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FIFF estréia com filme argentino e fecha com filme brasileiro

Cena de "Pomegranatges and Myrrh", filme palestino.

A 23a.edição do Festival Internacional de Filmes Friburgo abre suas cortinas sábado, dia 14, com Leonera, película de Pablo Trapero, e encerra-se uma semana depois com uma noite de gala, dia 21, exibindo Linha de Passe, a mais recente obra de Walter Salles e Daniela Thomas, a ser projetada após a premiação.

A projeção de 80 longas-metragens e 16 curtas certamente animarão a pacata e bela cidade de Fribourg.

O público, sempre fiel, poderá descobrir catorze filmes selecionados para a competição, inéditos na Suíça e diferentes panoramas sobre diferentes temáticas.

Para o público de língua portuguesa, será provavelmente mais sensível ao Panorama intitulado “Fábulas da Favela”, reunindo 12 filmes relacionados com o assunto (e que você pode consultar no site em www.fiff.ch e, em seguida, clicando em “Programme 2009”).

Um urso contestado

Nesta seção, o mais polêmico da lista é Tropa de Elite, contemplado no Festival de Berlim com o “Urso de Ouro”, em 2008. A obra de José Padilha foi violentamente tachada de fascista por um crítico francês, o que parece explicar o boicote dos distribuidores suíços em relação a esse filme quase ignorado na França.

Um debate sobre o polêmico filme, entre o crítico brasileiro José Carlos Avellar, encarregado do Panorama em questão, e seu colega francês, Jean Roy, do jornal L’Humanité, o mesmo que detestou o filme, deve servir para pôr os acentos nos is.

O diretor artístico do FIFF, Edouard Waintrop, que rebate a acusação, afirma que dois outros trabalhos de Padilha incluídos no Panorama – Ônibus 174 e Garapa – devem contribuir para um melhor julgamento do filme.

Um holofote em Francisco J. Lombardi

Puxando, ainda, mais a brasa para nossa sardinha, mas ficando na América Latina, o Festival de Filmes de Friburgo, segundo Waintrop, oferece uma oportunidade excepcional para se descobrir o peruano Francisco Lombardi, “cineasta que, como o sul-coreano Lee Chang-dong, sabe falar de coisas polêmicas e profundas, porém acessíveis ao grande público.”

Fora do Peru, Lombardi, 61 anos, é conhecido apenas no mundo hispânico. Ele sabe tratar com competência situações políticas, sociais e morais registradas em seu país, mas de valor universal; situações que refletem acontecimentos similares em outras partes do continente.

Ele aborda, por exemplo os abusos da luta anti-terrorismo (Sendero Luminoso) em La Boca del Lobo; as tentações despóticas de Alberto Fujimori, um presidente eleito democraticamente, em Ojos que no ven; e mostra sua maestria no tratamento de personagens em filmes, como o “thriller” Bajo la Piel.

Francisco J. Lombardi (é assim que ele assina, sendo o J a abreviação de José), já realizou 18 filmes. O FIFF proporciona ocasião para se descobrir, então, um ilustre cineasta que continua pouco conhecido.

O fascínio indiano

Por outro lado, o diretor artísticodo FIFF deixou-se trair pela sua uma particular simpatia com relação à “formidável” produção indiana. Dos 14 filmes em competição, treze vêm de diferentes países. A India foi o único a entrar com dois. Na ciclo “O Padrinho (Godfather) na Ásia”, a metade dos filmes é originária daquele país. Também há mais um outro indiano na seção “A Revanche das Mulheres”.

Waintrop justifica essa simpatia pelo seu empenho em acabar com preconceitos sobre uma cinematografia, marcada pelas melodramas de Bollywood. “O cinema indiano é dinâmico e se renova intensamente”. Daí a insistência do diretor artístico em combater tais preconceitos.

No mais, afirma, a Índia é a segunda potência na produção cinematográfica e “um país com capacidade de renovação e de criação absolutamente extraordinários.” Embora metade dos longas-metragens em competição proceda da Ásia, para ele não há desequilíbrio na programação. O Brasil, um gigante, “em proporção à Índia, é um anão.” (Entendemos que ele falasse em termos de produção de filmes).

Uma Argentina menos exuberante

O diretor do FIFF diz-se preocupado em promover a diversidade cinematográfica e realça mudanças de um ano para o outro. E, como especialista, observa que a América Latina continua a produzir filmes interessantes.

A esse respeito, pode surpreender, porém, que um filme da Argentina abra o Festival, mas a produção do país esteja ausente da competição de longas. E por quê? “Os filmes argentinos que a comissão julgadora visionou pareciam menos interessantes que os filmes peruanos, brasileiros ou mexicanos…”, arremata.

Note-se, a propósito que, nos últimos anos, os filmes argentinos surpreenderam pela qualidade. Ora, a qualidade de seleção é, óbvia e justamente, o critério principal dos organizadores do FIFF. Este ano ela teria faltado na produção dos “hermanos”.

Lembremos ainda que a preocupação constante manifestada por esse Festival de Filmes de Friburgo é levar o espectador à descoberta de cinematografias (geralmente excluídas dos dos grandes circuitos de distribuição) originárias da África, Ásia e América Latina. E graças a Friburgo, muitos cineastas saíram da sombra

A prova disso é que a maioria dos longas e curtas-metragens programados “nunca foi projetada na Suíça e, alguns, nem na Europa”, lembra Waintrop.

E em termos de descoberta, não há dúvida, os amantes de cinema não sabem para onde onde correr, diante de tantas opções…

swissinfo, J.Gabriel Barbosa.

O Festival Internacional de Filmes de Friburgo inova:
– as primeiras projeções começam ao meio dia de sábado, dia 14, apesar de a abertura estar prevista para as 19:30 h .

– A cerimônia de encerramento, no sábado seguinte, realizar-se-á às 17:00, seguida da projeção do filme brasileiro Linha de Passe.

– Pela primeira vez, a título experimental, quem assiste aos filmes em competição poderá votar pela Internet. Assim dispensa-se o voto em papel para a designação exclusiva do Prêmio do Público.

– Se a principal recompensa continua sendo Le Regard d’Or (olhar de ouro), o FIFF criou este ano um novo prêmio, Talent Tape, no valor de 27 mil francos. Com esse prêmio, o ganhador poderá fazer a transposição do filme rodado em digital, copiando-o em uma película convencional..

Orçamento e público jovem

O orçamento do FIFF continua modesto : 1’700’000,00 o que corresponde a menos de um milhão e meio de dólares.

Um cinema friburguense com duas grandes salas está reservado durante o Festival para “projeções escolares”. Quarenta e cinco escolas, do cantão de Friburgo, de nível primário e secundário, inscreveram-se para o evento. São ao todo 8.500 alunos, acompanhados por 450 professores. O objetivo é sensibilizar o jovem público para a sétima arte.

Um júri prestigioso

O júri, de cinco membros, é composto pelo prestigiado cineasta indiano, Addor Gopalakrishnan, um habitué do FIFF ; Martina Gusmán, da Argentina, atriz e produtora de Leonera, que foi apresentado em Cannes; Oliver Paulus, suiço, realizador de Tandoori Love; Norma Rivera Valdivia, peruana, diretora da Cinemateca de Lima, que ajudou a montar o Panorama Francisco Lombardi, e, ainda, Nicolas Philibert, cineasta francês, documentarista, que conseguiu um enorme sucesso com Etre et Avoir.

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