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Mestres modernos de uma coleção única da Suíça

"O Esterel e a baía de Cannes", Félix Vallotton, 1925 fondation-hermitage.ch

"Van Gogh, Bonnard, Vallotton…”. A “Fondation de l'Hermitage” de Lausanne oferece uma rara oportunidade para ver obras de mestres modernos da aclamada coleção Hahnloser.

Reunida em Winterthur entre 1905 e 1936 por um oftalmologista, Arthur Hahnloser , e sua esposa artista, Hedy Hahnloser-Bühler, a coleção é um instantâneo precioso de um período da história da arte entre o impressionismo e o modernismo.

É uma história excepcional de como uma família suíça sem grandes recursos, nem tradição artística, consegue formar uma prestigiosa coleção.

“A coleção é única, não só por causa de sua visão e coerência, mas também porque é uma das poucas coleções de arte particular que se manteve praticamente intacta”, explica à swissinfo.ch Angelika Affentranger-Kirchrath, curadora da Villa Flora, a casa que abriga a coleção permanente em Winterthur.

Villa Flora é a antiga casa da família Hahnloser que se tornou um museu em 1995. Inspirada do “Jugendstil”, a casa é considerada uma obra de arte em si, mas não é grande o suficiente para expor a grande coleção de arte reunida durante mais de 30 anos pelos Hahnlosers.

A exposição das 150 obras atualmente em exibição na “Fondation de l’Hermitage”, em Lausanne, oferece uma oportunidade para compreender o significado da coleta obsessiva de uma família de Winterthur, bem como ver de perto obras de grandes mestres.

Encontro com Hodler

Foi o pintor Giovanni Giacometti, pai de Alberto, que apresentou os Hahnlosers à cena artística, incluindo a Ferdinand Hodler, o controverso, mas admirado pintor cuja obra seria posteriormente defendida pelo casal.

Hedy descreve assim o encontro com Hodler: “Nós estávamos experimentando pela primeira vez o que vivenciaríamos centenas de vezes depois, o desejo irreprimível de olhar o mundo através dos olhos de um mestre”.

“Hedy era claramente a força motriz por trás da coleção”, diz Affentranger, admitindo, no entanto, que o marido de Hedy, Arthur, e o cunhado Emil, um magnata do setor têxtil, também desempenharam um papel ativo. A parte da coleção de Emil Hahnloser foi deixada aos Hahnlosers após sua morte em 1940.

“O que ela queria, acima de tudo, era conviver com seu tempo e acreditava que a arte era realmente a melhor maneira de fazer isso”, explica a curadora, falando de uma mulher cuja educação protestante e problemas de saúde causados pela tuberculose deixaram a imagem de alguém incrivelmente forte e extremamente frágil. Hedy sobreviveu ao marido por 16 anos.

“Hedy Hahnloser queria decorar a vida com arte, mas não era nada ostentosa”, diz Affentranger.

De 1908 até a repentina morte do médico, em 1936, o casal fez frequentes viagens à França, inclusive à Cannes, onde haviam comprado uma casa para estar perto da comunidade artística.

Uma exposição única

“Esta é a primeira vez em que muitas das obras estão sendo expostas juntas”, diz Affentranger, acrescentando que o processo de curadoria da exposição de Lausanne, em colaboração com Juliane Cosandier, que está deixando a fundação, e sua sucessora Sylvie Wuhmann, foi complexo, mas a experiência inspiradora.

A coleção encontrou seu caminho na graciosa mansão de Lausanne, não em ordem cronológica, mas por artista ou apresentações temáticas, um arranjo que produz algumas associações interessantes.

“Os Nabis formam o coração da coleção, por isso decidimos apresentar ‘uma coleção dentro da coleção’”, conta, explicando a mostra monográfica de Pierre Bonnard e Félix Vallotton, os principais representantes do movimento pós-impressionista que se tornaram amigos íntimos dos Hahnlosers.

A intimidade que Bonnard chamava de seus “momentos encantadores” – mulheres perdidas em devaneios enquanto se banham ou esperam que algo aconteça – que faz um forte contraste com as obras ferozmente enigmáticas de Vallotton.

Fauvismo

Outras revelações incluem um Odilon Redon de cores extraordinariamente turbulentas e obras de impressionistas de natureza inesperada: telhados de Paris de Cézanne, estrias de fogos de artifício de Van Gogh e paisagens plumosas de Renoir.

Para coroar a coleção, os artistas fauvistas, que sucedem os Nabis, são representados por Matisse, Rouault e Henri Manguin, possivelmente até então desconhecido para muitos visitantes.

“Nós restauramos a excitação inicial e as conquistas radicais de uma das mais importantes coleções privadas da Suíça”, diz Cosandier, que admite ter o prazer de fechar com chave de ouro os 15 anos de sucesso como diretora da Hermitage com esta prestigiosa exposição.

Muitas famílias da Suíça colecionadoras de arte tiveram um impacto no mundo das artes visuais: os Beyelers (Fundação Beyeler em Basileia), os Bechtlers (Museu Bechtler de Arte Moderna em Atlanta, EUA), os Hoffmans (Schaulager em Basileia) os Roches (Museu Tinguely em Basel) e Uli Sigg, entre outros.

A maioria das obras da coleção foram compradas diretamente nos ateliês dos artistas.

Vários trabalhos testemunham os momentos de amizade calorosa compartilhada com Vallotton, Manguin, Vuillard e Bonnard. Muitos são retratos dos Hahnlosers ou de seus dois filhos.

Após a morte de Arthur, em 1936, e Hedy, em 1952, seus herdeiros criaram a Fundação Hahnloser/Jaeggli. Sob seu impulso, a Villa Flora – construída em 1858 e modificada e ampliada várias vezes para abrigar a coleção – foi aberta ao público em 1995.

A exposição apresenta as obras-primas da Villa Flora, mostradas exclusivamente em Lausanne com outras obras emblemáticas que faziam parte originalmente da coleção Hahnloser e agora estão em mãos de particulares ou museus públicos (Kunstmuseum Bern e o Kunstmuseum Winterthur, que Arthur Hahnloser ajudou a fundar).

Ao lado de Bonnard, Vallotton é o destaque da coleção, que centra-se essencialmente sobre o Grupo Nabis e também inclui obras de Vuillard, Denis e o escultor Maillol.

O Fauvismo também está bem representado com pinturas de Matisse, Marquet e Manguin, além de um conjunto de obras de Rouault.

A exposição, adicionalmente, presta homenagem aos pós-impressionistas, com grandes telas de Cézanne, Manet, Renoir, Van Gogh e Toulouse-Lautrec, bem como Odilon Redon.

Van Gogh, Bonnard, Vallotton – La collection de Arthur et Hedy Hahnloser…” exposição em Lausanne, até 23 de outubro de 2011.

Adaptação: Fernando Hirschy

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