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Cada vez mais pais ensinam seus filhos em casa

A família alemã Romeike emigrou para os EUA para poder ensinar seus filhos em casa. Keystone

Embora seu crescimento não seja tão espetacular como nos EUA ou na Grã-Bretanha, o número de pais educando seus filhos em casa aumenta.

O descontentamento crescente com o sistema público de ensino, as más influências na escola, o baixo nível de moral, os cursos de religião e o custo das escolas privadas são algumas das principais razões para muitas famílias preferirem o ensino caseiro.

Nos Estados Unidos o número de famílias que educam seus filhos em casa triplicou de 850 mil em 1999 para mais de dois milhões em 2006. Na Grã-Bretanha estima-se que mais de 50 mil crianças estão sendo escolarizadas em casa, mas o número está aumentando consideravelmente.

O crescimento na Suíça é muito mais modesto, mas estima-se atualmente que aproximadamente mil crianças recebem suas lições em casa.

“Existe uma tendência crescente. Ela aumentou um pouco desde o final de 1980, mas ainda não é um movimento de massas”, declara Willi Villiger, da Associação de Ensino Caseiro da Suíça.

A aceitação do ensino caseiro depende do cantão (estado), pois cada um tem seu próprio sistema de ensino. Os cantões de língua francesa geralmente têm uma atitude mais liberal. Na parte italiana da Suíça ele é proibido. Na parte alemã existe uma mistura de posições.

Nos locais permitidos, as famílias têm de notificar as autoridades educacionais locais e providenciar documentação como planos anuais ou semanais de educação. Visitas anuais de representantes escolares são comuns. Em alguns cantões uma qualificação profissional para o ensino também pode ser exigida.

Para que ensinar em casa?

Em uma pesquisa realizada pelo departamento de Educação dos EUA em 2006, 31% dos pais que escolheram ensinar seus filhos em casa justificaram sua decisão pela preocupação com o ambiente escolar. Os pontos considerados críticos são a segurança, o problema das drogas assim como a pressão negativa.

Trinta por cento dos entrevistados declararam que foi o desejo de dar a seus filhos instrução moral e religiosa, enquanto 16,5% disseram que era insatisfação com a instrução acadêmica.

Na Suíça as razões podem variar, como explica Villiger. “Nossa família começou (a ensinar em casa) em 2001, quando a situação na escola local não era boa – não havia um número suficiente de professores e muitas mudanças, o que nos deu a impressão que as crianças estavam sendo negligenciadas”, explica.

“De certa forma a nossa filha mais velha se alienou de nós e seus resultados escolares se tornaram piores. Sentimos que as influências da escola eram contrárias à nossa educação cristã.”

“Não tenho nada contra a educação pública”, acrescenta B.A (n.r.: entrevistado pediu para ficar anônimo), pai de quatro crianças com idades entre 8 e 15 anos, cujas aulas são ministradas por sua esposa. “Mas o tempo gasto na escola com o aprendizado é afetado pelos problemas sociais.

Dinâmica familiar

Defensores do esquema de aprendizado caseiro afirmam que as crianças se beneficiam muito com a abordagem flexível da educação.

“Temos uma maneira muito eficaz de aprendizagem. Nos primeiros anos minha esposa ensina os filhos através do currículo. Depois disso eles têm de trabalhar por si mesmo. Gradualmente eles conseguem trabalhar de forma independente para resolver os problemas”, avalia, cujas dez crianças aprendem também em casa.

A dinâmica familiar é muito importante, acrescenta B.A. “As crianças respeitam e aprendem uns com os outros. Os mais velhos ajudam os mais novos e quando eles ensinam aprendem ainda melhor”, diz e acrescenta: “se gasta muito tempo focalizando em educação e menos em solução de conflitos. Isso permite às crianças de seguirem seus interesses específicos.”

Villiger está muito satisfeito com o progresso feito pelos seus filhos.

“Quando tiramos nossa filha mais velha da escola em 2001, ela havia perdido quase toda a motivação de estudar. Em dois anos, ela mudou completamente a sua atitude de trabalho e passou nos exames finais da escola pública com notas excelentes.”

“Isso nunca teria sido possível se ela tivesse continuado na escola pública. Em agosto ela começará seus estudos na universidade. E em meio ano meus dois filhos mais velhos também estarão concluindo o ensino médio para ir à universidade”, conta ele orgulhoso.

Temores comuns

Um dos medos mais comuns é de que as crianças educadas em casa percam a sociabilidade e não estejam expostas a diferentes opiniões que caracterizam uma sociedade democrática.

“As crianças se sentem melhor quando estão com outras crianças na escola. Lá elas podem se misturar também com pessoas de diferentes classes sociais”, afirma Anne-Marie Reymond, responsável pela supervisão de 60 crianças que atualmente estão educadas em casa no cantão de Vaud (oeste.)

“Isso pode ser problemático. Algumas crianças estão integradas em grupos fora da família e outros não. Você percebe aqueles que se separam do resto. Isso pode ser um problema.”

Villiger admite que a falta de sociabilidade pode ser um ponto fraco no sistema de ensino caseiro. “Você tem de enfrentá-lo e ver a questão como algo a ser solucionado”, diz. “Esse é o trabalho dos pais de possibilitar o contato fora do seio da família.”

Porém observações realizadas nas crianças americanas educadas em casa, durante jogos mostram que elas têm pouco problema de interação social com crianças que freqüentam as escolas públicas. Além disso, elas também estão envolvidas em uma série de atividades fora de casa.

Treinamento

Alguns críticos também questionam o valor do que está sendo ensinado, sobretudo pelo fato da maioria dos pais nunca ter tido um treinamento ou formação pedagógica.

“Acho extremamente dúbio quando pessoas ensinam em casa sem ter esse tipo de qualificação”, critica Anton Strittmatter da Associação Suíça de Professores ao jornal NZZ am Sonntag. “Uma formação de mestre é o único critério verificável para assegurar a qualidade.”

Porém os tempos modernos democratizaram o aprendizado, contra-argumenta Villiger. “Se pais estão dispostos a aprender com seus filhos, eles não necessitam nenhuma qualificação. Hoje em dia a informação é acessível a qualquer pessoa.”

“Você pode encontrar bons ambientes de aprendizado na internet e mesmo os materiais de ensino publicados pelo Estado oferecem uma variedade de livros que também são ideais para a educação caseira”, explica.

Apesar de ter começado a ensinar em casa com um “certo receio”, Villiger diz que “essa foi uma das melhores decisões que já tomei na vida.”

“Temos uma unidade preciosa na família. Temos a sensação de que estamos juntos na estrada, como pioneiros”, conclui.

Simon Bradley, swissinfo.ch

A Suíça não tem um ministério da Educação. Ao invés de um órgão central, os cantões (estados) administram seus próprios sistemas de ensino. Eles são coordenados em nível nacional pela Conferência dos Diretores de Instrução Pública, organização que regrupa os Secretários Cantonais de Educação.

Os cantões (estados) e as comunas (municípios) financiam 85% das despesas nacionais com educação.

Na Suíça, 95% das crianças frequentam a escola obrigatória no sistema público.

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