses ambientais se entrelaçam e repercutem além das fronteiras. 

Confesso que, ao reunir esta edição, tive a sensação de acompanhar um país pulsando em várias frequências ao mesmo tempo. De um lado, Brasília tenta redefinir o destino judicial de Jair Bolsonaro; de outro, São Paulo encara um roubo digno de roteiro cinematográfico; e, no meio disso tudo, a COP30 expõe ao mundo o quanto ainda estamos longe de uma governança climática à altura da crise. Convido você a percorrer comigo esse mosaico de histórias que, vistas de fora, ajudam também a entender melhor o Brasil de dentro.

Bolsonaro entre alívio judicial e pedido de hospitalização 

A situação jurídica e pessoal de Jair Bolsonaro dominou parte da cobertura suíça da quarta-feira (10/12). Segundo o Le MatinLink externo, a Câmara dos Deputados no Brasil aprovou ao amanhecer uma proposta de lei que pode reduzir drasticamente a pena do ex-presidente, condenado a 27 anos por tentativa de golpe de Estado. Caso o texto também seja validado pelo Senado, Bolsonaro poderia cumprir pouco mais de dois anos de prisão, em nome de uma suposta “pacificação” nacional. 

RTNLink externo ressalta que a iniciativa legislativa inclui também a concessão de liberdade condicional a 141 apoiadores condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. O portal relata que os debates foram marcados por tensão e interrupções no plenário, com a expulsão do deputado Glauber Braga após ele denunciar uma “ofensiva putschista” e ocupar simbolicamente a cadeira da presidência da Câmara. 

Enquanto isso, o Le TempsLink externo destaca um outro front: o da saúde do ex-chefe de Estado. Os advogados de Bolsonaro pediram ao Supremo Tribunal Federal que ele seja transferido imediatamente para um hospital em Brasília, onde deveria passar por duas cirurgias — um bloqueio anestésico do nervo frênico para tratar um soluço persistente e a correção de uma hérnia inguinal. Segundo os laudos citados pelo jornal, o caso exige anestesia geral e de cinco a sete dias de internação. Bolsonaro está atualmente detido na sede da Polícia Federal, em Brasília, numa cela com minibar, ar-condicionado e televisão, após ter violado as condições de sua prisão domiciliar. 

Fonte: Le MatinLink externoRTNLink externo e Le TempsLink externo, 10/12/2025 (em francês) 

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Quadro “Baigneuses à la tortue” (1907/08), do pintor francês Henri Matisse, sendo removido da parede da Fundação Beyeler, em Riehen, na Suíça, em 2024. Keystone / Georgios Kefalas

Furto de gravuras de Matisse e Portinari expõe falhas de segurança em São Paulo 

O roubo de oito obras de Henri Matisse e cinco de Candido Portinari na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, recebeu ampla atenção da imprensa suíça. Segundo o Le MatinLink externo, a polícia brasileira prendeu um dos dois suspeitos após identificá-lo por meio da análise das imagens de vigilância que registraram a ação no domingo (7/12). Os ladrões, armados, invadiram a biblioteca, renderam uma funcionária e um casal de visitantes idosos e fugiram com as obras guardadas em um saco de tecido, antes de abandonar o veículo utilizado no crime, que agora passa por perícia técnica. As imagens divulgadas mostram os suspeitos descarregando quadros de uma pequena caminhonete em plena luz do dia. As obras roubadas de Matisse fazem parte do célebre álbum Jazz, apresentado na exposição “Du livre au musée”, organizada com o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e encerrada justamente no dia do roubo. 

O portal WatsonLink externo confirma o roubo das treze peças — oito gravuras de Matisse (1869-1954) e cinco de Portinari (1903-1962) — e destaca que os criminosos foram identificados pelas câmeras da própria biblioteca. A exposição reunia livros raros e obras das décadas de 1940 e 1950, e incluía colagens de Jazz, publicadas em 1947 e consideradas de valor “inestimável”, segundo o crítico Tadeu Chiarelli. O site lembra que um exemplar desse álbum pertence a um conjunto de apenas 300 no mundo, e cita que trabalhos de Matisse alcançaram mais de 2,5 milhões de dólares em leilões recentes na Christie’s. As obras de Portinari, por sua vez, eram ilustrações para o livro Menino de Engenho (1959), também consideradas raras e de difícil comercialização. 

A matéria do Watson também contextualiza o episódio dentro de uma série de roubos de arte de grande repercussão internacional, mencionando o furto de joias da coroa francesa no Museu do Louvre, cometido em outubro por um comando que foi detido dias depois — embora as peças sigam desaparecidas. No caso de São Paulo, além do suspeito preso inicialmente, a polícia deteve um segundo homem ao longo do dia, enquanto segue a busca por pistas que possam levar ao paradeiro das obras. 

Fonte: Le MatinLink externoWatsonLink externo, 08/12/2025 (em francês) 

Alcançar uma governança climática mais eficaz 

Em uma crônica no Tribune de GenèveLink externo, Olav Kjørven, Ex-Secretário-Geral Adjunto das Nações Unidas, afirma que a experiência na COP30, no Brasil, deixou evidente a fragilidade da governança climática global. As negociações, baseadas no consenso unânime, ficaram praticamente paralisadas — a ponto de o texto final nem sequer mencionar os combustíveis fósseis. O autor destaca que, ao contrário das áreas de paz e segurança, não existe na ONU um órgão permanente capaz de exigir dos países ações mais ambiciosas para reduzir emissões. Mesmo decisões recentes da Corte Internacional de Justiça, embora importantes, não têm força coercitiva. 

Diante desse vazio institucional, cresce o apelo — de governos, cientistas, jovens e povos indígenas — por uma reforma profunda da governança climática. Entre as propostas está a criação de um Conselho do Clima, nos moldes do Conselho de Segurança. Kjørven lembra que a Carta da ONU pode ser revista pelo mecanismo previsto no artigo 109, nunca utilizado, mas que poderia ser ativado com apoio de dois terços da Assembleia Geral e nove membros do Conselho de Segurança. Para ele, esse processo poderia liberar a energia política necessária para construir uma governança climática mais eficaz, inclusiva e justa nas próximas décadas. 

Fonte: Tribune de GenèveLink externo, 12/12/2025 (em francês) 

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