Perspectivas suíças em 10 idiomas

“Ojetivo é obter um cessar-fogo em Gaza”

Um jovem palentino recebe comida distribuída pela ONU na cidade de Gaza. Keystone

Israel não tenta erradicar o Hamas da Faixa de Gaza, apesar da intensa campanha militar, segundo o embaixador israelense em Berna.

Em entrevista à swissinfo, Ilan Elgar garante que seu país quer um cessar-fogo duradouro com a principal força política desse território palestino, que assegure uma vida pacífica para os israelenses do sul do país.

Israel rejeitou a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que pede um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, e primeiro-ministro Ehud Olmert a considerou “impraticável”. A aviação e a artilharia islraelenses continuavam a atacar o território palestino.

Com centenas de civis mortos, a ofensiva de Israel foi denunciada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, agências da ONU e por governos europeus e árabes.

swissinfo: A ONU está pressionando para conseguir um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Israel está atualmente preparado para aceitar um acordo deste tipo?

Ilan Elgar: Israel sempre procurou um cessar-fogo, inclusive antes desta operação. Ela começou porque o Hamas rompeu um acordo que durou seis meses. Porém, um cessar-fogo é como um tango: são necessárias duas partes. E o Hamas descartou qualquer trégua, então não sei que possibilidades existem para cessar os combates.

Esta operação não vai exterminar o Hamas? Então para quê essa demonstração de força?

Erradicar o Hamas não é o objetivo dessa operação. O Hamas está bem implantado na sociedade palestina e em Gaza. Não temos ilusões de que possamos eliminá-lo.

A única coisa que estamos tentando é devolver a sensação de segurança às pessoas no sul de Israel e prevenir as condições que levaram a essa situação impossível. O que buscamos é um cessar-fogo duradouro. Não creio que possamos obter muito mais que isso.

Precisamos fazer o Hamas entender as condições de um cessar-fogo razoável para não termos de atacar ninguém em Gaza e tornar a vida ali suportável.

Isso significa que o Hamas deve parar de perturbar a vida normal no sul de Israel e encerrar o contrabando de armas de longo alcance em Gaza.

Quando foi firmado o último cessar-fogo no início do ano passado, os foguetes do Hamas atingiam 16 km dentro de Israel. Ao final da trégua, o alcance era de 40 km. O Hamas utilizou esse intervalo para se recompor e se rearmar.

Dada a proporção de forças, não se está dando a oportunidade para que certos palestinos se tornem mais radicais?

Existe um grupo de gente que abertamente fala sobre a erradicação de Israel. Não se pode torná-los mais radicais.

Francamente, eles já se radicalizaram bastante. Basta ouvir o Hamas ou observar suas ações para se dar conta de que uma parte da população palestina está radicalizada além do imaginável. Não se pode ir mais longe.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tomou uma posição rara, criticando publicamente as forças israelenses por impedir o acesso aos feridos.

Não estamos fazendo isso de maneira alguma. Não temos interesses em ferir civis ou impedir que sejam socorridos. Há casos em que não se pode chegar aos feridos devido aos combates.

Não preciso saber detalhes de casos particulares para saber que a Cruz Vermelha Internacional ou alguma outra organização podem socorrer quem precisa de ajuda, a menos que isso ocorra durante os combates.

Autoridades israelenses usaram o termo proporcional para descrever as operações em Gaza. A comunidade internacional discorda. Como explicar essa diferença?

Não há uma definição clara de proporcionalidade. É uma questão de ponto de vista. Não existe resposta pronta em um livro.

Proporcionalidade não significa que se o Hamas lançou 8 mil foguetes de tipo Kassam durante os últimos oito anos contra a população israelense, Israel construa de maneira caseira o mesmo número de foguetes e os atire de volta. O que pretendemos é acabar com uma situação insuportável.

Por outro lado, tentamos não causar danos à população civil, mas isso tem limitações. Desgraçadamente, nunca de ouviu falar de uma guerra sem vítimas civis. As armas que atingem somente soldados não existem.

Porém, pode-se sair de um lugar para evitar baixas civis. Gaza é uma área densamente povoada e o Hamas está usando civis como escudos humanos. Há muitas evidências disso.

As forças israelenses desenvolveram métodos para evitar o ferimento de civis. Não estamos interessados, no plano moral, político e prático, em golpear os que não estão implicados. Cada uma e todas as baixas de palestinos são más para nós politicamente, por isso queremos evitá-las o máximo possível.

Uma escola dirigida pela ONU foi atacada nos últimos dias causando dezenas de mortos. Oficiais israelenses disseram que ali havia alguns militantes do Hamas nos arredores. Os fins justificam os meios?

Aparentemente o exército atingiu seus objetivos. Duas das vítimas eram conhecidos militantes do Hamas. Ademais, o direito internacional nos permite atacar uma instalação civil usada para ações militares. Não se pode dizer que uma escola, por ser administrada pela ONU, esteja imune. Um grupo do Hamas utilizou as pessoas ocultando-se em um colégio e esperavam que os israelenses não disparassem.

Nesse contexto especialmente crítico da comunidade internacional, aumenta o sentimento contra Israel?

É óbvio que os combates e as vítimas civis geram controvérsia e aumentam as críticas. Temos encontrado posturas e críticas um pouco tendenciosas.

Devemos levar em conta que não seremos tratados de forma imparcial. Aparentemente, é mais aceito que os israelenses sirvam como vitimas, mas não que respondam.

swissinfo, Scott Capper

O Hamas é o principal movimento islâmico nos territórios palestinos e foi criado nos primeiros dias da Intifada de 1987.

A organização se opõe aos acordos de paz de Oslo e seu objetivo a curto prazo é a retirada de Israel dos territórios ocupados.

O Hamas não tem reconhecido o direito de existência de Israel.

Seu objetivo a longo prazo é a criação de um Estado islâmico na terra originalmente conhecida como Palestina, cuja maioria está dentro das fronteiras de Israel, desde a criação do Estado hebreu em 1948.

A organização tem uma ala política e outra militar.

Tem um número desconhecido de membros e um núcleo considerado “duro” e dezenas de milhares de seguidores entre os palestinos.

Sua ala política constrói escolas e hospitais na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e ajuda a comunidade em assuntos sociais e religiosos.

A ala militar, as brigadas Izzedine al-Qassam, é encarrega de combater Israel.

swissinfo.ch

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR