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Restos de Santo Antônio expostos em Pádua

Keystone

Pela quarta vez em mais de oito séculos, os fiéis fizeram longas filas para ver os restos mortais de Santo Antônio, que nasceu em Portugal, viveu como frei e morreu em Pádua, na Itália. Além do esqueleto, estão expostos um manto e uma túnica rasgada do frade, santificado apenas um anos depois de sua morte.

A exposição precedeu a deposição dos restos mortais na capela em que o santo foi inicialmente enterrado, agora restaurada, na Basílica de Pádua.

Os restos mortais de Santo Antônio estão expostos dentro de um caixão de vidro, ao lado do antigo de madeira. O esqueleto repousa na capela das Relíquias, atrás do altar da nave principal da Basílica de Pádua, cidade onde ele morreu, no ano de 1231. O santo está sobre um pequeno pedestal, cercado por uma grade com barras de ferro, arranjos de flores, quatro padres e uma dupla de policiais. Veja vídeo na coluna à direita.

Os fiéis podem ver o esqueleto mas não podem tocar e nem parar para fazer uma oração. A fila é muito grande. Cada um tem apenas o tempo de dar uma volta completa ao redor caixão.

Os devotos, tão concentrados na visão do corpo, acabam não vendo a exposição da túnica rasgada do santo e do manto que ele usava durante os seus sermões, nem os pequenos recipientes em prata e pedras preciosas contendo o queixo e o material corpóreo da língua e das cordas vocais do santo.

O bom estado de conservação dos ossos chama a atenção. Todos eles estão presentes e evitam o surgimento de falsificações no mercado, além de atestar a existência de um homem com cerca de um metro e setenta centímetros de altura.

A fila para chegar aos restos mortais leva, em média, uma hora. O fiel deve passar por um detector de metais. O policiamento foi reforçado, dentro de fora da Basílica, para evitar tumultos e roubos. Cerca de 500 voluntários da Defesa Civil e das paróquias vizinhas também dão assistência aos devotos.

Emoção

A decisão de mostrar Santo Antônio aos fiéis coincide com o retorno do corpo ao seu lugar de origem. A capela da Arca, no interior da Basílica, foi inteiramente restaurada e vai voltar a abrigar os restos mortais – onde estavam desde o ano de 1350 – no dia 20 de fevereiro, data final da exposição.

A obra de reforma durou vinte meses e a capela foi reaberta ao público em dezembro passado. Durante a reforma, Santo Antônio ficou na vizinha capela de San Giacomo. Mas neste temporário traslado o caixão de madeira de carvalho continuou fechado.

A última exibição do santo, em tempos recentes, foi em 1981, para a festa de comemoração do aniversário dos 750 anos de sua morte. Antes, a sepultura dele tinha sido aberta em 1263 quando os restos mortais foram transferidos da antiga igreja para a nova basílica, parcialmente já construída para ser a tumba definitiva de Santo Antonio.

Ao morrer, no subúrbio norte da cidade, ele tinha sido enterrado na igreja de Arcella e logo depois trazido para o pequeno convento franciscano Santa Maria Mater Domini, na área onde hoje existe a Basílica.

Naquela ocasião, 29 anos atrás, pela primeira vez, estudos científicos e antropológicos modernos puderam ser realizados no corpo do santo. Ele estava sem o queixo e o antebraço esquerdo, ambos depositados em urnas separadas desde o ano de 1350 por ordem do cardeal Guido de Boulogne-sur-Mer, na França. E durante os 29 dias de ostentação, mais de meio milhão de peregrinos desfilaram as suas graças e ofertas diante do santo.

“Esta é uma oportunidade muito bonita. Eu vim da vez passada e naquela época eu trouxe os meus filhos, desta vez quem sabe os meus netos não vão vir, estou emocionada”, disse à swissinfo.ch uma senhora italiana de cabelos brancos.

A exemplo daquela exposição única, a terceira em oito séculos, as cenas de emoção e devoção se repetem. Os fiéis fazem o símbolo da cruz, alguns ajoelham-se rapidamente, outros tentam se aproximar e esticam o corpo por cima das barras de proteção.

Milagres

Santo Antônio nasceu em 1195, em Lisboa, em Portugal. Ele chamava-se Fernando Martins de Bulhões e trocou de nome ao entrar para a ordem dos Franciscanos. Grande pregador e estudioso de teologia, o frei Antônio ganhou prestígio e a admiração do baixo, médio e alto clero. Ele foi o autor dos Sermões dos Grandes Santos e das Festas, canonizado apenas um ano depois da morte dele pelo papa Gregório IX .

O processo de evangelização por parte dos missionários portugueses aceleraria a fama do Santo Antônio. Ele é considerado na Itália o santo dos milagres. No Brasil a sua fama é a de santo “casamenteiro”. Junto com padre Pio e São Francisco, Santo Antônio tem milhões de devotos em todo o mundo.

“Ele é conhecido como o santo dos milagres. O homem é feito de alma e corpo. Ele tem os sentidos e ver e quase tocar faz parte da natureza humana. Esta é uma das poucas ocasiões para ver o que resta do corpo de Santo Antonio”, diz a swissinfo.ch o padre Giuliano, da Basílica de Santo Antônio.

Ele viveu em plena Idade Média. Ao santo é atribuído o milagres dos peixes. Na cidade de Rimini, às margens do mar Adriático, diante de uma população com medo do domínio dos hereges, frade Antonio teria pregado aos peixes da praia. Ele tinha o dom da palavra, uma voz potente e arrastava multidões durante os sermões em praça pública e nos campos dos arredores das cidades. E, mesmo logo depois da sua morte, o nome dele já evocava uma legião de fiéis.

Uma câmera web vela o corpo do Santo Antonio 24 horas por dia. Quem não puder vir pessoalmente pode ver a urna de vidro pela internet. Mas a medida também serve como segurança. Em outubro 1991, três homens mascarados violaram a sepultura e roubaram a mandíbula do santo. Ela foi encontrada dois meses depois,nas imediações do aeroporto de Fiumicino, em Roma.
Comércio

A Basílica de Santo Antônio, em Pádua, é cercada de barraquinhas e lojinhas que vendem imagens do santo. Pequenas estátuas, pratos, velas e santinhos são uma tentação para os viajantes do turismo religioso que pagam de dois a 5 euros por um simples souvenir.

Pelos menos duzentas mil pessoas devem visitar a exposição nos próximos dias. Vieram visitantes de toda a Europa e de países mais distantes, como o Brasil. A Basílica de Santo Antônio é considerada um importante santuário na Itália, junto com Assis, por exemplo.

“Não tivemos tempo de fazer uma campanha maior para chamar os fiéis, mas pelo que vemos neste primeiro dia penso que a exposição vai atrair muita gente”, diz o padre Giuliano, diante de uma fila que ocupa toda uma avenida e que parece não ter fim.

Quem tiver o nome de batismo Antônio pode tentar conseguir um café gratuito no vizinho e homônimo bar da praça. A promoção ocorreu na véspera da abertura da exposição, mas o dono não garante de continuá-la até o encerramento.

Guilherme Aquino, Pádua, swissinfo.ch

Depois do Vaticano e de Lourdes, Pádua disputa com San Gioavanni Rotondo (de Padre Pio) o lugar mais visitado pelos cristãos de todo o mundo.

O padroeiro popular de Lisboa é Santo Antônio, mas o oficial é São Vicente.

No dia 17 de junho de 1231,o corpo de Santo Antônio foi transferido da igreja de Arcella, periferia norte de Pádia, onde morreu, para a igreja Santa Maria Mater Domini, zona onde ergue-se a basílica de Pádua como tumba definitiva.

A festa da Língua é a segunda mais importante para os devotos de Santo Antônio, depois daquela do dia 13 de junho, data de sua morte. Ela é realizada no primeiro domingo depois do dia 15 de fevereiro.

Os restos mortais de Santo Antônio podem ser visitados até o dia 20 de fevereiro, salvo prorrogação, entre as seis horas da manhã e sete horas da noite, sábado até as oito horas da noite.

O jovem Fernando Martins de Bulhões, depois de ordenado sacerdote, escolheu o nome de Antônio em homenagem ao Santo Antão Abade e Ermita, quando ao se tornar frade.

Ele foi missionário no norte da África, percorreu o norte da Itália e o sul da França.
O corpo do santo foi velado por cinco dias seguidos quando ele morreu em 13 de junho de 1231.

O papa Pio XI o elegeu o segundo padroeiro de Portugal, ao lado de Nossa Senhora da Conceição.

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