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Embate entre presidente e Congresso gera crise política em El Salvador

Soldados circulam pela área externa da Assembleia Legislativa em San Salvador, enquanto seguidores do presidente Nayib Bukele pressionam deputados para conseguir mais investimentos em segurança afp_tickers

El Salvador amanheceu nesta segunda-feira (10) em uma forte crise política, após o presidente Nayib Bukele ter entrado no Congresso escoltado por forças militares no último domingo e dado um ultimato aos deputados para que aprovem um polêmico crédito.

Em uma ação nunca antes vista na vida política do país, soldados do exército fortemente armados e policiais antimotim ingressaram no chamado “Salão Azul” da Assembleia Legislativa, antes que Bukele chegasse ao local para falar com os membros da Casa.

O conflito surgiu porque os deputados negaram um pedido de empréstimo de segurança de US$ 109 milhões ao Executivo, que requer o valor para a compra de equipamento para o exército e para a polícia, como parte de um plano para conter gangues violentas.

“Estamos diante de uma crise política que pede profundas soluções estruturais, porque em meio a tudo isso há as pessoas que não suportam mais a classe política”, alertou o analista político Dagoberto Gutiérrez.

Após sua insólita visita ao Congresso, Bukele se dirigiu aos seus seguidores que estavam fora do recinto parlamentar e lançou um ultimato aos deputados, dando-lhes uma semana para aprovar o empréstimo.

O presidente do Congresso, Mario Ponce, anunciou nesta segunda que suspendeu até nova ordem a plenária convocada para esse assunto e cujo único ponto a tratar era a provação desse crédito.

A decisão foi duramente criticada por Bukele.

“Os deputados estão ofendidos (pelo ocorrido no domingo). Castigarão o povo ao não aprovar o empréstimo que prometeram votar hoje. Mentiram novamente, não é de se estranhar. Fazem isso sempre”, escreveu o presidente no Twitter.

O deputado Jorge Shafick Handal, qualificou Bukele como “autoritário” e lembrou que há aspectos desse empréstimo “que devem ser revistos” antes de ser aprovado.

“Não é com capricho ou autoritarismo que as coisas serão feitas”, ressaltou Handal.

Depois que soldados fortemente armados estiveram no local na véspera, nesta segunda os arredores do Congresso estavam como nos dias normais, sem militares e com as ruas tranquilas.

“Foi assustador ver tantos soldados e policiais no prédio da Assembleia Legislativa. Parecia um golpe de Estado, dá medo ver essas situações”, disse Marcos Salguero, que gerencia um restaurante próximo ao prédio do governo, à AFP.

– Repúdio ao Congresso –

Segundo Gutiérrez, o conflito pontual será solucionado com a aprovação do empréstimo. No entanto, há uma advertência: um “povo que expressa ódio e até rancor aos deputados, algo que o governo utiliza”.

De acordo com o analista, a população pensa sobre os deputados algo como “não fizeram nada para nos ajudar a melhorar as condições de segurança, saúde, educação e emprego”.

E essa percepção é usada pelo Executivo.

“Enquanto isso não mudar, as pessoas vão detestar esses políticos e o governo vai pressionar usando o apoio dos cidadãos”, ressaltou.

Para o politólogo Saúl Hernández, Bukele “soube identificar” a deterioração dos partidos políticos representados no Congresso como a melhor arma para pressionar.

No Twitter, a Anistia Internacional manifestou que “a ostensiva mobilização policial e militar na Assembleia Legislativa nos lembra das épocas mais sombrias da história de El Salvador e emite um alerta internacional sobre o futuro dos direitos humanos”.

Em um comunicado, a União Europeia também expressou a “grande preocupação” causada pelo “confronto” entre as instituições salvadorenhas.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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