Fim do ‘shutdown’, rumores de redução tarifária e ausência ruidosa na COP30
Bem-vindo à nossa revista de imprensa sobre os acontecimentos nos Estados Unidos. Todas as quartas-feiras, analisamos como a mídia suíça noticiou e reagiu a três notícias importantes nos EUA – nas áreas da política, finanças e ciência.
Quando os chefes de seis grandes empresas suíças viajaram para a Casa Branca na semana passada, eles levaram presentes, muitos deles em ouro. Devo admitir que um dos meus primeiros pensamentos, ao ver a foto, foi: “seis reis magos”. Acontece que o cientista político Ludovic Iberg concorda, apontando para a “encenação quase bíblica desta delegação: os Magos levando ouro, incenso e mirra para Jesus”.
Há muita especulação sobre as consequências dessa reunião, bem como sobre um possível fim da paralisação do governo dos EUA e a ausência de representantes oficiais na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil. O que os suíços acham de tudo isso?
Será que está chegando ao fim a paralisação mais longa da história do governo dos Estados Unidos? Na segunda-feira, um número suficiente de democratas no Senado votou a favor de um acordo que restauraria o financiamento das agências governamentais. Isso parece um erro caro, avalia o jornal Tages-Anzeiger, de Zurique.
“Estamos reabrindo nosso país”, disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na terça-feira, em um discurso no Cemitério Nacional de Arlington, no Dia dos Veteranos. “Ele nunca deveria ter sido fechado.”
Os membros da Câmara dos Deputados se reunirão na quarta-feira para uma votação que poderá reabrir o governo e restaurar a estabilidade nas viagens aéreas e nos subsídios alimentares. Trump disse que o fim iminente da paralisação orçamentária de 42 dias representou uma “grande vitória” para os republicanos, enquanto cresce a indignação entre os democratas com os senadores de seu partido que votaram pelo fim da paralisação, segundo a Tribune de Genève.
“Os democratas cedem novamente a Donald Trump – isso lhes custará caro” foi a manchete de um editorial no Tages-Anzeiger. “Oito dissidentes [sete democratas e um independente] cederam diante da teimosia de Trump. Agora, justamente quando os democratas poderiam se beneficiar do caos econômico de Trump.”
Os democratas “apostaram e perderam”, disse a cientista política Claudia Brühwiler à rádio pública suíça SRF. Os democratas achavam que o governo Trump iria querer manter a paralisação o mais curta possível, explicou ela: todo governo quer evitar uma paralisação ou, se ela acontecer, mantê-la o mais curta possível. “Este não foi o caso de Donald Trump”, disse ela. “A paralisação mostrou até onde Trump está disposto a ir.”
O Tages-Anzeiger afirmou que, pela primeira vez em meses, tinha-se a impressão de que Trump estava vacilando e que os democratas tinham um argumento, nomeadamente o caos econômico de Trump. “Este impulso foi destruído”, afirmou. “O presidente consegue o que quer novamente porque oito senadores preferem ceder aos seus desejos a tomar uma posição. A curto prazo, isso ajudará os EUA, mas a longo prazo será caro para muitas pessoas, incluindo os democratas.”
- Cobertura do fim da paralisação pela SRFLink externo e RTSLink externo (em alemão e francês, resp.)
- Editorial no Tages-AnzeigerLink externo (em alemão, paywall)
- ‘Trump declara “grande vitória” após o fim da paralisação’ – Tribune de GenèveLink externo (em francês)
- Entrevista com Claudia BrühwilerLink externo – SRF (em alemão)
A Suíça está supostamente perto de chegar a um acordo na disputa alfandegária com os Estados Unidos, depois que algumas das maiores empresas suíças lançaram uma campanha promocional voltada para Donald Trump. Mas até que ponto presentear barras de ouro e relógios se torna corrupção?
Na segunda-feira, a agência de notícias Bloomberg informou que o acordo inclui uma redução da atual tarifa de 39% dos EUA sobre as importações de vários produtos suíços para 15%. “Sem comentários”, disse o Ministério da Economia suíço, ressaltando que as negociações estavam em andamento.
Na semana passada, os CEOs de seis grandes empresas suíças viajaram à Casa Branca na tentativa de convencer Trump de que um acordo comercial bilateral beneficiaria significativamente os dois países. A Bloomberg afirma que essa reunião serviu como um “acelerador” para um acordo, mas na quarta-feira a rádio pública suíça RTS questionou se os líderes empresariais têm o direito de se transformar em diplomatas, “mesmo que isso signifique flertar com a corrupção e colocar em risco os interesses da Suíça?”.
A RTS destacou que os chefes das seis grandes empresas suíças (MSC, Rolex, Mercuria, Partners Group, MKS e Richemont) teriam feito propostas de investimento e presenteado Trump com presentes, incluindo um relógio Rolex de ouro e uma “barra de ouro gravada” avaliada em até CHF 40.000 (US$ 50.000).
“ A abordagem adotada por esses atores privados está levantando questões e atraindo críticas, notadamente acusações de corrupção”, disse a RTS. No entanto, ela admitiu que, segundo a lei suíça, a questão da corrupção é complexa. Seria necessário provar, por exemplo, que as empresas fizeram esses presentes a Trump precisamente para que ele concedesse um favor em troca. “Dado o estado atual das coisas e nosso conhecimento sobre esse encontro, é impossível tirar qualquer conclusão”, disse a RTS.
O cientista político Ludovic Iberg destacou a “encenação quase bíblica desta delegação: os Reis Magos levando ouro, incenso e mirra a Jesus. O que temos aqui é um equilíbrio hierárquico de poder muito claro”.
E mesmo que o resultado imediato possa ser positivo, Iberg mostrou-se preocupado com os aspectos a longo prazo. “Jogar essas cartas levanta a questão fundamental da democracia”, disse ele à RTS.
“Nenhum desses seis representantes tem qualquer representação diplomática ou detém um mandato eletivo. As concessões que discutiram no Salão Oval pairarão sobre o resto das negociações como um espectro. Será difícil para [o ministro da Economia] Guy Parmelin ou [a ministra das Finanças] Karin Keller-Sutter voltar atrás nessas concessões”.
- Reportagens sobre tarifas na Swissinfo (em inglês)
- Reações de empresários e políticos suíços a rumores sobre uma redução de tarifasLink externo – SRF (em alemão)
- Trump, diplomacia de charutos, e a Suíça Link externo – Le Temps (em francês, paywall)
O governo dos Estados Unidos está boicotando a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil. Mas enquanto o presidente Donald Trump descreve as mudanças climáticas como uma “fraude”, muitos outros nos Estados Unidos têm uma opinião diferente e viajaram para Belém.
Mais de 190 países participaram das negociações da COP30, que começaram na segunda-feira e vão até 21 de novembro. Eles querem discutir como a proteção climática pode ser revitalizada e como as emissões de carvão, petróleo e gás podem ser reduzidas. “Mas um participante importante está faltando: o presidente dos EUA, Donald Trump”, informou a rádio pública suíça SRF na quarta-feira.
“Essa ‘mudança climática’ é a maior fraude já perpetrada contra o mundo”, disse Trump na Assembleia Geral da ONU em setembro. Em janeiro, em seu primeiro dia de volta à presidência, ele assinou uma ordem para retirar os EUA do Acordo Climático de Paris.
“Trump é o grande ausente da conferência mundial sobre o clima COP30 no Brasil”, informou o Blick. “No entanto, ele provavelmente terá uma influência enorme nas negociações em Belém. A retirada dos EUA do Acordo de Paris coloca a comunidade global em uma posição difícil. Os defensores da proteção climática esperam, portanto, um sinal claro contra Trump.”
No entanto, os EUA são uma “nação dividida” quando se trata de proteção climática, escreveu o Blick. Mais de uma centena de representantes de estados e municípios dos EUA estão participando da COP30 como um sinal de oposição a Trump.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que estava na COP30 para mostrar como a Califórnia está liderando o caminho em tecnologias verdes. A Califórnia faz parte de uma coalizão de 24 estados e regiões, não apenas dos EUA, mas também internacionalmente, comprometidos com metas climáticas ambiciosas.
Newsom também pediu à população para não se deixar intimidar pelo presidente dos EUA. “Trump é temporário, e espero que as pessoas em todo o mundo se lembrem disso”, afirmou, citado pelo portal de notícias suíço Watson.
A SRF concluiu que Newsom e seus colegas não poderiam substituir a falta de representação oficial dos EUA, “mas estão enviando um sinal claro de que muitos estados federais pensam de maneira diferente da administração Trump quando se trata do clima”.
- Comunidade internacional se esforça para enviar um sinal forte contra TrumpLink externo – Blick (em alemão)
- Gavin Newson: ‘Trump é temporário’Link externo – Watson (em alemão)
A próxima edição da newsletter “Notícias dos EUA na imprensa suíça” será publicada na quinta-feira, 19 de novembro. Até a próxima semana!
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Adaptação: Eduardo Simantob, com ajuda do Deepl
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