
Lula e Trump conversam por telefone e combinam se encontrar em breve

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, nesta segunda-feira (6), ao homólogo americano, Donald Trump, que elimine as tarifas aduaneiras punitivas impostas às exportações brasileiras, durante um telefonema no qual combinaram se encontrar em breve.
O telefonema dado por Trump durou 30 minutos e a conversa, que transcorreu em “tom amistoso”, representa um marco em meio à crise comercial e diplomática inédita entre os dois países, que se arrasta há meses.
Segundo o Palácio do Planalto, Lula “solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”.
Em abril, Trump anunciou uma tarifa mínima global de 10%, que também afetou as importações brasileiras. Em 6 de agosto, o governo americano decidiu aumentá-la para 50%, em represália a uma suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump.
Em postagem em sua rede social, Truth Social, o presidente americano saudou a “excelente” conversa por telefone com Lula e disse que “se concentrou sobretudo na Economia e no Comércio”.
“Teremos conversas adicionais”, prometeu Trump na publicação, na qual também anunciou que ele e Lula vão se “reunir no futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos”.
Segundo o Planalto, Lula sugeriu a possibilidade de um encontro à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que será realizada no fim de outubro em Kuala Lumpur, na Malásia.
O presidente também se disse disposto “a viajar aos Estados Unidos” para um encontro e reiterou seu convite a Trump para a COP30, a conferência climática da ONU, que acontecerá em novembro em Belém do Pará.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que participou do telefonema, disse que a conversa foi “melhor do que esperávamos” e que os dois presidentes trocaram seus números de telefone pessoais.
“Estamos muito otimistas que vamos avançar para o ganha-ganha”, acrescentou Alckmin, encarregado de acompanhar as negociações com o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
– “Ninguém para conversar” –
Esta é a primeira vez que Lula e Trump conversam após o retorno do republicano ao poder, em janeiro, e especialmente depois da crise diplomática e comercial desencadeada pela imposição do tarifaço aos produtos brasileiros.
As sobretaxas já impactam a economia brasileira, cujas exportações para os Estados Unidos caíram 20% em setembro, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo dados oficiais do governo.
Lula vinha repetindo que o Brasil estava pronto para “negociar” sobre as tarifas, mas se queixava de que “não há ninguém com quem conversar” em Washington.
Em meados de agosto, diante da dificuldade de marcar um encontro oficial entre autoridades de Brasília e Washington, o setor privado brasileiro agiu “para acabar com esse bloqueio”, disse uma fonte do governo à AFP.
O dono do gigante brasileiro de carnes JBS, Joesley Batista, “se reuniu com Trump” na Casa Branca para aproximar os dois governos.
A empresa tem operações nos Estados Unidos, e suas exportações de carne foram afetadas pelas tarifas. “A JBS teve um papel importante, mas não foi a única” empresa a intermediar entre Lula e Trump, segundo a fonte.
Um diplomata europeu disse à AFP, sob condição de anonimato, que o fabricante brasileiro de aviões Embraer também exerceu pressão sobre o líder republicano.
– “Química” –
O tom mudou há duas semanas, quando Trump mencionou a “excelente química” entre os dois chefes de Estado durante um rápido encontro durante a Assembleia Geral da ONU.
Mesmo assim, os Estados Unidos mantêm a pressão sobre o Brasil. Além das tarifas, Washington impôs sanções consulares e financeiras a autoridades, em especial ao ministro Alexandre de Moraes, relator do julgamento contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
As medidas punitivas não impediram que a Primeira Turma do STF condenasse o ex-presidente (2019-2022) no mês passado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
No dia seguinte ao seu breve encontro com Trump na ONU, Lula expressou otimismo sobre a resolução da crise bilateral.
“Na hora que a gente tiver o encontro, eu acho que tudo isso ficará resolvido. E o Brasil e os Estados Unidos voltarão a viver em harmonia”, declarou Lula em coletiva de imprensa nas Nações Unidas.
Segundo Lula, que já chamou Trump de “imperador”, o líder americano tem “informações equivocadas” sobre o Brasil.
rsr/ll/dga/mvv/aa/am