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Hepatite C: uma doença ‘silenciosa’ e subdiagnosticada

Os Nobel de Medicina Michael Houghton, Harvey Alter e Charles Rice afp_tickers

O vírus da hepatite C, cuja descoberta foi recompensada nesta segunda-feira pelo Prêmio Nobel de Medicina, é responsável por uma doença crônica, que progride em silêncio antes de muitas vezes levar à cirrose e câncer de fígado, mas que agora sabemos como tratar.

Qualificada pelo júri do Nobel como um “grande problema de saúde global”, a hepatite C mata 400.000 pessoas a cada ano e 71 milhões são portadoras crônicas do vírus, ou 1% da população mundial, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Entre eles, apenas um em cada cinco (19%) tem conhecimento da sua doença, devido ao acesso muito limitado ao rastreio e diagnóstico, acrescenta a OMS.

Na França, “estima-se que quase uma em cada três pessoas não sabe que está infectada”, segundo o Inserm.

Após uma fase de infecção aguda, geralmente assintomática, uma minoria dos pacientes (15% a 45%) elimina o vírus espontaneamente, mas na grande maioria ele se instala nas células do fígado e a doença assume uma forma crônica.

No entanto, permanece em silêncio por muito tempo: evolui por dez, vinte ou trinta anos antes que surjam complicações graves, como cirrose ou câncer de fígado.

Segundo a OMS, “entre os pacientes crônicos, o risco de cirrose hepática é de 15% a 30% em um período de 20 anos”.

A hepatite C é transmitida principalmente pelo sangue. As transfusões têm sido um grande modo de contaminação mas, desde o desenvolvimento de um teste de triagem as transmissões por este meio foram reduzidas a praticamente zero.

Hoje, a OMS estima que 23% das novas infecções e 33% das mortes pelo vírus da hepatite C (VHC) são atribuíveis à injeção de drogas com equipamento não esterilizado.

Também pode ser transmitido durante tatuagens ou piercings com equipamentos sujos ou, mais raramente, durante o sexo e de uma mãe infectada para seu filho.

O tratamento dessa doença foi revolucionado na virada da década de 2010 com a chegada de novos tratamentos antivirais de “ação direta”, capazes de eliminar o vírus em poucos meses em mais de 95% das pessoas infectadas, em especial o sofosbuvir, comercializado pelo laboratório Gilead sob o nome de Sovaldi.

Esses novos tratamentos fazem da hepatite C “a única doença viral crônica que pode ser curada”, destaca o Inserm.

Desde o seu surgimento, a hepatite C vem diminuindo constantemente nos países com acesso ao tratamento.

Na França, 193.000 pessoas tinham hepatite C crônica em 2016, em comparação com 232.000 em 2011.

Em outras partes do mundo, sua distribuição é, no entanto, prejudicada por seu alto custo, mesmo que os preços tenham caído acentuadamente nos últimos anos com a introdução de versões genéricas.

No final de 2017, apenas 5 milhões de pessoas entre 71 milhões de doentes crônicos haviam sido tratadas com antivirais de ação direta, muito longe da meta da OMS de tratar 80% das pessoas infectadas até 2030.

“Para atingir esse objetivo” e, assim, erradicar a hepatite C, “são necessários esforços internacionais para facilitar os testes de triagem e tornar os medicamentos antivirais acessíveis em todo o mundo”, enfatizou o comitê do Nobel nesta segunda-feira.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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