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Percussão de vanguarda suíça faz sucesso no Brasil

Trio suíço tem formação clássica Pierre-W. Henry

A reação do público que, em número razoável, marcou presença na noite de 5 de maio no Teatro Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro, passou do espanto inicial ao encantamento final.

Essas são algumas das emoções que o grupo de percussão suíço We Spoke está provocando nos brasileiros durante sua turnê pelo Brasil, que começou em 27 de abril na cidade de Curitiba e terminou em 7 de maio em Belo Horizonte.

Com um espetáculo baseado em peças clássicas do Teatro Musical e performances vanguardistas que combinam eloquentes momentos de ruído, ritmo e silêncio, o trio suíço conseguiu surpreender com sua percussão o próprio país da percussão. (Veja vídeos do grupo no link na coluna à direita)

Responsável pela companhia, diretor do espetáculo e um dos três músicos que sobem ao palco, Serge Vuille está exultante com a primeira visita do We Spoke ao Brasil: “A turnê se passa muito bem. Nós começamos com um concerto extraordinário em Curitiba, com mais de cem pessoas no Teatro Paiol. O público brasileiro reage muito positivamente à nossa proposição de música contemporânea teatral. Tivemos muitas reações e discussões, o público veio nos procurar após as apresentações para fazer perguntas sobre o nosso trabalho, tivemos momentos de troca com o público bastante interessantes”, diz.

Vuille ressalta que, além da rica experiência musical, a turnê brasileira serve como oportunidade de contato com os meios artísticos e acadêmicos no Brasil: “Fizemos também muitos contatos com as universidades em cada uma das cidades – Belas Artes em Curitiba, Unesp em São Paulo, UFRJ no Rio de Janeiro e UFMG em Belo Horizonte – e pudemos trocar várias idéias com os estudantes sobre o nosso programa”.

Outro integrante do trio, Julien Mégroz fala sobre sua satisfação em poder trazer novas informações artísticas e musicais a um país tão identificado com a música em geral e a percussão em particular: “Nós fizemos um pouco com que o público brasileiro descobrisse esse tipo de música, a qual ele não é habituado. A percussão faz parte da cultura brasileira, mas está mais ligada à música popular, por isso o Teatro Musical pode ser algo de realmente novo para o público brasileiro. É muito interessante poder apresentar isso aos brasileiros e descobrir que eles são muito interessados e abertos a esse tipo de música”.

Som e silêncio

O time do We Spoke é completado por Julien Annoni, que explica um pouco do espetáculo que o grupo suíço apresentantou no Brasil: “Construímos esse programa basicamente em torno da peça de Jacques Demierre – ‘La Table Pour Trois’ ou ‘La Troika s’Ennui’ – que é uma obra monumental para percussão feita por três pessoas em uma mesa e dura cerca de trinta minutos. A peça ‘Living Room Music’, de John Cage, vem se juntar logicamente ao espetáculo porque é uma peça sem instrumentos de música tradicionais. Em seguida, completam muito bem o programa duas outras peças propostas por Serge”, diz.

De fato, as peças se encaixam em uma sequência lógica, mas por vezes desconcertante. Entre som e silêncio, pausa e movimento, a sensação do público é de estar de fato diante de um espetáculo de vanguarda: “Na maior parte das vezes, nós executamos peças que são escritas, que foram compostas de uma certa maneira que engendra naturalmente muito ritmo e também muito silêncio. Nós temos momentos de movimentos longos sem muito som, é verdade que há muito silêncio. A peça ‘Une Table Pour Trois’ é uma mis-en-scène que incita também muito silêncio, muita pausa, muitos momentos onde o cenário é bastante estático. É em torno da música tal qual ela é escrita, em efeito, que o conceito de ruído, ritmo e silêncio se torna o que ele é em nossas apresentações”, analisa Julien Mégroz.

Parceria brasileira

Na turnê brasileira, que tem cenografia assinada por Christian Kesten, o We Spoke recebe no palco a companhia do músico brasileiro Vina Lacerda, percussionista curitibano com foco na música popular e que acrescenta alguns elementos seus ao som do trio suíço: “Estou entrando na linguagem deles. Um dos desafios do músico é tocar sob outras linguagens e abrir sua mente para outras coisas. Estou integrando os meus toques pessoais, ritmos, grooves e suingues a essa concepção mais erudita e contemporânea trazida pelo We Spoke”, diz.

Lacerda também se mostra muito satisfeito com a turnê: “Está sendo uma experiência muito legal. Eu conheci o Serge por intermédio de uma amiga comum e nós descobrimos diversas afinidades musicais que acabaram criando uma amizade. Agora, estamos produzindo este projeto juntos aqui no Brasil”.

Serge Vuille, que fala português com alguma fluência, já conhece a música brasileira há algum tempo: “Eu comecei a ter muitos contatos com o Brasil após meus estudos em La Chaux-de-Fonds (oeste), pois havia alguns estudantes brasileiros lá. Depois, comecei a ter contato com músicos brasileiros que vivem na Suíça e também com músicos brasileiros no Brasil”, conta.

O desejo dos integrantes do We Spoke é poder retornar em breve ao Brasil. Além dos workshops realizados nas universidades e do contato com o público, o objetivo é tornar a música suíça de vanguarda mais conhecida no país: “Nosso estilo é chamado de teatro musical, mas, antes de qualquer outra coisa, nós somos uma trupe de músicos com base de estudos em música clássica. Mesmo que a música contenha elementos cenográficos, o que nós levamos é música para cima do palco”, afirma Julien Annoni.

Um dos elementos do espetáculo do grupo suíço We Spoke que mais divertiu o público brasileiro foi a utilização de objetos domésticos para a obtenção de efeitos de percussão, tais como tesouras, martelos, chaves-de-fenda, chapéus e jornais velhos.

Até mesmo objetos inusitados, como cafeteiras e isqueiros são utilizados pelo grupo suíço durante a apresentação. Tudo vira som e ritmo.

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