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“O reinício da guerra não surpreende”

Marcas dos mísseis disparados de Gaza num abrigo em Aschkelon, Israel. Keystone

O sociólogo suíço Ernest Goldberger, que vive desde 1991 em Israel, vivencia a guerra em Gaza como violência insana, cujas consequências fatais não estariam sendo compreendidas pelas partes conflitantes.

Segundo ele, a população israelense reage aos acontecimentos com uma incrível apatia e prefere não ver as imagens da miséria e das vítimas do conflito na Faixa de Gaza. Israel e Hamas rejeitam resolução por cessar-fogo.

swissinfo: Segundo a mídia, o apoio da população israelense à guerra é grande. Isso é verdade?

Ernest Goldberger: Isso confere, lamentavelmente. O apoio é bastante perceptível, o povo ama líderes políticos que dão uma de forte e batem firme. Isso fica evidente no fato de que o Partido Trabalhista do ministro da Defesa, Ehud Barak, desde o início da guerra em Gaza subiu fortemente, segundo pesquisas de opinião.

A guerra, portanto, é parte da campanha eleitoral?

Exatamente. A campanha eleitoral, com certeza, é uma das metas da guerra, mas há ainda há outros. Quer-se dar uma lição ao adversário e se pretende levar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) novamente ao poder.

O senhor vive em Tel-Aviv. Como é o clima na cidade? Como as pessoas vivenciam a guerra?

Isso é uma questão muito comovente. A gente se depara com uma incrível apatia. Não se fala sobre isso e só se toma conhecimento disso através do noticiário. A guerra não é um tema, ela não move a grande massa. Isso é uma observação muito dolorosa para mim.

Até a bolsa de valores teve uma subida de 10% desde o início da guerra em Gaza, o que é um sinal que ela não é vista como um acontecimento substancial.

Como a população reage às imagens de escolas bombardeadas e da miséria na Faixa de Gaza?

O governo aprendeu as lições da segunda guerra do Líbano e determina claramente o fluxo de informações. Não se vê essas imagens ou elas são mostradas muito ao fundo. Jornalistas estrangeiros não podem entrar em Gaza e estão submetidos a uma forte censura.

É verdade que é possível ver essas imagens através da CNN e da internet, mas muitos não as querem ver. Eles concordam com as declarações oficiais do governo. ‘Nós apenas nos defendemos, nós combatemos o terror, não temos outra escolha.’ Esses são os clichês que são repetidos e que o povo gosta de ouvir e com isso se acalma.

A partir de Gaza sempre de novo são disparados mísseis sobre o território israelense. Como Israel deve reagir para proteger sua população?

O que o Hamas faz é desprezível. O bombardeio indiscriminado de civis não tem justificativa. O Hamas quer principalmente detonar o bloqueio de Gaza e assumir a liderança palestina com vistas a um futuro Estado palestino.

Os dois lados não levam em consideração o bem-estar da população, nem em Israel nem em Gaza. Houve um cessar-fogo durante seis meses. Ele fracassou porque Israel não abandonou o cerco e a asfixia de Gaza e não se dispôs a conversar com o Hamas.

Por outro lado, durante esse período o Hamas ampliou os túneis nesses seis meses. Não surpreende que o combate tenha recomeçado.

A população israelense realmente acredita que é possível extinguir o Hamas, que é fortemente arraigado na população?

Grande parte da população não acredita realmente, mas isso não está em primeiro plano para as pessoas. Trata-se de dar uma lição ao adversário e destroçá-lo.

Mas o espírito do Hamas certamente não poderá ser extinto. E, mesmo que isso acontecesse, a história das guerras da humanidade mostra que então se encontraria novos meios para continuar a batalha de outra maneira.

Existe o perigo de uma radicalização ainda maior e de que o Hamas ganhe um novo impulso?

Esse perigo realmente existe. É que o Hamas não é benquisto, nem mesmo pela própria população. O Hamas exerce uma espécie de regime terrorista em Gaza, qualquer oposição é brutalmente reprimida. Mas, através dessa guerra de Israel, o Hamas novamente é valorizado e se esquece o que ele faz com a própria população.

Atualmente parece quase não haver perspectiva para uma chance de solução duradoura no Oriente Médio. Em sua opinião, qual é o rumo que deve ser seguido?



Sem uma pressão muito, muito forte de fora, não tenho esperança de uma solução do conflito. A solução precisa vir de fora, sobretudo dos Estados Unidos. Tem-se esperanças no novo presidente dos EUA e que a União Europeia finalmente mostre um pouco de perfil e aumente a pressão.

Atualmente parece quase não haver perspectiva para uma solução duradoura no Oriente Médio. Em sua opinião, qual é o rumo que deve ser seguido?

Sem uma pressão muito, muito forte de fora, não tenho esperança de uma solução do conflito. A solução precisa vir de fora, sobretudo dos Estados Unidos. Tem-se esperanças no novo presidente dos EUA e que a União Europeia finalmente mostre um pouco de perfil e aumente a pressão.

Até que ponto existe a consciência nos dois lados de que esse conflito não pode ser resolvido pela violência armada?

No momento, toneladas de bombas anulam a capacidade e a vontade de entender a própria participação no acontecimento trágico.

O acontecimento trágico já começou em 1948, com a Nakba, e tem a ver também com a ocupação e o povoamento da Cisjordânia e com a determinação estrangeira do povo palestino. Isso precisa definitivamente acabar.

Como o senhor vivenciou os últimos dias?

Eu vivencio a guerra como uma insanidade, uma espiral da violência, como uma impotência profundamente dolorosa e como expressão de uma cultura social arraigada de resolver problemas com violência.

Ela tem consequências para a relação com os árabes israelenses, que formam 20% da população. Eles são obrigados a ver parentes morrendo diariamente em Gaza. Além disso, a guerra tem consequências para a imagem de Israel no mundo civilizado.

O senhor se define como judeu suíço atípico. O senhor é um judeu atípico também em Israel?

Eu não diria isso. O movimento pacifista não morreu. Eu me comunico com muitos amigos que partilham minhas opiniões, mas somos claramente uma minoria.

swissinfo, Gaby Ochsenbein

Depois de ser atacado com mísseis pelo Hamas e de dar um ultimato para o fim das agressões, Israel iniciou ataques aéreos a Gaza em 27 de dezembro de 2008. Em 3 de janeiro passado, começou a ofensiva terrestre.

Segundo informações palestinas, cerca de 800 de palestinos teriam sido mortos e milhares foram feridos até agora.

Segundo organizações de ajuda internacionais, a situação humanitária em Gaza é dramática: falta medicamentos e parte do abastecimento em água e luz entrou em colapso.

Em Israel, foram mortas várias pessoas pelos mísseis disparados de Gaza.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou no final da noite desta quinta-feira uma resolução para um cessar-fogo “imediato e durável” na Faixa de Gaza, que leve a uma “retirada completa” das forças israelenses. Israel e Hamas rejeitaram a resolução, nesta sexta-feira.

Nasceu em 1931, em Basiléia.

Estudou Economia e Sociologia.

Emigrou para Israel em 1991.

Em 2004, publicou o livro “A alma de Israel – Um povo entre sonho, realidade e esperança” (Editora NZZ Buchverlag).

Goldberger vive com sua mulher, uma israelense descendente de imigrantes iemenitas, e duas filhas gêmeas em Tel-Aviv.

1948: Fundação do Estado de Israel

População: 7,1 milhões, incluido Gola e Jerusalém Leste

Suíços: 13 mil

Religião: 76% judeus, 20% muçulmanos, 2,1% cristãos, 1,9% outras

Idiomas: bebraico, árabe

Língua comercial: inglês

Forma de governo: democracia parlamentar

Renda média mensal bruta per capita: 1.255 euros

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