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Exame de consciência suíço repercute no mundo

Estudo de uma equipe internacional de historiadores - chefiada por Jean-François Bergier (foto) - sobre a atitude suíça em relação aos refugiados no período nazista recebe elogios e críticas no exterior. Na Suíça alimenta controvérsia...

O estudo de 800 páginas passa a limpo a história da suíça durante o período nazista nos anos 30 e 40. Esse chamado “Relatório Bergier”, tem como tema principal, “a Suíça e os Refugiados”. Ao denunciar a cumplicidades da Suíça com o regime nazista destaca em especial dois pontos: a adoção da letra J (abreviação de Judeu) carimbada em passaportes dos judeus alemães a partir de 1938 e, em 1942, o fechamento da fronteira suíça aos refugiados alemães perseguidos pelos nazistas pelo fato de não serem arianos. (Segundo esse documento, ao distinguir entre “arianos” e “não-arianos”, o governo suíço “reconheceu implicitamente as leis raciais alemãs e entrou na lógica do nacional-socialismo”.) E constata que a Suíça acolheu 20 mil judeus e rejeitou 24 mil.
Nos Estados Unidos e Israel o documento foi bem acolhido. Em Israel em particular acentuou-se a vontade de a Suíça esclarecer seu passado. E o secretário geral do Congresso Judaico Mundial, Israel Singer, elogia o esforço de autocrítica consentido pela Suíça.
Na Europa, a imprensa francesa, britânica e alemã dedicaram bastante espaço ao documento, realçando as conclusões, formulando críticas ou anunciando conseqüências. Em Paris, O jornal “Le Monde” fala de “etapa importante no exame de consciência da Suíça em relação a seu passado”. “Le Figaro” estima que “ele vem reforçar a imagem de uma Suíça oficial e da finança prontas a se acomodarem à política do Eixo para muitas vezes dela beneficiar-se”.
Em Londres, o “Financial Times” acha que a Suíça será submetida a pressões por parte dos sobreviventes judeus vítimas das perseguaições nazistas porque o Relatório Bergier conclui que a política suíça sobre refugiados ajudou o regime nazista a atingir seus objetivos”. Na Alemanha, o “Frankfurter Allgemeine Zeitung” destaca uma “política suíça sobre refugiados pouco gloriosa”.
Na imprensa suíça o documento foi amplamente comentado e continua alimentando controvérsia. A tônica geral é dada pelo jornal “Le Matin” de Lausanne: “um relatório severo, mas salutar”. E o “Neue Zürcher Zeitung”, de Zurique, estima que os historiadores não levaram suficientemente em conta o contexto histórico e o medo reinante. Acha também que não se deu destaque às atividades humanitárias e o estado de espírito anti-nazista da população. Mas admite que “uma política de refugiados mais humana teria sido possível e que milhares de pessoas poderiam ter sido salvas da exterminação”.
Note-se que um primeiro estudo da Comissão, de maio de 1998, sobre as transações em ouro efetuadas pela Suíça no período nazista (1933-1945) tinha sido sem condescendência, constatando que 79 por cento das transações efetuadas no exterior pelo banco central nazista – Reichsbank – passaram pela Suíça. E realçou que 87 por cento dessas transações foram efetuadas com o banco central suíço. Isso corroborou denúncias de que a Suíça, pela sua criticável atitude, “colaborou com o esforço de guerra nazista e prolongou a guerra”. (gb)


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