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Penhorar, antiga prática que alivia os bolsos dos mexicanos durante a pandemia

Fila para a penhora de joias no Nacional Monte de Piedad, em 17 de julho de 2020, na Cidade do México afp_tickers

Valeria entra na fila da Nacional Monte de Piedad, principal loja de penhor do México. Desempregada por causa da pandemia, não teve outra opção a desfazer-se temporariamente de algumas joias em ouro para conseguir algum dinheiro.

O local onde vendia telefones celulares fechou por questão das restrições impostas por causa do novo coronavírus, e o momento ainda não é considerado seguro para reabrir.

“Vendo celulares, não deixam abrir certas lojas, e então já estou há um tempo sem trabalho”, conta à AFP a jovem, de 27 anos, que preferiu não dizer seu sobrenome.

Além das suas joias, Valéria também penhora a dos pais, que assim como ela estão desempregados.

“Eles não estão trabalhando e me deram (as joias) para que, de uma maneira ou de outra, pudéssemos quitar nossas despesas”, relata a jovem, enquanto espera ser atendida.

Valeria e seus pais fazem parte dos 12 milhões de mexicanos que, segundo dados oficiais, deixaram de trabalhar por causa da COVID-19. Em sua maioria, os desempregados eram do setor informal.

Ao longo da fila no Monte de Piedad, uma palavra é repetida: “crise”. Mas também as feições de vergonha.

Vendo a imprensa, alguns desviam o olhar.

“É a crise”, diz um homem com os olhos cheios de lágrimas.

“A crise …”, outro menciona antes de voltar a se concentrar no celular.

– Antigo salva-vidas –

Valeria aguarda para que um funcionário avalie suas joias, e em seguida possa assinar um contrato e receber o dinheiro.

Se o empréstimo não for pago com os respectivos juros, os itens penhorados serão colocados à venda na loja, onde cada peça parece contar a história de seus proprietários originais.

Há relógios, anéis de formatura e noivado, colares e gargantilhas.

Alguns itens chamam ainda mais atenção pelo preço: uma pequena caixa de ouro de 600.000 pesos (cerca de US$ 26.613) e relógios vendidos a mais de 100.000 pesos (cerca de US$ 4.400).

A prática da penhora tem sido algo comum para muitos mexicanos. A Monte de Piedad existe desde 1775, quando o que hoje é o México era o vice-reinado da Nova Espanha.

Assim, a instituição – construída em cima de um palácio que recentemente foi descoberto ser asteca – foi criada para impedir que as pessoas que precisavam de um empréstimo não caíssem nas mãos dos agiotas.

Hoje o espaço é uma fonte de salvação para aqueles que, por ocasião da pandemia, precisam resolver emergências financeiras cotidianas ou têm dificuldades para conseguir um empréstimo bancário.

Desde que a quarentena foi decretada, o número de objetos penhorados se manteve quase igual ao registrado em anos anteriores, apesar da Monte de Piedad apenas manter aberta 100 das suas 300 lojas no país.

Porém, desde 1º de junho, quando o governo anunciou o final do confinamento e a reabertura de alguns negócios não-essenciais, a procura pelas casas de penhores são “atípicas”, segundo Joel Rodríguez, preisdente da associação de instituições de penhor do México.

Desde então, Monte de Piedad fez cerca de 1,7 milhões de empréstimos por 6 bilhões de pesos (cerca de US$ 266 milhões).

O governo, que estima que em julho a perda de empregos será interrompida, disponibilizou dois milhões em microcrédito como forma de impulsionar a economia.

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