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Blaise Cendrars finalmente na plêiada francesa

Blaise Cendrars em 1953. AFP

A prestigiosa coleção literária francesa “La Pléiade” acolhe finalmente Blaise Cendrars. Dois volumes incluem as obras autobiográficas completas do viajante e escritor anarquista suíço, naturalizado francês.

Blaise Cendrars não é o primeiro homem de letras suíço a se juntar a prestigiada coleção da editora francesa Gallimard. Antes dele, Benjamin Constant, Jean-Jacques Rousseau e Charles-Ferdinand Ramuz já haviam sido homenageados. Uma congregação de escritores na qual fica um pouco difícil situar o inclassificável Cendrars. Sua reputação é essencialmente a de um poeta, ele é o homem do Transiberiano. Seu renome mundial passa por esse longo poema ilustrado por Sonia Delaunay.

Mas ele também foi romancista. Um romancista, no entanto, extravagante com uma paixão para escrever o que o torna muito especial, fazendo pausas de vários anos entre o início e o fim de um romance. La Main Coupée, o segundo volume de suas memórias, ele começou a escrever em 1917 para termina-lo em 1946.

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O modernista que descobriu o Brasil

Este conteúdo foi publicado em Conhecido hoje como grande poeta modernista , Cendras alistou-se como voluntário na Legião Estrangeira, foi combatente na primeira Guerra Mundial e perdeu o braço direito. Nessa época ele já havia escrito o poema Prosa do Transiberiano, obra na qual narra a viagem a São Petesburgo. O trabalho foi ilustrado pelas aquarelas de Sonia Delaunay. Segundo…

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Um ruminante para os críticos

“Cendrars precisa de tempo, é um ruminante e um ‘objeto’ difícil para os críticos, que ficam perplexos com a descontinuidade de sua produção literária. Os especialistas precisaram de muito tempo para vê-lo como o construtor de uma grande obra”, diz Claude Leroy, que dirige esta edição das obras autobiográficas completas de Cendrars.

“Vinte anos atrás, a entrada do escritor na famosa coleção da Gallimard era inimaginável. Hoje, parece óbvio porque sua obra, então considerada flutuante, ganhou em consistência”, conta Leroy. A abertura dos arquivos Blaise Cendrars em Berna, no início dos anos 80, também ajudou bastante. Ele permitiu que pesquisadores de diversos países realizassem trabalhos acadêmicos que contribuíram no lançamento do escritor em diferentes cantos do mundo.

Europa, África, Américas… Blaise Cendrars é conhecido e percebido de diferentes formas. Seu sucesso depende de uma cultura para outra, mas também das traduções de sua obra. “A África francófona negra o descobriu graças principalmente à sua Anthologie nègre, publicada em 1921. Uma obra primordial, pois reúne contos africanos. O livro pode parecer fora de moda hoje em dia, mas na época de seu lançamento foi tão importante quanto a descoberta da arte africana pelos cubistas”, explica Claude Leroy.

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Quando Blaise Cendrars fala de si

Este conteúdo foi publicado em Nascido em 1887 em La Chaux-de-Fonds, no cantão de Neuchâtel, Cendrars começou a ter vontade de sair aos dezessete anos. Ele contou que poderia ter escolhido o oeste, mas que foi por acaso ter ido ao leste. Ele viajou até o outro lado da Rússia, em Vladivostok. Depois, se perde nos cantos mais improváveis e…

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Um marginal para os americanos

Parcial ou inadequada, a tradução dos textos de Cendrars nos Estados Unidos deixa uma sensação de frustração. Durante sua vida, o homem libertário se esforçou para encontrar um comprador em um país puritano.

“Através de um agente literário na América do Norte, Cendrars conseguiu publicar o seu primeiro romance em inglês L’Or”, conta Christine Le Quellec Cottier, diretora do Centro de Estudos de Blaise Cendrars em Lausanne e Berna. “As dificuldades vieram com Les Mémoires e, especialmente, com Moravagine, obra que os americanos perceberam como violenta, com formas de anarquia e um niilismo associado à Revolução Russa. Foi preciso esperar vários anos antes que o suíço se tornasse popular nos Estados Unidos”, diz.

“Moderadamente apreciado”, completa Claude Leroy, que estima que até agora Cendrars não encontrou o lugar que merece nos Estados Unidos. “Ele ainda é percebido lá como um marginal. Exceto no ambiente undergroud, onde ele tem hoje seus leitores e admiradores. Patti Smith, por exemplo, é um deles”, diz Claude Leroy.

Cendrars não é politicamente correto. Em todo o caso, é o que se diria dele se estivesse vivo hoje. “Seu ódio pelos alemães, que ele fazia questão de lembrar em suas memórias (La main coupée, J’ai tué), também não promove o seu sucesso na Alemanha, onde a maioria de seus escritos foram traduzidos”, acrescenta Leroy.

1887: Nascimento de Frédéric-Louis Sauser em La Chaux-de-Fonds.

1894-1896: a família se muda para Nápoles.

1897: frequenta a Untere Realschule em Basileia.

1902: Escola de Comércio em Neuchâtel.

1904-1907: mora em São Petersburgo, onde trabalha para o relojoeiro suíço Leuba.

1911: viagem para Nova York, onde custa a se adaptar à vida americana.

1914: se alista no exército francês e perde seu braço direito na guerra.

1916: se torna cidadão francês.

1924-1927: faz três viagens ao Brasil.

1939-1940: correspondente de guerra com o exército inglês.

1943-1949: começa a escrever suas memórias.

1950: volta a Paris.

1960: Comandante da Legião de Honra francesa.

1961: morte.

Um grande poeta para os belgas

Diferente, no entanto, é a sua recepção nas regiões de língua francesa da Europa. “Na Bélgica, no início dos anos 20, ele consegue seu espaço, auxiliado por Robert Guiette, um jovem intelectual de Bruxelas que o admira, o convida várias vezes e introduz Cendrars no mundo literário belga como poeta avant-garde“, diz Christine Le Quellec Cottier.

E a França? Cendrars se sentia tão bem lá que acabou se engajando no exército francês durante a Primeira Guerra Mundial. O que lhe custou seu braço direito (que foi amputado) e a rejeição dos suíços. Foi preciso esperar até o centenário do seu nascimento, em 1987, para assistir a reaproximação dessa Suíça que Cendrars sempre amou. Seus olhos de aventureiro viam nela toda a beleza do mundo.

A Pierre Lazareff, um dos grandes donos de jornais da França que lhe pediu um dia para fazer uma reportagem sobre a Suíça, Cendrars respondeu: “Você vai ver, eu vou revelar a você um país muito mais estranho que as Ilhas Leeward, a Amazônia e a África central”.

Cendrars acabou ficando doente e a reportagem nunca aconteceu.

Adaptação: Fernando Hirschy

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