O que se sabe sobre a situação do Mali após dois meses de bloqueio jihadista
Desde setembro, o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (JNIM), um movimento jihadista afiliado à Al Qaeda, impõe um bloqueio no Mali com o objetivo de estrangular a economia deste país sem saída para o mar e dependente de importações.
Isto é o que se sabe sobre a situação.
– Controle ampliado do JNIM
Segundo a ONU, o JNIM, formado em 2017 da fusão de várias facções jihadistas, é o grupo mais influente e a “ameaça mais importante no Sahel”, uma região que marca a fronteira entre o deserto do Saara e o sul do continente africano.
Com cerca de 2.100 mortos desde o início de 2025, o balanço dos ataques relacionados ao JNIM até 7 de novembro já alcançou um recorde anual, segundo análise realizada pela AFP a partir dos dados da ONG Acled.
O grupo, que inicialmente se desenvolveu no norte do Mali, estendeu sua influência nos últimos meses a grande parte do país, sobretudo em direção ao sul e ao oeste.
O JNIM ataca comboios de combustível nas principais estradas que levam ao Senegal e à Costa do Marfim, de onde provém a maioria dos produtos importados pelo Mali.
– Situação em Bamako
Durante semanas, a falta de combustível paralisou o transporte, fechou escolas e afetou a eletricidade no país.
Em um vídeo publicado em outubro, os jihadistas anunciaram que “todas as estradas ao redor de Bamako”, a capital, são consideradas “zonas de guerra” e impuseram a separação entre homens e mulheres nos transportes.
No entanto, vários comboios de combustível escoltados pelo exército foram transportados para a capital e algumas localidades do país.
A situação melhorou em Bamako, e embora as filas nos postos de gasolina ainda persistam, as escolas e universidades reabriram após duas semanas de fechamento ordenado pelas autoridades.
Ainda assim, o transporte público continua impactado e o acesso à eletricidade se degradou consideravelmente desde o início do bloqueio.
Atualmente, “amplas áreas estão fora do controle efetivo do Estado”, que “concentra suas forças ao redor de Bamako para assegurar o regime”, destacou à AFP Bakary Sambe, do grupo de estudos Timbuktu Institute, com sede em Dacar, Senegal.
– Cenário no restante do país
A situação continua mais complexa no restante do país. Várias localidades do sul e do centro estão sob bloqueio jihadista e os comboios de combustível demoram a chegar.
Segundo a emissora de rádio Studio Tamani, “Mopti e Bandiagara (centro) estão há um mês sem eletricidade”.
Na cidade de Dioïla, a 160 quilômetros a leste de Bamako, “nenhum posto de gasolina dispõe de combustível no momento”, disse o jornal estatal L’Essor.
Pela primeira vez em semanas, chegaram caminhões-tanque de combustível a Ségou (centro) e Sikasso (sudeste).
O norte do país não foi afetado pelos bloqueios e a região é abastecida por comboios procedentes do Níger.
– Reações internacionais
Diante do agravamento da situação, Estados Unidos e Reino Unido anunciaram a retirada de seu pessoal não essencial do Mali, e várias embaixadas, incluindo a da França, e pediram a seus cidadãos que deixassem o território.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Mahmoud Ali Youssouf, expressou em 9 de novembro sua “profunda preocupação” com o agravamento da segurança e pediu uma “ação internacional urgente”.
No aeroporto Modibo Keïta da capital, cada vez mais estrangeiros estão deixando o país, segundo um chefe de escala de uma companhia aérea africana.
– Movimento “cada vez mais político”
Uma possível tomada de Bamako pelo JNIM parece pouco provável neste momento, de acordo com observadores, já que os jihadistas não possuem a capacidade militar ou governança para tal.
De movimento insurrecional, o grupo passou a “adotar a aparência de um movimento cada vez mais político”, explicou Bakary Sambe, do centro de pesquisa Timbuktu Institute, com sede em Dacar.
Seu objetivo é “a queda da junta” para instaurar “um califado”, considerou recentemente o chefe dos serviços de inteligência exteriores franceses, Nicolas Lerner, em uma entrevista na emissora France Inter.
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