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Wang Zhian: a voz democrática da China

O Massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989, a invasão da Ucrânia pela Rússia, a luta pelo poder no Partido Comunista (PC): jornalistas chineses ainda escrevem sobre temas considerado "proibidos" pelo governo.

A China é o maior mercado de mídia do mundo. Mais de um bilhão de pessoas têm acesso à internet, o que corresponde a mais de 70% do total da população. Mais da metade delas utiliza a rede social Weibo – equivalente, na China, ao Twitter. Nessa plataforma o jornalista Wang Zhian, 54 anos, tinha mais de seis milhões de seguidores.

Mas em 3 de junho de 2019, no 30º aniversário da brutal repressão aos protestos na Praça Tiananmen, sua situação mudou. A conta de Zhian no Weibo e em outros canais nas mídias sociais foram fechados pelas autoridades.

“O líder Xi Jinping acha que a mídia não deve atuar como um cão de guarda. O presidente da China considera que o país só necessita de órgãos de propaganda”, avalia Wang Zhian. Temendo pela segurança, o jornalista abandonou a China e mudou-se para o Japão.

A liberdade de expressão, que nos mais de 70 anos de história da República Popular da China nunca foi considerada como patrimônio a ser defendido pelos governantes comunistas, foi bastante tolhida nos últimos anos: a carreira jornalística de Wang Zhian – uma das últimas vozes democráticas na China – mostra isso com toda a clareza.

Zhian foi contratado como jornalista investigativo pela redação da emissora estatal chinesa CCTV em 1998. E quando deixou a emissora em 2015, conseguiu um emprego como redator-chefe do jornal do partido “The Beijing News”. Em ambas as funções revelou casos de corrupção, denunciou casos de apropriação ilegal de terras e expôs abusos no sistema de saúde. 

Apesar dos constantes avisos de censura, muitas das suas reportagens foram publicadas, ajudando a tornar transparente o exercício do poder nesse Estado monopartidário. Isso passou: dezenas de milhares de jornalistas abandonaram seus empregos nos últimos anos, diz Wang Zhian à SWI. “O jornalismo morreu na China”.

No final de 2022, 127 jornalistas cumpriam pena nas prisões chinesas por causa do seu trabalho, informa a ong Repórteres sem Fronteiras. Mas alguns continuam trabalhando fora da China, dentre eles Zhian. Por exemplo, da Ucrânia, onde a Rússia, aliada da China, vem travando uma brutal guerra de agressão há mais de dez meses. O tema é considerado “tabu” dentro da China.

Adaptação: Alexander Thoele

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