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UBS lucra US$ 2,3 bilhões e quer “absolver” dirigentes

Proposta de "absolvição" de Peter Kurer (à esq.), Marcel Ospel e outros dirigentes do UBS gera críticas. Keystone

O UBS prevê um lucro de 2,5 bilhões de francos (US$ 2,3 bilhões) no primeiro trimestre de 2010, conforme informou nesta segunda-feira (12/4), dois dias antes da assembleia geral de seus acionistas.

Apesar das previsões positivas, a assembleia em Basileia (14/4) promete ser turbulenta. O conselho de administração propõe desobrigar a atual direção e ex-executivos, como o ex-presidente Marcel Ospel e seu sucessor Peter Kurer.

A inclusão deste item na pauta da assembleia gerou fortes críticas da mídia e de políticos interessados numa investigação das causas da crise do banco, que foi o mais abalado da Europa. O UBS emitiu um comunicado negando que tente esconder qualquer coisa.

“Ao pedir a desobrigação, o banco não está tentando fugir de seu passado. Estamos enfrentando a questão da responsabilidade civil e damos aos nossos acionistas o direito de decidir”, afirma o banco.

Se a proposta for aprovada, os dirigentes (atuais e antigos) não poderão ser responsabilizados judicialmente, por exemplo, por envolvimento com as perdas do banco, de cujos cofres foram retirados mais de 200 bilhões de francos depois da crise hipotecária e do escândalo fiscal nos EUA.

A atual diretoria do banco decidiu em dezembro, após uma investigação da autoridade reguladora do sistema financeiro suíço (Fimna), não mover ações criminais ou civis contra executivos. Promotores do cantão de Zurique também consideraram que não houve caso que justifique uma ação na Justiça. O Parlamento suíço ainda discute se cria ou não uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o assunto.

Oposição da fundação Ethos

A fundação Ethos, que lidera a oposição entre os acionistas do UBS, critica a atual direção do banco, com Kaspar Villiger na presidência do conselho de administração e Oswald Grübel na função de executivo-chefe, por ter renunciado a processos de indenização contra seus antecessores.

Por isso, a Ethos, que tem ligações com cerca de 80 fundos de pensão, quer rejeitar também a desobrigação de Grübel e Villiger para 2009, acusando-os de terem introduzido novamente um sistema de bônus sem tirar lições do passado.

Segundo uma sondagem do jornal Tages Anzeiger, de Zurique, uma dúzia de fundos de pensão devem seguir o voto da Ethos. A fundação diz que também a influente empresa de consultoria de acionistas Riskmetrics/ISS (EUA) rejeita a desobrigação para 2007 e o modelo de bônus do UBS.

Poucas chances para acionistas

Sobre o sistema de bônus haverá apenas uma votação consultiva, não vinculativa para a direção do banco. O diretor da Ethos, Dominique Biedermann, admite que, mesmo que a desobrigação dos dirigentes do UBS fosse aprovada na assembleia geral, dificilmente um acionista normal poderia arcar com os custos financeiros de uma queixa-crime contra o banco.

Peter Kunz, um especialista em direito empresarial da Universidade de Berna, acredita que o UBS pode ter ignorado o humor de seus acionistas, agindo de forma precipitada. Desobrigar os executivos de suas responsabilidades é uma prática comum na Suíça, mas o UBS poderia ter esperado mais um ano ou dois até que todas as investigações estivessem concluídas, disse à swissinfo.ch

“Se o UBS receber um voto ‘sim’, isso reforçará sua posição contra futuras investigações”, disse Kunz à swissinfo.ch. “Eu acho que o banco espera obter um ‘sim’, mas seria embaraçoso para o conselho se os acionistas votassem ‘não'”.

Kunz acredita que alguns acionistas querem forçar a atual direção do UBS a repensar a sua decisão de dezembro de absolver ex-chefes. “Se o voto for ‘não’, não haverá reais implicações legais diretas para o UBS”, disse à swissinfo.ch. “Mas isso poderia forçar o UBS a rever a sua decisão, algo que poderia fazer a seu critério.”

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com colaboração de Matthew Allen)

O UBS prevê um lucro de pelo menos 2,5 bilhões de francos no primeiro trimestre de 2010. No último trimestre de 2009, o lucro do UBS (sem impostos) foi de 900 milhões de francos. No final das contas, o banco contabilizou um lucro líquido de 1,2 bilhão de francos. No primeiro trimestre do ano passado, teve prejuízo de 1,5 bilhão de francos.

O fuga de dinheiro do banco recuou “consideravelmente”, informa o UBS em um comunicado. Nos três primeiros meses deste ano, foram sacados cerca de 18 bilhões de francos, quase três vezes menos do que no último trimestre de 2009, quando aproximadamente 56,2 bilhões de francos foram retirados do banco.

Os números detalhados dos balanço do primeiro trimestre de 2010 serão apresentados em 4 de maio próximo. O UBS já havia anunciado que esperava lucros de mais de 2 bilhões de francos na área de banco de investimento.

Lucro (+) / prejuízo (-) anual do UBS em bilhões de francos suíços de 2003 a 2009:

2003: +6,39
2004: +8,09
2005: +9,84
2006: +12,26
2007: -4,38
2008: -20,88
2009: -2,7

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