Começa segunda semana de ‘shutdown’ nos EUA sem perspectiva de acordo
O bloqueio orçamentário do governo dos Estados Unidos entrou nesta segunda-feira (6) em sua segunda semana, sem perspectiva de fim, enquanto a Casa Branca voltou a ameaçar começar a demitir funcionários públicos caso a oposição democrata não ceda.
Cada lado mantém suas posições e se culpa mutuamente desde o início, na quarta-feira, do chamado “shutdown” ou fechamento do governo. O país mergulha em uma paralisia com consequências que vão muito além da política.
Embora Donald Trump tenha anunciado na noite de domingo que começaram as demissões definitivas de funcionários, em linha com suas ameaças, a porta-voz da Casa Branca afirmou nesta segunda-feira que o presidente americano se referia, na verdade, às demissões técnicas temporárias que ocorrem sempre que há um “shutdown” devido à falta de financiamento.
“Mas, infelizmente, se este fechamento continuar, as demissões serão uma consequência lamentável”, advertiu.
– “Inconcebível” –
Os empregados federais são os mais afetados pelo fechamento. Além das ameaças de demissão do presidente, cerca de dois milhões de funcionários ficarão sem receber seus salários até que o Congresso aprove um orçamento.
“É muito possível que este fechamento dure semanas, não apenas alguns dias”, estimou Andrew Koneschusky, ex-assessor do líder democrata Chuck Schumer.
“Por enquanto, ambas as partes se mantêm firmes e fala-se muito pouco em compromissos. As coisas sempre podem mudar (…) mas, no momento, nenhuma parece disposta a ceder”, declarou à AFP esse especialista em comunicação de crises.
Para resolver a crise, os republicanos propõem uma prorrogação do orçamento atual até o fim de novembro, enquanto os democratas insistem em aumentar o financiamento de programas de seguro de saúde para a população mais desfavorecida.
Para Michael Strain, economista do centro de estudos conservador American Enterprise Institute, é “inconcebível” que o fechamento possa durar vários meses. Ele argumenta que a falta de remuneração do pessoal militar — em um país onde os militares ocupam um lugar especial na consciência pública — será um fator importante na pressão política que os legisladores enfrentarão.
Os norte-americanos que planejam viajar nas próximas semanas também podem ter seus voos interrompidos devido à escassez de agentes de segurança de transporte ou de controladores de voo, o que provocaria atrasos e cancelamentos.
– “Máximo sofrimento” –
O fechamento atual, iniciado há apenas seis dias, ainda está longe de bater um recorde. Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, durante seu primeiro governo, Trump enfrentou um “shutdown” de 35 dias.
No entanto, o presidente republicano está aplicando uma estratégia de “máximo sofrimento” contra a oposição, segundo alguns observadores, incluindo a suspensão de fundos federais destinados a estados democratas.
A intransigência do magnata é uma razão de peso para acreditar que este fechamento governamental pode se tornar o mais longo da história, afirmou James Druckman, professor de ciências políticas da Universidade de Rochester.
“A administração Trump acredita ter um mandato sem limites e, portanto, geralmente não está aberta a acordos”, disse à AFP.
Por sua vez, “os democratas foram criticados por não lutar o suficiente” contra o presidente, acrescentou o professor.
Em março, diante da ameaça de um fechamento iminente do governo, dez senadores democratas votaram a contragosto a favor de um projeto de lei republicano, o que gerou fortes críticas dentro de seu próprio partido.
Essa concessão “não trouxe resultados positivos para os democratas”, apontou Druckman. Por isso, desta vez “eles estão mais inclinados a se manter firmes”.
Apesar de tudo, os republicanos esperam convencer senadores democratas suficientes para atingir o limite de 60 votos dos 100 necessários no Senado para superar o bloqueio.
Até sexta-feira, seu projeto de lei havia obtido apenas 54 votos favoráveis, incluindo três da oposição.
Uma nova votação está prevista para a tarde desta segunda-feira, mas não se espera nenhum avanço.
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