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Crédit Suisse vive grande momento no Brasil

Brady W. Dougan, chefe do Credit Suisse, ao anunciar prejuízo de 2,1 bilhões de francos no primeiro trimestre de 2008. Keystone

Apesar de anunciar prejuízos bilionários no primeiro trimestre de 2008 devidos às turbulências no mercado de "subprimes" nos EUA, o Credit Suisse atravessa um período de enorme sucesso no Brasil.

Após os excelentes resultados obtidos em 2006 e 2007, o banco de origem suíça consolida em 2008 sua posição de liderança no mercado brasileiro de investimentos e, mais uma vez, desempenha papel destacado no fechamento de um negócio de vulto que movimenta o cenário de compras e fusões de empresas no Brasil.

No final de abril, o Crédit Suisse Brasil foi escolhido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão subordinado ao Ministério da Justiça, para ser comissário mercantil da compra da empresa de telecomunicações Brasil Telecom pela concorrente Oi (ex-Telemar). Isso significa que o banco será fiador do negócio e ficará na posição de controlador da Brasil Telecom até que a legislação brasileira permita à Oi tomar posse definitiva da empresa adquirida.

Maior no setor de telecomunicações

A futura empresa, que já é informalmente chamada de Supertele pela imprensa brasileira, será a maior do país no setor de telecomunicações. A Oi fechou o primeiro trimestre de 2008 com um lucro líquido de R$ 486 milhões e receita líquida de R$ 4,5 bilhões, registrando respectivamente altas de 42% e 4,3% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Antes de adquirir a Brasil Telecom por R$ 5,8 bilhões, a Oi já detinha 28% do mercado de telecomunicações.

A participação na compra da Brasil Telecom confirma a força do Crédit Suisse Brasil no mercado nacional de compras e fusões de empresas. Há dois anos, o banco já havia participado da compra da mineradora Inco pela poderosa Companhia Vale do Rio Doce e, meses mais tarde, colaborou com a fusão de dois grandes sites de compra de produtos pela internet: o Submarino e a Americanas.com.

A área de investimentos e abertura de capitais do Crédit Suisse Brasil também tem tudo para melhorar ainda mais o desempenho do banco em 2008. Com a obtenção do investment grade (grau de investimento), concedido pelas agências internacionais de avaliação do mercado, o Brasil, segundo estimativa dos economistas, deve receber nos próximos meses um volume de investimentos estrangeiros seis vezes maior do que o atual.

O Crédit Suisse Brasil está bem posicionado para trabalhar com esse dinheiro novo, pois acaba de receber da agência internacional Fitch o conceito “Triplo A”, que reconhece o bom desempenho no mercado e a alta lucratividade da instituição, a credenciando como parceira confiável para as empresas que desejarem investir no país. Até o fim do ano passado, antes mesmo da obtenção do investment grade, o pagamento de comissões das empresas aos bancos de investimento no Brasil beirava o bilhão de dólares, segundo estimativas do mercado.

Liderança

Em 2007, o Crédit Suisse Brasil ficou em primeiro lugar nos mercados de emissão de ações e oferta púbica inicial (pelo terceiro ano consecutivo) e de fusões e aquisições (pelo segundo ano consecutivo), apresentando um crescimento, se comparado ao ano anterior, de 164% em sua margem de lucro líquido. Com a obtenção do conceito “Triplo A” e a participação na compra da Brasil Telecom pela Oi, tudo indica que esse cenário vai se repetir em 2008.

Após alguns anos de incerteza que se seguiram à compra do Banco Garantia, o Crédit Suisse Brasil deu início ao seu excelente momento em 2003, quando, numa postura que foi considerada arriscada por boa parte dos economistas, decidiu apostar no emergente mercado brasileiro de abertura de capitais. O sucesso dessa aposta fez com que, em novembro de 2006, o banco de origem suíça adquirisse por US$ 294 milhões a participação majoritária na corretora de negócios brasileira Hedging-Griffo. A união das duas empresas permitiu ao Crédit Suisse Brasil controlar um montante de US$ 34 bilhões em operações de administração de ativos e private banking.

O sucesso no Brasil faz com que o Crédit Suisse tenha clientes de grande porte como as mineradoras MMX e Vale do Rio Doce, a construtora Camargo Corrêa, a indústria de alimentos Perdigão e a indústria de celulose Suzano, além de diversas outras empresas e bancos. No início de abril, a Amil, maior empresa de saúde privada do país, anunciou a contratação do Crédit Suisse Brasil para cuidar de sua carteira de ações. Desde que a Amil abriu capital, em outubro, suas ações já subiram 16,2%.

Irregularidades

As denúncias de irregularidades na gestão de recursos formam a única mancha na imagem construída pelo Crédit Suisse no Brasil nesses últimos anos. Em novembro do ano passado, a Polícia Federal prendeu o suíço Reto Buzzi, funcionário do Banco Clariden Leu, controlado pelo Crédit Suisse. Buzzi, que teve sua prisão decretada pela 6ª Vara Criminal Federal, foi acusado de participação em um esquema de remessa ilegal de divisas para o exterior responsável pela saída sem registro de cerca de R$ 1 bilhão do Brasil para a Suíça.

Meses antes, um diretor internacional do Crédit Suisse, Peter Schaffner, foi detido pelos mesmos motivos no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. Após realizar inúmeras viagens no trecho Zurique-São Paulo em um curto espaço de tempo, Schaffner começou a ser investigado pela Polícia Federal, que o identificou como responsável por fazer contatos com empresários e doleiros brasileiros para negociar a remessa ilegal de recursos para a Suíça.

Os problemas da matriz do banco com a Polícia Federal brasileira continuam em 2008. Novas acusações de remessa ilegal de divisas para o exterior levaram à prisão, no dia 23 de abril, de Christian Peter Weiss, que é gerente do Crédit Suisse em Genebra. Weiss foi preso em um hotel de luxo no Rio de Janeiro, passou cinco dias preso na Superintendência da PF em São Paulo e foi liberado graças a um habeas-corpus concedido pela Justiça. Nos quinze dias que passou no Brasil antes da prisão, segundo os investigadores, Weiss promoveu diversos encontros com empresários nas cidades do Rio e de São Paulo e no interior paulista.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

O Credit Suisse, com sede em Zurique, é o segundo maior banco da Suíça, depois do UBS.

A instituição atua mundialmente e tem 48 mil funcionários.

Em 2007, teve um lucro líquido de 7,8 bilhões de francos suíços.

Desde 1993, é patrocinador da seleção suíça de futebol.

O banco apóia o Global Compact, um pacto mundial entre empresas e a ONU por uma globalização que seja ecológica e socialmente justa.

Por isso, exige de seus parceiros de negócios o respeito a um código de conduta baseado, por exemplo, nas determinações da Organização Internacional do Trabalho, da ONU e da OCDE, sobre condições de trabalho e combate ao trabalho infantil.

O seleto grupo de pessoas que trabalham, e ganham muito dinheiro, no mercado de abertura de capitais, investimentos e gestão de recursos no Brasil é composto por uma espécie de confraria, onde todo mundo se conhece. Graças a isso, é comum que as notícias internas de uma instituição _ como promoções, substituições, demissões, premiações, etc _ rapidamente cheguem aos ouvidos de todos no setor.

Entre os assuntos mais comentados, estão os valores pagos pelas empresas aos funcionários em forma de comissão ou participação nos lucros. Nesse quesito, o Crédit Suisse Brasil mata a maioria dos concorrentes de inveja. Segundo o que se diz entre os investidores, em cada um dos últimos dois anos o banco de origem suíça teria concedido aos seus funcionários no Brasil (eles são cerca de 400) R$ 250 milhões em bônus.

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