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Eletrohipersensibilidade: quando as ondas magnéticas provocan dor

Emilie, eletrohipersensível(EHS), em Ambert, França, no dia 28 de maio de 2015 afp_tickers

Para alcançá-los, esqueça internet ou telefone e deixe o telefone desligado e dentro do carro antes de visitá-los: pessoas como Emilie e Jean-Jacques, eletrohipersensíveis(EHS), só conseguem sobreviver mantendo distância de ondas eletromagnéticas.

Atrás das grossas paredes de pedra de sua casa sem eletricidade, Emilie se protege com portas e janelas. Seu único horizonte: as verdes colinas do Maciço Livradois-Forez (centro da França), onde se refugiou. Mas seu equilíbrio é precário. Quando seus vizinhos usam o smartphone ou se conectam à Internet, ela tem que se esconder na floresta mais próxima.

A vida desta ex-arquiteta ficou em pedaços no dia em que seu corpo deixou de suportar as ondas emitidas pela tecnologia moderna. “Eu comecei a ter dores de cabeça muito violentas, náuseas, perda de habilidades motoras. Conseguia sentir a presença de antenas a dois quilômetros e meu cabelo caía em punhados”, contou esta mãe de família de 48 anos, cuja frágil silhueta parece estar pendurada num fio.

Cada exposição rendia a Emilie dolorosas contrações dos músculos das extremidades, perdas de memória imediata e problemas de concentração, tonturas e até mesmo queimaduras no corpo.

“Estes problemas não são psiquiátricos, são muito reais”, garante o presidente do Centro de Pesquisa e Informação sobre Raios Eletromagnéticos (Criirem), Pierre Le Ruz, que as considera uma “doença de adaptação” ao ambiente em mudança.

– No dicionário Larousse –

“Nosso tecido cerebral contém magnetossomos, ímãs naturais que reagem quando passamos por um campo elétrico. Eles transmitem informações ao cérebro. Algumas pessoas interpretam isso como um sinal de estresse e liberam hormônios que podem causar problemas de comportamento e até mesmo doenças como leucemia, linfoma ou tumores”, diz este especialista em danos eletromagnéticos.

Jean- Jacques, que vive perto de Emilie em um pequeno chalé, demorou para conseguir uma explicação para os problemas que sentia. Como não conseguiu uma resposta na França, viajou para a Alemanha, onde conseguiu ser diagnosticado. Desde então, sua vida virou de ponta-cabeça. “Eu tinha uma bela casa, quatro filhos, um emprego. Perdi tudo”, relatou este ex-professor da rede pública.

Constatada e descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), esta doença é considerada uma deficiência na Suécia e uma doença na Inglaterra. Na França, não existe muita informação a respeito da condição.

O conceito, que ainda divide os especialistas, entrou para o dicionário Larousse em maio. “Um sinal forte” para as associações de defesa dos EHS, que acreditam que 3% da população mundial seja afetada pela condição.

– ‘Abandonados’ –

Os mais intolerantes se veem fadados ao isolamento. Alguns são sem-teto ou vivem escondidos em cavernas.

Emilie e Jean-Jacques se consideram “em prisão domiciliar. “Como um cachorro cuja coleira solta uma descarga elétrica quando passa por um determinado perímetro”, disse Jean-Jacques, 57 anos e rosto desfigurado.

Sua única saída semanal se limita ao mercado de Ambert, a cerca de 15 quilômetros. Lá, é recebido com um casaco ou poncho para protegê-lo de radiação.

“Estamos abandonados pela História”, lamentou Emilie, que denuncia a vontade “criminosa” do governo de levar a cobertura de telefonia móvel a todo o território.

“É um fenômeno que se desenvolve cada vez mais, agora já existem crianças eletrohipersensíveis”, ressaltou a eurodeputada Michèle Rivasi, que faz campanha para a criação de abrigos na França como já existe na Suíça ou Estados Unidos.

“Nós poderíamos fazer até mesmo áreas livres em cada estado, integrá-las ao planejamento urbano. Poderíamos ter bairros sem antenas”, acredita.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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