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Escritor Jacques Chessex celebra francofonia em Portugal

Jacques Chessex, morto em 2009. Keystone

Jacques Chessex é o escritor eleito pela Suíça para celebrar a francofonia, na Festa da Francofonia 2011, o autor helvético foi alvo de um conjunto de iniciativas que, de norte a sul de Portugal, deram a conhecer, um pouco melhor, a vasta obra de um dos mais prestigiados escritores francófonos.

Autor de uma obra reconhecida internacionalmente, Jacques Chessex foi dado a descobrir pelo seu amigo, escritor e jornalista, Gilbert Salem.

Perante um público atento, o conferencista Salem revelou várias facetas da obra e do homem que, com o livro “O Ogre”, que foi Prix Goncourt em 1973.

Sob o título “Jacques Chessex: um escritor e um poeta francófono; uma paixão violenta pela Suíça, o seu país que detesta e adora ao mesmo tempo”, as conferências permitiram, paralelamente, a descoberta e o aprofundar de conhecimento sobre o autor Jacques  Chessex . ”Uma personagem que era ora admirado, ora odiado pelos suíços. Os seus compatriotas pensam que ele os desdenhava e menosprezava, mas não. A verdade é que ele os amava muito, em demasia,” afirma Salem.

As Conferências na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde também esteve patente uma exposição de livros e fotografias do autor helvético, fizeram parte da iniciativa que, entre 14 e 20 de março, foi dedicada ao escritor, e cuja iniciativa partiu Departamento Federal dos Negócios Estrangeiros da Suíça.

Comparando-o com outros grandes escritores como James Joyce, na Irlanda, e Dylan Thomas, no País de Gales, “porque são pessoas muito próximas e muito enraizadas no seu país, e ao mesmo tempo procuram alcançar uma certa universalidade”, Salem evidenciou a “enorme dimensão deste grande escritor que foi Jacques Chessex”, que editou perto de 90 livros, entre os quais 25 romances.

Interrogar para desvendar

 Perante o público português, Salem mostrou como Chessex, quando era jovem, tinha uma escrita “barroca, extravagante, muito alambicada, e bastantes vezes impregnada de regionalismos e ironia”. E, a seguir, “como esta escrita se transforma em clássica e acaba por se depurar de uma forma quase Zen-japonesa”.

Interessado pelo realismo mais imediato, mas sempre sob o signo da metafísica e da transcendência, Jacques Chessex tem três grandes “temas maiores na sua escrita : o amor da mulher, ou seja a sexualidade e o erotismo por vezes mais violento, e, associado, Deus e a Morte.” O que para o conferencista revela como “ele amava da mesma forma e com a mesma intensidade a mulher, sexualmente falando, a morte, sexualmente falando, e Deus, sexualmente falando. Algo que chocou muito, mas nele era uma pulsão que já vinha desde a sua juventude.”

“O que eu adoro em Chessex é o seu lado por vezes oportunista, que faz da mediocridade algo de esplendoroso, grandioso. Transformava uma pedra sem valor num diamante,” reconhece Salem.

Comentando o último livro de Jacques Chessex a ser publicado, Le dernier crâne de M. de Sade, Salem lamenta o fato de a publicação ter sido vendida, na Suíça, “debaixo de um certo tipo de censura “. O que considera “uma grande hipocrisia porque os livros do Marques de Sade são bem piores, e contudo estão em venda livre”.

“Mas não acredito que este livro (Le dernier crâne de M. de Sade) seja o seu testamento” afirma o conferencista. “Convido todas a s pessoas a lerem  Le désir de Dieu, publicado em 2005. Esse acho que é o seu verdadeiro testamento. Ou, então, a lerem um livro que em breve será lançado pela Grasset que se chama  L’interrogatoire, onde Chessex interroga o próprio Chessex. Aqui, acho que ele nos vai dar muitas chaves e ajudar a abrir muitas portas.”

Jacques Chessex e Portugal

Chessex, apesar da sua obra literária ser pouco conhecida pelos portugueses,  “era um apaixonado por Portugal e  por Fernando  Pessoa”, e  visitou mesmo a capital portuguesa  “por causa do livro La mort d’un juste, onde descreve os bairros lisboetas de Alfama e Bairro Alto”, revelou Salem.

Segundo o conferencista, “algo muito interessante em Chessex , que tem paralelo no escritor português Miguel Torga,  é o facto de: quanto mais pequeno é o local de onde vimos, maiores são as probabilidades de criar uma imensidão;  mais mergulhamos nas raízes e assim atingimos a universalidade.”

Pela sua proximidade com Fernando Pessoa e Lisboa, o livro La mort d’un juste pode ser, muito provavelmente, um dos próximos livros de Chessex a ser publicado em Portugal. A revelação foi  feita pelo editor João Duarte Rodrigues, da Sextante Editora, responsável pela publicação em Portugal de O Ogre e O vampiro de Ropraz.

“A vontade de publicar mais livros de Jacques Chessex,” é reconhecida pelo editor, que adianta: “Chessex é um autor de nível internacional em qualquer parte do mundo, por isso merece francamente que a gente se bata por ele e se faça mais qualquer coisa pela obra dele. Ele é um dos grandes escritores, do século XX, de língua francesa.”

O Vampiro de Ropraz foi um sucesso de crítica, “teve críticas extraordinárias em Portugal.” E O Ogre é um livro “absolutamente extraordinário” onde estão muitos “elementos essenciais da obra de Chessex.”

Sobre os motivos da reedição de O Ogre e O vampiro de Ropraz, em Portugal, João Duarte  Rodrigues explica que apesar de serem “histórias muito suíças”, são, ao mesmo tempo, “de uma grande universalidade. É uma escrita depuradíssima e uma narração extraordinária. É uma obra que deve entrar nos leitores portugueses e que merece ser conhecida por gerações mais novas.”

Aqueles que descobrem os livros de Chessex “fazem-nos chegar reações dizendo que se trata de algo extraordinário,” conclui o editor.

Promover os autores helvéticos.

Após a iniciativa de dar ao escritor helvético Jacques Chessex o protagonismo da Festa da Francofonia 2011, o Departamento de Cultura dos Negócios Estrangeiros da Suíça prevê continuar a promoção dos autores suíços em Portugal através da edição de Alberto Nessi.

Depois dos momentos em que foi recordado “o grande escritor suíço Jacques Chessex”, o Conselheiro da Embaixada Suíça em Portugal, Marzio Tartini, revelou que a próxima iniciativa acontece já “durante o mês de Abril”. Ocasião em que “será apresentada a primeira tradução em português da primeira obra do autor suíço de língua italiana Alberto Nessi.”

La prossima settimana, forse, publicado em 2008, é o romance histórico da autoria de Nessi sobre José Fontana. Um suíço do Cantão de Ticino que, muito jovem, se estabelece em Lisboa e em 1872 ajudou a fundar a Fraternidade Operária, que mais tarde daria origem ao Partido Socialista Português.

Segundo o Departamento Federal dos Negócios Estrangeiros da Suiça, um grande número de embaixadas suiças  celebra, em torno do dia 20 de Março, em vários países do mundo, a Festa da Francofonia 2011.

O evento é uma excelente ocasião para todos os países membros da Francofonia colocarem em destaque a sua diversidade cultural , sendo uma prioridade das embaixadas suíças este ano,  durante o qual a Suíça exerce a presidência da Cimeira da Francofonia.

O objetivo é promover os valores da francofonia assim como a obra do escritor helvético Jacques Chessex (1934 – 2009). 

Jacques Chessex nasceu em 1934 e faleceu, durante um debate público, em 2009.

Recebeu vários prémios literários internacionais como o Prix Schiller em 1963, o Prix Goncourt em 1973, o Grand Prix de la Langue Française em 1999, a Bourse Goncourt de Poésie em 2004 e o Grand Prix Jean Giono em 2007.

A sua vasta obra, composta de poesia, romances e novelas, carrega as suas obsessões: Deus, as mulheres, a loucura, a morte e a Suíça.

Lisboa

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