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Ministro lança debate sobre futuro do Exército

Novo rumo para o exército vai ser debatido no governo. Keystone

Samuel Schmid soltou a raposa dentro do próprio galinheiro. Ao falar que a obrigatoriedade do serviço militar será discutida brevemente pelo governo, o ministro da Defesa rompe um tabu.

A questão é saber se o tradicional exército de milícia deve ser mantido ou se o contexto geopolítico exige um exército profissional.

Todo mundo sabe que a Suíça é neutra mas poucos conhecem o princípio da neutralidade armada. O exército suíço tem atualmente 140 mil soldados de milícia e 5 mil oficiais, na ativa, e 80 mil reservistas. Durante a guerra fria, o contingente era de 600 mil homens.

O cidadão-soldado

O exército de milícia existe desde 1874 e o conceito de cidadão-soldado é muito arraigado na sociedade suíça. Muito do espírito ordeiro e hierárquico do suíço provém do cidadão-soldado, obrigado ao serviço militar. Para as mulheres, servir o exército é facultativo.

Daí que uma frase do ministro da Defesa, Samuel Schmid, terça-feira, afirmando que a opção entre o exército de milícia e exército profissional seria discutida pelo governo, em setembro, caiu como uma bomba na opinião pública.

Princípio constitucional

No sistema atual, o jovem soldado faz cinco meses de iniciação como recruta e depois volta ao exército durante um mês, uma vez por ano, para os chamados “cursos de repetição”, até completa uma cota de 360 dias. O limite de idade é de 30 anos para os soldados rasos e de 36 para os oficiais.

Terminada a cota, passa para a reserva. Os soldados e oficiais da ativa ficam com o uniforme, a metralhadora e a munição em casa.

O princípio do exército de milícia está inscrito na Constituição há 130 anos (art. 58 e 59). Isso significa que qualquer mudança precisa ser submetida ao voto popular. Foi o caso em 2003, quando foi aprovada a redução do contingente do tempo de serviço e envio de soldados voluntários a missões de paz no estrangeiro.

Restrições orçamentárias

Para a deputada federal socialista Barbara Haering, membro da comissão de segurança do Parlamento, “a Suíça não precisa mais de um exército tão imponente” acrescentando que, “com as restrições orçamentárias cada vez maiores, temos de renunciar a tudo que não é mais necessário”.

Deputados do próprio partido do ministro da Defesa (UDC) o mais à direita dos quatro partidos governamentais, se insurgem contra a proposta de suprimir o serviço militar obrigatório. Ulrich Schüler tratou a proposta de “perjúrio”. Hans Feher considerou-a “manobra de diversão”.

O senador democrata-cristão Bruno Frick, especialista em questões miliatares, vai mais longe. Em entrevista o jornal Le Temps, de Genebra, ele afirma, no contexto atual, o problema é o mesmo em todos os exércitos europeus porque o conceito de defesa nacional está ultrapassado.

Defesa européia

“Cedo ou tarde haverá uma defesa européia da qual a Suíça também deverá participar”. O senador é favorável ao atual exército de milícia mas contra o serviço militar obrigatório. Os jovens teriam, assim, a escolha entre o serviço militar e a prestação de serviços à comunidade.

O ministro da Defesa, Samuel Schmid, passou à ofensiva provavelmente devido os problemas internos que enfrenta em seu ministério. Teve o mérito de provocar um grande debate no país.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

O exército de milícia existe desde 1874
Contingente atual: 140 mil soldados, 5 mil oficiais, 80 mil reservistas
Orçamento em 2004: 4,8 bilhões de francos

Funções: garantir a defesa do território, a política de segurança (terrorismo) e a cooperação militar internacional.

Nos demais países europeus, a tendência é a profissionalização dos exércitos.

O serviço militar obrigatórios ainda existe na Suíça, Áustria e países escandinavos.

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