The Swiss voice in the world since 1935

Uma escolha política em favor de Pequim

Jean-Loup Chappelet, ex-funcionário do COI Keystone

Denúncias de violação de direitos humanos na China e de um acordo entre o COI e Pequim para censurar a internet - a política ameaça dominar as Olimpíadas 2008, o que não surpreende.

Em entrevista à swissinfo, o ex-diretor do COI, Jean-Loup Chappelet, diz que a escolha de Pequim para sediar os Jogos Olímpicos de 2008 foi eminentemente política e que o Comitê tinha consciência do problema dos direitos humanos.

Era 13 de julho de 2001, dia da 112a. sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI), realizada em Moscou. Fortemente apoiada pelo então presidente do COI, o espanhol Juan Antonio Samaranch, Pequim obtinha o privilégio de organizar os Jogos com 56 votos, em detrimento de Toronto, Paris, Istanbul e Osaka.

O professor do Instituto de Altos Estudos de Administração Pública, em Lausanne, e ex-diretor do COI, Jean-Loup Chappelet, estava presente à sessão, realizada na capital russa. Chappelet, que residiu dois anos na China, recorda as condições e as verdadeiras motivações do voto.

swissinfo: Na época, o COI acabava de passar por uma profunda crise decorrente dos casos de corrupção envolvendo a escolha de Salt Lake City para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002. Será que a designação de Pequim desenvolveu-se de maneira correta?

Jean-Loup Chappelet: Após o escândalo de 1999 (que resultou em dez censuras e exclusões e dez demissões de membros do COI), tanto o Comitê quanto as cidades candidatas observaram uma extrema prudência. Não houve, assim, nenhuma explícita tentativa de corrupção. Tanto mais que Pequim era a grande favorita, que há pouco fracassara na tentativa de sediar os Jogos de 2000 (marcados para Sydney).

Havia outros candidatos com incontestáveis currículos, como Paris e Toronto. Mas o COI e, principalmente, Juan Antonio Samaranch, desejavam há muito atribuir os JO a Pequim. Era uma opção política e econômica. O COI e seus patrocinadores viram melhores perspectivas na capital chinesa do que em outras cidades, pois seria atingido um quinto da população mundial. De fato, pela primeira vez na história dos Jogos, o patrocínio nacional ultrapassou o patrocínio internacional.

swissinfo: A questão dos direitos humanos teve algum peso?

Chappelet: Duas das cidades preteridas (Paris e Toronto) tentaram levantar o assunto no sentido de desabonar Pequim. Mas a questão não foi muito longe, salvo algumas manifestações em Moscou, violentamente reprimidas, poucos dias antes da votação. Os membros do COI estavam bem conscientes do problema, mas isto não os impediu de votar em favor de Pequim.

swissinfo: E a questão do meio ambiente?

Chappelet: Na realidade, o verdadeiro objetivo do COI é atribuir a realização dos Jogos à cidade candidata onde a entidade e o movimento olímpico brilhem mais.

swissinfo: Vista, hoje, a escolha de Pequim foi uma boa opção do COI?

Chappelet: Sem dúvida, o COI fez uma boa escolha. Os preparativos se desenvolveram bastante bem. Mas tudo pode desmoronar a qualquer momento. A China assumiu enormes riscos organizando esses Jogos. O regime chinês estava, aliás, dividido quanto à conveniência dessa candidatura. Se houver um incidente, por menor que seja, não conseguirá salvar as aparências.

A China quis organizar as Olimpíadas não por razões econômicas, mas para ostentar sua condição de grande potência. Havendo um atentado ou um protesto de atletas, o objetivo será questionado, podendo provocar repercussões políticas.

Esses Jogos são apoiados pela corrente liberal, favorável à abertura da China ao mundo. Um fracasso provocaria uma recomposição do poder chinês, como ocorreu quando dos acontecimento de Tiananmen, em 1989.

Entrevista swissinfo, Frédéric Burnand, em Genebra (Tradução de J.Gabriel Barbosa)

A China vai bloquear o acesso a sites críticos ao governo para os jornalistas que atuarem no centro de imprensa dos Jogos em Pequim. Ao contrário do que havia prometido, o Comitê Olímpico Internacional (COI) aceitou essa determinação.

“Representantes do COI negociaram com os chineses o bloqueio de alguns sites críticos porque eles não têm relação com os Jogos”, admitiu na quarta-feira (30/07) o coordenador de imprensa do COI, Kevin Gosper.

Anteriormente Gosper havia prometido que os 21.500 jornalistas credenciados para os Jogos Olímpicos 2008 teriam livre acesso à internet.

A China prometeu por ocasião da concessão dos Jogos, em 2001, que daria liberdade de ação aos jornalistas. O Comitê Organizador garante que as restrições agora anunciadas não prejudicam a cobertura do evento.

“A comissão destaca o processo de mudança e de ritmo, que se registra atualmente em Beijing (Pequim) e na China, bem como as dificuldades decorrentes do crescimento econômico e demográfico, esperado daqui para frente. Mas está persuadida de que essas dificuldades serão resolvidas.

A candidatura constitui um desafio no plano ambiental, mas as enérgicas medidas tomadas pelo governo e os pesados investimentos nesse setor deveriam resolver o problema e melhorar a cidade.

A Comissão acredita que os Jogos em Pequim deixariam uma herança única à China e ao esporte, e está convencida de que a cidade de Beijing poderia organizar excelentes Olimpíadas.”

(Extraído do relatório da Comissão de Avaliação do COI, de 3 de abril de 2001).

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR