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BC quer tempo para entender efeito da curva de juros dos EUA sobre inflação doméstica, diz Galípolo

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) – O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quarta-feira que a autarquia quer “dar tempo” para entender como os reajustes na curva de juros dos Estados Unidos afetarão o mandato local de controle da inflação, o que, segundo ele, está em linha com a comunicação oficial do BC.

Galípolo defendeu que o BC não deve se “emocionar” com flutuações de curto prazo no mercado e agir de forma precoce, mas alertou que essa postura gera um risco de que a autoridade monetária acabe esperando demais para reagir a eventos externos.

“Talvez o que seja mais adequado na linha de parcimônia e serenidade é conseguir dar tempo, quando acontece esses tipos de reajustes na curva americana, para entender como isso desdobra no mandato do Banco Central, que é a meta de inflação”, disse Galípolo em palestra realizada no Upload Summit 2024, em São Paulo.

“Acho importante a gente ter calma e não se emocionar muito e entender como isso vai se desenrolar, ainda que o risco seja de estar um pouco mais atrasado nesse processo de reação”, acrescentou.

O diretor do BC disse que as oscilações recentes na curva de juros dos EUA talvez sejam o maior responsável pelas perdas expressivas do real ante o dólar em sessões recentes, e apontou uma maior correlação entre a curva americana e a brasileira.

Participantes do mercado no mundo todo têm reprecificado as perspectivas de cortes de juros pelo Federal Reserve, com a maioria passando a ver apenas dois ajustes no final deste ano e alguns apostando que não haverá afrouxamento da política em 2024.

Essa mudança ocorreu em parte a dados fortes da inflação dos EUA neste início de ano, alinhados à contínua força da atividade econômica norte-americana e a um mercado de trabalho robusto, com uma taxa de desemprego baixa em níveis históricos.

O novo cenário gerou uma valorização global do dólar. No Brasil, a moeda norte-americana atingiu na semana passada seu maior valor ante o real em mais de um ano, o que também tem sido atribuído a uma maior incerteza em relação ao compromisso fiscal do governo.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem reiterado que o BC não deve reagir com intervenções cambiais a essa reprecificação, já que o câmbio é flutuante e a autoridade monetária só age em casos de disfuncionalidades no mercado.

Outra reação aos recentes desenvolvimentos foi a mudança na expectativa de especialistas consultados pelo BC em sua pesquisa Focus para a taxa Selic. Eles agora veem a taxa de juros encerrando este ano e o próximo em patamares maiores do que antes.

META DE INFLAÇÃO

No evento desta quarta-feira, Galípolo foi questionado sobre a viabilidade da meta de inflação do BC, atualmente em 3% para este ano e os dois próximos.

O diretor afirmou que não cabe à autarquia opinar sobre qual deveria ser a meta de inflação, argumentando que o mandato do BC é apenas perseguir a meta estabelecida.

“Do ponto de vista de diretor de política monetária, isto não é um tema… Meta não é para se discutir, é para se perseguir”, afirmou.

Ele indicou ter uma opinião ainda mais “radical” de que o BC não deveria ter direito à voto na determinação da meta de inflação no Conselho Monetário Nacional, defendendo que ela seja estabelecida pelo “poder democraticamente eleito”.

O CMN é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e Orçamento, e pelo presidente do BC.

Galípolo ainda disse estar otimista em relação ao Brasil, apontando que o país reúne vantagens comparativas para aproveitar oportunidades de realocações em meio a tensões geopolíticas.

Ele disse acreditar que o consumo das famílias brasileiras deve se manter resiliente, seja pela queda da inflação e da taxa Selic, seja pelo aumento do salário mínimo, seja pela manutenção de gastos elevados do governo.

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