Lukas Reimann: “Não faria mal ter um suíço do exterior no Parlamento”
Acordos com a União Europeia, 13ª pensão do AHV/AVS e suíços no exterior: Lukas Reimann, deputado federal de St. Gallen, fala sobre suas prioridades políticas, seus vínculos pessoais com o exterior e o papel da Suíça em um mundo polarizado.
Lukas Reimann foi eleito para o Conselho Nacional (Câmara Baixa) pelo Partido Popular Suíço (UDC/SVP) aos 25 anos. Jurista de formação, natural de Wil, no cantão de St. Gallen, Reimann dedicou os últimos 17 anos às áreas de política jurídica e política pública.
Atualmente, Lukas Reimann faz parte da Comissão de Política Externa do Conselho Nacional. No âmbito do grupo interparlamentar “Suíços no Exterior”, ele defende os interesses daqueles que encontraram uma pátria além das fronteiras nacionais.
A Quinta Suíça sob a Cúpula
Diferentemente da França ou da Itália, que concedem circunscrições eleitorais próprias aos seus cidadãos expatriados, os suíços e suíças que vivem no exterior não contam com representação direta sob a Cúpula Federal.
Isso não significa, contudo, que seus interesses não sejam levados em consideração. Mais de 60 parlamentares (de um total de 246) integram o intergrupo parlamentar “Suíços do Exterior”Link externo.
A cada semana de sessão, damos voz a um deles em nossa nova série “A Quinta Suíça sob a Cúpula”.
swissinfo: Na sua avaliação, qual pauta é prioridade nesta sessão [de 2 a 20 de junho]?
Lukas Reimann: Os acordos com a UE são um tema central. Durante a primeira semana de sessão, tive a oportunidade de analisá-los por três horas. Agora que foram publicados, o verdadeiro trabalho começa: os acordos precisam ser examinados em detalhes, e talvez seja necessário lançar uma campanha referendária contra eles.
A iniciativa popular “200 francos são suficientes” também foi objeto de grande debate. O fato de 76 pessoas terem se inscrito para falar mostra o quanto esse tema mobiliza o Parlamento e, provavelmente, também a população suíça.
Existem também temas particularmente importantes para os suíços no exterior?
Os acordos com a UE incluem 76 páginas dedicadas ao intercâmbio de estudantes, o que naturalmente também diz respeito aos suíços no exterior. Também trata da livre circulação de pessoas, mas isso é mais relevante para quem vive na Suíça do que para os suíços no exterior.
No plano interno, o pagamento de um 13º no contexto da aposentadoria AHV/AVS [sistema previdenciário suíço] também beneficia a população suíça no exterior, especialmente as gerações mais velhas. Dito isso, acredito, de forma geral, que os cidadãos suíços no exterior devem acompanhar todas essas pautas, mesmo aquelas que não os afetam diretamente. Afinal, como cidadão suíço, a pessoa estará sempre envolvida.
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Qual é a sua relação pessoal com a Quinta Suíça?
Meu irmão vive em Taiwan há quase dez anos, o que me permitiu conhecer algumas das dificuldades enfrentadas pelos suíços no exterior, especialmente em questões de conta bancária e seguro de saúde. Como a Suíça não reconhece oficialmente Taiwan, surgem ainda complicações específicas nesse caso.
Além disso, tenho parentes distantes no Texas, que já estão em sua terceira ou quarta geração no local. Há mais de cem anos, um homem da comuna de Mosnang, no cantão de St. Gallen, emigrou para os Estados Unidos.
Mas, como era difícil para um imigrante encontrar uma esposa lá, ele retornou à Suíça com esse objetivo e conheceu a irmã do meu avô. Juntos, eles voltaram a se estabelecer nos Estados Unidos, e desde então esse ramo da minha família vive lá.
O vínculo com a Suíça permaneceu: uma bandeira suíça ainda tremula em frente à sua fazenda e eles continuam falando o suíço-alemão, mas como se falava aqui há cem anos. O dialeto deles não evoluiu desde então.
Como o senhor vê a posição da Suíça no mundo atualmente?
A Suíça encontra-se em uma situação difícil. Somos uma economia aberta e queremos manter um livre comércio com o maior número possível de parceiros.
Como país neutro, também buscamos o diálogo com todas as partes. Mas, quanto mais o mundo se polariza, mais isso se torna complicado. O crescimento do protecionismo adotado por alguns países é mais um problema.
Embora eu consiga compreender essa postura, ela não é uma opção para um país pequeno como a Suíça. Dependemos do comércio, que nos trouxe grande prosperidade.
Nosso papel de mediador neutro, que oferece ajuda humanitária e um espaço de encontro para duas partes antagônicas, me parece fundamental.
Não é por acaso que China e Estados Unidos se reuniram em Genebra para as primeiras discussões sobre seu conflito comercial. Esse é um papel positivo que a Suíça pode desempenhar no mundo e pelo qual pode contribuir com a comunidade internacional: oferecer um espaço de diálogo, onde se pode negociar a paz e questões comerciais.
Quais conquistas o senhor obteve em seu engajamento pela comunidade suíça no exterior?
Obtive várias conquistas importantes para a população suíça como um todo. Acredito que, se a Suíça hoje está tão bem-posicionada no mundo – com uma taxa de desemprego mais baixa, mais prosperidade e melhor qualidade de vida do que muitos outros países – isso se deve também à nossa política soberana e, na minha opinião, próxima dos cidadãos.
De que forma os suíços no exterior se beneficiam dessa política próxima dos cidadãos e cidadãs?
Na Suíça, é muito mais fácil contatar um político eleito. Em outros países, os políticos às vezes estão cercados por vinte assessores, e os cidadãos só conseguem falar com o quinto secretário.
Aqui, quando alguém me escreve ou entra em contato com qualquer outro membro do Parlamento, seja por e-mail ou pelas redes sociais, a resposta vem, em 99% dos casos, diretamente do político.
Recebo relativamente muitas mensagens, inclusive de suíços no exterior. Os temas são muito variados. Convido todos que tenham uma ideia ou um problema sobre o qual seja possível agir a partir da Suíça a se manifestarem.
O senhor considera que os interesses dos suíços no exterior são suficientemente representados no Parlamento?
Os suíços no exterior são embaixadores da Suíça em todo o mundo. Sua voz é uma extensão da do nosso país. Portanto, é importante que eles sejam bem representados no Parlamento.
Muitos parlamentares estão atentos às suas preocupações. Sabemos que eles representam mais de 10% da população suíça.
Certamente não faria mal ter novamente um suíço do exterior no Parlamento. Dito isso, quanto mais se vive longe, mais complicada se torna a participação, não apenas nas sessões, mas também nas reuniões de comissão.
Se o senhor tivesse que emigrar, qual país escolheria?
Dirigi uma empresa em Gotemburgo por bastante tempo, então eu diria a Suécia, mas não necessariamente em Gotemburgo, pois lá sofremos vários roubos.
O norte da Suécia, por outro lado, é magnífico, tanto no verão quanto no inverno. Provavelmente seria minha escolha.
Edição: Balz Rigendinger/fh
Adaptação: Clarice Dominguez
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