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Suíça aquece o dobro da média global por efeito climático

Lago alpino e montanhas
Na Suíça, o aquecimento climático está ocorrendo duas vezes mais rápido do que a média global, em parte devido ao derretimento das geleiras alpinas. Westend61 / A. Tamboly

Com temperaturas subindo o dobro da média global, a Suíça enfrenta ondas de calor mais intensas, degelo acelerado e riscos ambientais crescentes. O país alpino está entre os dez mais afetados pelas mudanças climáticas, exigindo adaptação urgente à nova realidade climática.

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2024 entrou para a história como o ano mais quente desde que as medições contínuas de temperatura começaram em meados do século 19. Espera-se que 2025 seja um pouco menos quente, de acordo com as primeiras previsões, mas há uma grande chance de que novos recordesLink externo sejam alcançados nos próximos anos, declarou recentemente um representante da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

O aumento das temperaturas devido à mudança climática induzida pelo homem afeta todas as regiões do planeta. Entretanto, há países que estão se aquecendo mais do que outros. Um deles é a Suíça. Na nação alpina no centro da Europa, o aquecimento climático está ocorrendo duas vezes mais rápido do que a média global, afirma o Departamento Federal de Meteorologia e Climatologia (MeteoSwiss).

O aumento das temperaturas na Suíça tem consequências para a população, a economia e a paisagem. Ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas representam um sério risco à saúde, especialmente para idosos e prejudicam as colheitas agrícolas. Nas montanhas, as geleiras e o permafrost derretem e o risco de desastres naturais aumenta.

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Cabana nas montanhas

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Afetada pelas mudanças climáticas

O aquecimento na Suíça foi especialmente acentuado entre os anos de 2015 e 2024, um intervalo no qual o país registrou seus três anos mais quentes de todos os tempos (2022, 2023 e 2024). A média climática anual durante esse período aumentou em quase 2,3 °C em comparação com a média entre 1951 e 1980.

A Suíça está entre as dez nações mais quentes do mundo, de acordo com dados da ONU. Também estão nessa categoria os países bálticos, a Rússia, os países da Europa Central e os países árabes do Golfo Pérsico. No topo da lista está um grupo de ilhas cobertas de gelo, Svalbard, pertencente à Noruega.

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Temperatura aumenta mais do que em outros países

A Suíça não tem litoral e não pode se beneficiar do efeito de amortecimento dos oceanos, capazes de absorver grandes quantidades de calor. Globalmente, os continentes se aquecem mais do que os oceanos.

A altitude e a morfologia dos Alpes também desempenham um papel fundamental. A neve e o gelo derretem cada vez mais rápido, reduzindo a capacidade da terra de refletir a luz solar de volta ao espaço (conhecido como “efeito albedo”). As superfícies não cobertas, como o solo e as rochas liberadas pelo recuo das geleiras, tendem a absorver mais calor, o que acelera o aquecimento geral do país.

“A grande proporção de regiões montanhosas está entre os principais fatores que explicam por que a Suíça se aquece mais rapidamente [do que outros países]”, disse Aude Untersee, meteorologista da MeteoSwiss.

>> Veja o vídeo abaixo para entender como a mudança climática muda a Suíça:

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Temperaturas mais elevada ao norte dos Alpes

As temperaturas aumentaram em todas as regiões da Suíça. Entretanto, desde 1864, ano das primeiras medições em nível nacional, o norte dos Alpes tem se aquecido mais do que as áreas ao sul.

Essa tendência pode ser explicada pelo fato de que, antes de 1940, o norte dos Alpes era caracterizado por invernos mais frios e secos, explica Untersee. Depois de 1940, esses invernos frios se tornaram menos frequentes e as tendências de temperatura ao norte e ao sul dos Alpes foram semelhantes.

As regiões ao norte dos Alpes, que começaram com condições climáticas mais frias, portanto, “alcançaram” o sul. Isso resulta em um aquecimento maior no norte (3 °C) do que no sul (2,7 °C) nos últimos 150 anos.

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Continente que mais se aquece

Voltando à comparação internacional, uma coisa chama a atenção quando se observa a lista dos 20 países e territórios mais afetados pelas mudanças climáticas: 15 estão na Europa.

O continente europeu é aquele em que as temperaturas aumentaram mais rapidamente. Em 2024, a temperatura média estava mais de 2,4 °C acima da média do período de referência de 1951-1980. A tendência na Ásia, nas Américas e na África, por outro lado, segue aproximadamente a tendência global, como mostra este gráfico:

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Vários fatores explicam o recorde da Europa. Entre eles estão as mudanças na circulação atmosférica, que aumentam a frequência das ondas de calor no verão, e a proporção do território europeu no Ártico, escreve a OMM em seu último estudo sobre o climaLink externo na Europa.

O Ártico é a região mais quente do mundoLink externo. Como nos Alpes, o derretimento do gelo polar dá lugar a superfícies mais escuras que absorvem mais calor, criando um círculo vicioso que acelera ainda mais o aquecimento. As mudanças na distribuição do calor e do vento também podem “prender” o ar quente na região do Ártico. É por isso que Svalbard é a área de aquecimento mais quente do mundo.

Alguns pesquisadores acreditam que a luta contra a poluição atmosférica também pode ter contribuído para o aumento das temperaturas na Europa. As partículas poluentes na atmosfera, ou aerossóis, bloqueiam parte da luz solar e podem ter um efeito de resfriamento sobre o clima.

Na Suíça, as concentrações de aerossóis nas planícies diminuíram drasticamente nos últimos 60 anos, diz Untersee. “Isso levou a uma redução da neblina e das nuvens em baixas altitudes no platô, resultando em um aumento da radiação solar”, diz.

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Registros de temperatura

Não são apenas as temperaturas médias que se elevam. Os valores máximos atingidos durante o ano também estão aumentando, de acordo com a MeteoSwiss, que publicou recentemente uma avaliação das tendênciasLink externo de temperatura desde 1971. Atualmente, o dia mais quente do ano é, em média, 3,4 °C mais quente do que há 50 anos.

A temperatura mais alta na Suíça (41,5 °C) foi medida na estação de Grono, no cantão dos Grisões, em agosto de 2003, de acordo com o site da MeteoSwiss. Entretanto, as condições de medição eram diferentes das atuais.

Maximiliano Herrera, historiador do clima da Costa Rica que analisa registros de temperatura há mais de 35 anos, diz à Swissinfo que “os dados de 2003 não são confiáveis”. O recorde, segundo ele, pertence a Genebra, com 39,7 °C no verão de 2015.

Seja qual for o número exato, o recorde histórico na Suíça está muito longe do recorde na Itália, com quase 49 graus em Siracusa em 2021, ou os insustentáveis 54,4 °C medidos em 2020 no Vale da Morte, nos Estados Unidos.

Mas as temperaturas na Suíça continuarão a subir mais rapidamente do que em outros lugares e o país terá de se adaptar a um clima cada vez mais diferente do que no passado.

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Edição: Gabe Bullard/vdv

Adaptação: Alexander Thoele

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