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Quando o tempo esfria

Médico da prefeitura de Zurique trata de morador de rua, viciado em heroína. Keystone

Na Suíça, um dos países mais ricos do mundo, existem também moradores de rua que morrem de frio.

Os governo locais e também organizações beneficentes montam um sistema de ajuda quase perfeito, onde inclusive sobram camas e recursos. “Na Suíça só fica na rua quem quer”, afirmam as autoridades.

Assistentes sociais em alerta. Todo os dias, a partir das sete e meia da manhã, grupos de dois a quatro funcionários do grupo de ação “Segurança, Intervenção e Prevenção” (SIP) da prefeitura de Zurique saem pelas ruas da cidade à procura de problemas. Seu trabalho é ajudar na solução dos conflitos sociais dos habitantes, inclusive daqueles que não tem mais um teto para morar.

Em grupos de dois a quatro, eles visitam todos os bairros e, sobretudo, as ruas consideradas “problemáticas”, ou seja, locais em Zurique por onde perambulam indigentes, drogados, prostitutas e crianças de rua.

“Agora no inverno nosso trabalho duplica. Andamos por todos os lados procurando moradores de rua. Quando encontrarmos algum, oferecemos sacos de dormir e cobertores. Depois perguntamos se ela quer ajuda para ir a um alojamento de desabrigados. Se ela se recusa, analisamos sua situação. Se percebermos que ela está bêbada, drogada ou enfraquecida pela fome, nós a forçamos a ir para um albergue. Nossa obrigação é impedir que alguém morra de frio nas ruas de Zurique”, explica Michael Herzig, funcionário encarregado do tema “drogas” na prefeitura de Zurique.

Indigência é responsabilidade do município

Na Suíça e em toda a Europa o inverno começou oficialmente no dia 22 dezembro. Enquanto muitos suíços já começaram seus preparativos para festejar os últimos dias do ano, alguns deles preocupam-se em saber onde vão dormir no dia seguinte.

Não existem estatísticas oficiais sobre o número de indigentes que vivem nas ruas das grandes cidades suíças. Problemas sociais como a pobreza ou indigência são responsabilidade dos governos locais e não do governo federal. Um morador de rua tem de ser ajudado, dentro da lei, pela comuna onde ele nasceu. Por isso, na Suíça, as políticas sociais podem ter enormes diferenças.

O exemplo de Berna, a capital

“Em Berna nós contamos 25 indigentes. Tratam-se de pessoas que se recusam a ir para os nossos albergues e preferem ficar na rua”, explica Markus Nafzger, coordenador no Departamento Social da cidade de Berna.

Para combater o problema da indigência, a prefeitura assinou um contrato com cinco organizações beneficentes como o Exército da Salvação e o “Ação Cama Quente”, oferecendo por quatro anos 2,4 milhões de francos suíços (US$ 1,7 milhões) para financiar abrigos de emergência, albergues para moradores de rua e programas de ajuda.

Juntamente com a verba empregada, Berna implantou a partir de 2001 o programa “Indigência” que inclui um sistema complexo de quatro fases. “Para essas quatro fases nós dispomos de 190 camas”, explica Nafzger.

Quatro fases contra a indigência

Na primeira o morador de rua tem direito a receber uma cama num abrigo de emergência. Esse local ele deve abandonar no dia seguinte, pela manhã. A segunda fase é o albergue para moradores de rua, onde essas pessoas podem morar em grupos e tem todo o conforto necessário, como possibilidade de lavar as roupas, refeições diárias e estrutura para a higiene.

A terceira fase do programa “Indigência” é a disponibilização temporária de apartamentos do governo municipal, onde moradores de rua dividem com no máximo duas pessoas. “Lá eles podem recuperar a capacidade de administrar um lar, com toda as responsabilidades inerentes”, completa Nafzger. A última fase é a “moradia monitorada”, quando o morador de rua assina seu próprio contrato de aluguel, garantido pelo governo. Nesse caso, a pessoa só recebe visitas esporádicas de assistentes sociais, que ajudam na solução de qualquer problema que possa surgir, como conflitos com os vizinhos.

Verbas não impedem que alguém morrra

A boa estrutura de apoio às pessoas necessitadas, não impede, porém, que pessoas morram. O último caso ocorreu no natal de 2001, quando uma mulher de sessenta anos morreu em Lausanne devido ao frio. Apesar da cidade oferecer mais de 80 vagas em abrigos de emergência, não utilizados, a moradora de rua tinha um passado de prisões, alcoolismo e dependência da ajuda pública. No meio da noite, ela não havia encontrado o endereço do albergue mais próximo e resolveu se alojar num banheiro público. No dia seguinte, um pedestre a encontrou congelada.

Se a falta de recursos não é um problema na Suíça, para resolver problemas sociais, 30 mil dependentes de drogas pesadas como a heroína são atualmente o grupo onde o risco de indigência é maior.

“Depois que eu terminei a terapia para livrar-me da heroína, não podia mais morar em casa. Cheguei a passar dois meses com a minha avó e a minha irmã. Então procurei amigos e conhecidos. Agora tenho de me virar, pois não posso mais contar com ninguém. Se chego tarde demais no abrigo, tenho de dormir nas ruas”, conta Markus, um jovem suíço de Berna, que vive atualmente o calvário de um dependente de drogas.

swissinfo/Alexander Thoele

– Em cada grande cidade na Suíça existem moradores de rua. Pela lei, eles devem ser ajudados pelas comunas de onde são originários. Em muito casos é a própria cidade que têm de assistí-los.

– Apesar de cada cidade ter sua própria política contra a indigência, o governo é dependente das instituições de caridade, que mantém os albergues para moradores de rua.

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