
Nobel de Medicina premia três pesquisadores do sistema imunológico

Os cientistas americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell, e o japonês Shimon Sakaguchi, ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por suas pesquisas sobre como o corpo controla o sistema imunológico, anunciou o júri nesta segunda-feira (6).
Os três foram premiados por suas “descobertas sobre a tolerância imunológica periférica”, anunciou o comitê do Nobel em um comunicado.
Esse mecanismo é o que faz com que as células de defesa do organismo não ataquem tecidos do próprio corpo e que não desenvolvemos doenças autoimunes.
“Suas descobertas lançaram as bases para um novo campo de pesquisa e estimularam o desenvolvimento de novos tratamentos, por exemplo, para câncer e doenças autoimunes”, explicou o júri.
“A esperança é poder tratar ou curar doenças autoimunes, fornecer tratamentos mais eficazes contra o câncer e prevenir complicações graves após transplantes de células-tronco”, acrescentou o comitê.
Sakaguchi, pesquisador em imunologia na Universidade de Osaka, disse que receber o Nobel “é uma honra” e que espera “que esse prêmio sirva como uma oportunidade para que esse campo se desenvolva ainda mais (…) em uma direção onde possa ser aplicado em cenários clínicos reais”.
Brunkow, que trabalha no Institute for Systems Biology em Seattle, afirmou que foi uma honra trabalhar no tema, mas esclareceu que “minha carreira nas ciências mudou bastante desde que esse trabalho foi realizado e, na verdade, já nem trabalho mais nesse campo em particular”.
O comitê do Nobel, seis horas antes do anúncio do prêmio, ainda não havia entrado em contato com Ramsdell, que trabalha em uma empresa de biotecnologia, Sonoma Biotherapeutics, em San Francisco.
“Pode ser que ele esteja fazendo mochilão no interior de Idaho,” disse à AFP seu amigo e colega, Jeffrey Bluestone.
– Linfócitos T reguladores –
Sakaguchi, de 74 anos, realizou o primeiro avanço neste campo em 1995, ao revelar uma classe previamente desconhecida de células que protegem o corpo contra doenças autoimunes.
Brunkow, nascida em 1961, e Ramsdell, de 64 anos, realizaram outra importante descoberta em 2001, ao demonstrar por que certos camundongos eram especialmente vulneráveis a doenças autoimunes.
“Eles descobriram que esses camundongos tinham uma mutação em um gene que chamaram de Foxp3”, detalhou o júri.
Eles também mostraram que mutações no equivalente humano desse gene provocam uma grave doença autoimune chamada síndrome IPEX.
Dois anos depois, Sakaguchi vinculou ambas as descobertas e demonstrou que o gene Foxp3 regula o desenvolvimento das células que havia identificado em 1995.
Essas células, “agora conhecidas como linfócitos T reguladores, monitoram outras células imunológicas e garantem que nosso sistema imunológico tolere nossos próprios tecidos”.
O prêmio, que será entregue em uma cerimônia em 10 de dezembro, inclui um diploma, uma medalha de ouro e um cheque de 11 milhões de coroas suecas (6,28 milhões de reais).
Jonathan Fisher, diretor do Laboratório de Engenharia de Imunidade Inata do University College de Londres, disse que durante os último cinco anos a pesquisa avançou muito no campo, mas ainda não há produção de medicamento de uso generalizado.
“Existe um abismo entre nossa compreensão científica do sistema imunológico, nossa capacidade de investigá-lo e manipulá-lo em um laboratório e nossa capacidade de entregar um produto farmacêutico seguro para os humanos que tenha um efeito consistente e benéfico”, disse Fisher.
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