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Recepção de cinco estrelas para a seleção portuguesa

Hotel Beau Rivage visto do alto ao lado do lago de Neuchâtel. Pierre-William Henry

Escolhido pela equipe portuguesa para se hospedar durante a Eurocopa 2008, o Beau-Rivage é o melhor hotel cinco estrelas de Neuchâtel. Poucos sabem que ele pertence ao empresário relojoeiro Yves Piaget.

De setenta funcionários, doze são portugueses. Um até foi escolhido para ser coordenador da seleção lusitana durante o torneio. O gerente não quer erros: quem ainda não fala o idioma de Camões ganha aulas gratuitas.

O azul marinho do lago dá um bonito contraste para a imponente construção de três andares pintada de amarelo e bege. Além das cores, o ar mediterrâneo é reforçado pela “Promenade Esplanade Du Mont-Blanc”, o passeio público localizado logo a frente das suas janelas, onde hóspedes e pedestres caminham aproveitando o sol e as temperaturas surpreendentemente amenas para essa época do ano.

O Beau-Rivage Hotel é considerado um dos endereços mais exclusivos de Neuchâtel. Construído em meados do século XIX como residência para o industrial Alfred Borel, o prédio tombado pelo patrimônio histórico estava em péssimo estado de conservação quando foi comprado, em 1990, pelo grupo hoteleiro Beaufort International. A idéia era reformá-lo para abrir um hotel cinco estrelas com 65 quartos e suítes.

A reforma, realizada por uma equipe do arquiteto americano Ed Tuttle, durou três anos e não deu os resultados esperados. Pouco depois os proprietários venderam o estabelecimento ao empresário do ramo de relojoaria Yves Piaget, de Genebra. Este deu o toque pessoal ao hotel, para quem o investimento se justifica por uma questão estratégica.

“A idéia era ter um cinco estrelas que fosse capaz, sobretudo, de receber empresários e oferecer um espaço adequado para encontros de negócios no ramo da relojoaria. Temos aqui no cantão de Neuchatêl uma grande quantidade de empresas de renome mundial nesse setor”, explica Thomas Mächler.

Cultura “arejada”

O jovem gerente do Beau-Rivage nasceu em Zurique, na parte alemã da Suíça, mas se formou na famosa Escola de Hotelaria de Lausanne, de língua francesa. Fluente em vários idiomas, ele explica que foi trazido para o cantão graças à esposa. “Temos outra cultura nesta parte do país. Ela é mais arejada e solta aqui, mais latina”, brinca.

Apesar da diversidade cultural, na alta hotelaria helvética não existem diferenças: qualquer estabelecimento desse nível prima pelo asseio, pontualidade, organização e simpatia, treinada obviamente com afinco nas escolas de hotelaria, consideradas as melhores do mundo. Não é por azar, que todos os funcionários ao passar pelos hóspedes, se virem e abram sorrisos antes de desejar um bom dia. “A primeira impressão é um aspecto extremamente importante para a qualidade dos nossos serviços”, justifica o gerente.

Possivelmente este e outros critérios afora o luxo foram suficientes para convencer a comissão técnica da seleção portuguesa que, em dezembro, esteve no Beau-Rivage para anunciar que o cinco estrelas iria abrigar a seleção portuguesa durante a Eurocopa 2008. A boa notícia não foi recebida apenas por Thomas Mächler como uma dádiva. “Doze, dos nossos setenta funcionários, são portugueses. Eles estão se sentindo como no céu”, conta.

O mais contente deles é Delfim Santos que, após acompanhar a comissão técnica, incluindo também o treinador Luiz Felipe Scolari, pelo hotel e também como guia turístico em Neuchâtel, foi escolhido oficialmente para ser o coordenador da seleção portuguesa durante todo o campeonato.

Portugueses na Suíça

Aos trinta anos, Santos é encarregado da técnica e segurança no Beau-Rivage Hotel. Nascido em Vila Nova de Paiva, vilarejo próximo ao Porto, ele chegou aos dezessete anos na Suíça para se juntar à família, imigrada nos anos oitenta. Depois de pequenos trabalhos nas colheitas de uvas no Lavaux, ele começou a trabalhar em hotéis suíços. “No início na limpeza, como porteiro, até chegar na recepção e depois como responsável por alguns setores”, conta com orgulho o jovem português, que hoje fala um francês quase sem sotaque. “Aprender o idioma foi algo fundamental para a minha integração e sucesso profissional”.

Apesar de ser um torcedor do Benfica, a paixão de Delfim é por toda a seleção portuguesa. “Meu filho já pediu para mim um autógrafo do Cristiano Ronaldo, mas disse que não poderia prometer nada. Minha função é, sobretudo, assegurar que eles não tenham nenhum problema durante sua estadia na Suíça”.

Durante sua ocupação como cicerone dos jogadores lusitanos, Delfim será liberado pelo seu chefe, o gerente do hotel. “Ele me disse que essa era uma oportunidade única na vida e que eu não deveria desperdiçá-la”, conta o jovem português.

Também outros funcionários portugueses do Beau-Rivage estão felizes de estar próximos da seleção. Cacilda Trani, 25 anos é responsável pelas camareiras e já planeja assistir pessoalmente alguns jogos. Como muitos do seu país, outros membros da sua família também já vivem há muitos anos em Neuchâtel. Porém ela fugiu da regra e se casou um italiano. “Só torcemos por seleções diferentes”, brinca.

Já Felipe Lourenço, da cidade de Viseu, no centro de Portugal, vive há seis anos na Suíça. No Beau-Rivage ele é responsável pela limpeza e compras. Devido aos preços elevados, o jovem português desistiu de comprar bilhetes para assistir os jogos do Euro. “Eu só fui assistir o amistoso entre Portugal e a Itália em Zurique, que foi uma partida muito boa, apesar da nossa seleção ter perdido”.

A vinda da seleção portuguesa mudou o ritmo no cinco estrelas à beira do lago de Neuchâtel. Para preparar a equipe, o gerente contratou um professor de português – de Portugal – para oferecer, a partir de março, cursos de dois meses de duração em aulas esporádicas. Os portugueses que já trabalham no hotel também estão ajudando seus colegas a aprender palavras e frases úteis. “O objetivo é permitir que todo mundo saiba cumprimentar um jogador, ou orientá-lo para encontrar o caminho certo ou mesmo a encontrar sal ou gelo, ou seja, coisas simples”, justifica Mächler.

Infra-estrutura de luxo

Por ser um hotel tão novo, o Beau-Rivage não precisa ser reformado para receber a equipe portuguesa como ocorrem com outros estabelecimentos. Durante todo o período do campeonato, que vai de 7 a 29 de junho, o hotel está reservado exclusivamente para os jogadores, técnicos e outros membros da delegação. Além dos 65 quartos e suítes, eles terão a disposição um restaurante com vista panorâmica para o lago de Neuchâtel e os Alpes, bar, terraço, salas de seminários para até 250 pessoas e “B-Spa”, um pequeno setor de wellness e ginástica, que foi aberto em fevereiro de 2006.

A logística para receber a seleção portuguesa ainda está sendo definida entre a administração do hotel e os coordenadores. Muito provavelmente a equipe virá à Neuchâtel acompanhada pelos próprios cozinheiros, preparadores esportivos e massagistas. “De qualquer maneira, temos membros na nossa equipe que serão capazes de atender desejos especiais como preparar um bom bacalhau”, assegura o gerente.

Mächler não sabe ainda quem vai ocupar uma das três suítes, cujas diárias variam entre 1.005 e 2.500 francos suíços. A mais cara tem vista direta para o lago de Neuchâtel. Já os outros quartos, onde as diárias vão de 295 a 470 francos são mais simples, e diferem apenas em pequenos detalhes.

Os custos são cobertos inteiramente pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Estes incluem não apenas as diárias de todos os quartos do hotel durante o campeonato, mas também outras despesas administrativas e até perdas previstas. “Uma delas será o nosso restaurante externo, que normalmente é bem movimentado durante o verão e que estará fechado durante todo esse tempo por questão de segurança”, explica.

Para Delfim Santos essa é a principal preocupação. Apesar dos portugueses não serem conhecidos como torcedores violentos, ele não esconde que a paixão pelo futebol está no sangue do povo lusitano. “Com tantos patrícios aqui em Neuchâtel, teremos com segurança milhares de pessoas nas ruas. Não é todo dia que você pode ver de tão perto os jogadores da nossa seleção”, explica.

swissinfo, Alexander Thoele

– Neuchâtel tem 169 mil habitantes. Destes, 39.103 são estrangeiros. A comunidade portuguesa é a mais numerosa: 10.838 (28% do total).

– A maioria dos portugueses (75,6%) dos portugueses são residentes fixos (detentores da chamada Permis C) e 24,1% têm uma autorização anual de permanência na Suíça (Permis B).

– A população portuguesa no cantão de Neuchâtel é jovem: 23% têm menos que 15 anos, 35,7% menos do que 25 anos e 78% menos do que 45 anos.

– Existe um equilíbrio entre homens e mulheres na comunidade portuguesa: 46,5% de homens e 53,5% de mulheres. Os solteiros são 43%.

– Os portugueses trabalham em grande parte nos setores de construção civil, indústria, hotelaria e gastronomia e serviços de limpeza.

– O cantão de Neuchâtel tem dois grandes centros culturais portugueses na capital, um em Val-de-Travers e outro em La Chaux-de-Fonds.

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