Suíça se prepara para mais ondas de calor, secas e tempestades violentas
A Suíça caminha para um futuro mais quente, seco e imprevisível, com menos neve e chuvas mais intensas, segundo as projeções nacionais de mudanças climáticas divulgadas pelas principais instituições científicas do país.
Divulgado no início de novembro pelo Escritório Federal de Meteorologia e Climatologia (MeteoSwiss) e pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurique), o estudoLink externo traça um retrato alarmante do futuro que aguarda o país europeu, que vem aquecendo quase duas vezes mais rápido que a média global.
Aquecimento duas vezes mais rápido
As temperaturas globais já aumentaram cerca de 1,3 a 1,4 °C desde o período pré-industrial. Na Suíça, contudo, esse valor chega a 2,9 °C, segundo dados de 2024.
Se o aquecimento global continuar sem controle e atingir 3 °C, os pesquisadores estimam que o país pode enfrentar um aumento de 4,9 °C em suas temperaturas – um cenário que poderia se concretizar ainda em 2065, caso as emissões de CO2 não diminuam drasticamente.
Aumento no calor extremo
Entre as quatro principais consequências de grande impacto, o relatório prevê um aumento nas ondas de calor e nas noites tropicais – como são chamadas na Europa as noites em que a temperatura permanece acima de 20 °C –, particularmente em áreas urbanas como Lugano, Zurique, Genebra e Basileia.
Em um mundo com temperaturas 3 °C mais altas, o dia mais quente de verão na Basileia poderia chegar a 38,8 °C, em comparação a 34,4 °C no período de 1991 e 2020. Dias de calor extremo, que atualmente ocorrem uma vez a cada 50 anos, poderiam se tornar até 17 vezes mais frequentes. A cidade de Zurique deve registrar, em média, cerca de cinco vezes mais noites tropicais por ano.
Regiões de planície e áreas urbanas devem sofrer o maior estresse térmico, mas até mesmo os vales em altas altitudes e as bases de montanhas alpinas poderão enfrentar episódios de calor prolongado anteriormente raros.
Verões mais secos
Enquanto os invernos poderão vir acompanhados de mais chuvas, os verões do país deverão ficar significativamente mais secos, alertam os cientistas.
A previsão é que o aumento das temperaturas, a maior evaporação de água e a redução das chuvas de verão levem a um ressecamento dos solos suíços. As secas de verão já vêm se tornando mais frequentes ao longo das últimas quatro décadas. Uma seca que anteriormente ocorria uma vez a cada dez anos pode se tornar agora três vezes mais frequente, com um aumento de 44% em sua intensidade. O risco de incêndios florestais também tende a crescer de forma acentuada.
Chuvas cada vez mais violentas
Ainda assim, a Suíça deve se preparar para um aumento das chuvas intensas em todas as estações do ano, afirmam os especialistas. À medida que as temperaturas sobem, tanto a intensidade quanto a frequência das precipitações fortes, especialmente de tempestades intensas e curtas, devem aumentar.
Esses eventos podem se tornar até 30% mais intensos, com as chuvas se concentrando cada vez mais em períodos mais curtos – uma mudança que aumenta os riscos de inundações repentinas e deslizamentos de terra e lama.
Neve se concentrando em altitudes mais elevadas
A linha de neve nos Alpes suíços está recuando rapidamente. O chamado “limite de zero grau”, ponto em que a chuva se transforma em neve, subiu várias centenas de metros desde o início do século 20 e deve avançar mais 550 metros até o fim do século, alcançando cerca de 1.450 metros de altitude no inverno.
Isso significa que haverá mais chuva e menos neve nos invernos suíços. Em um mundo 3 °C mais quente, a proporção da precipitação em forma de neve pode diminuir cerca de 25%, enquanto a de chuva pode quase dobrar. A cobertura natural de neve em altitudes mais baixas pode vir a praticamente desaparecer, com profundas consequências para o turismo de esqui.
‘Mitigação continua importante’
“Seria possível evitar grande parte do aquecimento a longo prazo, e, portanto, muitas consequências previstas, com uma política ambiciosa de mitigação das mudanças climáticas, incluído emissões líquidas zeradas até 2050”, afirma Reto Knutti, pesquisador do clima no ETH Zurique.
A Suíça ratificou o Acordo de Paris em 2017 e se comprometeu a cortar suas emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030, além de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.
Em relação às suas metas intermediárias mais recentes, o governo anunciou em janeiro que o país deverá reduzir em pelo menos 65% suas emissões de gases de efeito estufa até 2035, em comparação com os níveis de 1990, com uma redução média de 59% entre 2031 e 2035.
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Suíça aquece o dobro da média global por efeito climático
Mas os autores do relatório alertam que, mesmo com reduções significativas, o aumento das temperaturas é inevitável – e as sociedades devem se adaptar.
“O aquecimento global pode, no máximo, ser limitado, mas não revertido”, afirmaram os autores.
Encomendados pelo governo suíço, os cenários climáticos 2025 foram elaborados pelo MeteoSwiss, pelo ETH Zurique e pelo Centro de Modelagem de Sistemas Climáticos (C2SM), com auxílio do Centro Oeschger de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas (OCCR), da Universidade de Berna, e da Universidade de Lausanne, sob a coordenação do Centro Nacional de Serviços Climáticos (NCCS).
A equipe atualizou projeções anteriores, de 2007, 2011 e 2018, oferecendo a previsão mais detalhada já disponível sobre o futuro climático da Suíça. As principais tendências identificadas no relatório CH2018 permanecem as mesmas – aquecimento contínuo, ondas de calor extremo mais frequentes e intensas, precipitações mais fortes, verões mais secos e invernos com menos neve –, mas agora com projeções de aquecimento ainda mais elevadas. Em 2018, por exemplo, os pesquisadores e pesquisadoras previam que a temperatura média seria de 2,5 a 4,5 °C superior à atual. Estimava-se também a ocorrência de secas de aproximadamente três semanas durante o verão.
“Os novos cenários climáticos nos oferecem uma visão mais clara das mudanças climáticas que ocorrerão na Suíça nas próximas décadas. Eles nos ajudam a avaliar as transformações e a planejar medidas adequadas, com o objetivo de proteger nosso meio ambiente, nossas cidades e nossa agricultura”, afirmou a ministra do Interior, Elisabeth Baume-Schneider.
Edição: Virginie Mangin/fh
Adaptação: Clarice Dominguez
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Calor extremo e seca são os principais riscos da mudança climática na Suíça
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A realidade da mudança climática na Suíça
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