The Swiss voice in the world since 1935
Principais artigos
Democracia suíça
Newsletter

Interdição de minaretes teve pouco impacto internacional

Planos de construção de um minarete em uma mesquita no Langenthal desencadearam o movimento pró-interdição. Keystone

Seis meses depois, as tensões provocadas pela proibição da construção de novos minaretes na Suíça parecem ter diminuído. Mas o problema não desapareceu e a imagem do país no exterior foi afetada, afirmam os especialistas.

A decisão dos eleitores suíços em 29 de novembro de 2009 de proibir oficialmente a construção de minaretes provocou críticas em todo o mundo por parte de grupos muçulmanos, governos, Nações Unidas e o Conselho da Europa – mas elogios da direita europeia.

Depois da vaga inicial de condenações internacionais, o voto suíço continuou a ser criticado oficialmente, embora apenas esporadicamente.

Em março passado, o relatório anual de direitos humanos da Secretaria de Estado norte-americana o citou como um exemplo da discriminação contra muçulmanos na Europa.

No final do mesmo mês, em Genebra, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU apoiou uma resolução proposta pela Organização da Conferência Islâmica (OCI) qualificando a interdição como “uma manifestação de islamofobia”.

Porém, há sinais de que as tensões têm diminuído. Erwin Tanner, funcionário graduado da Conferência dos Bispos Suíços, que recentemente viajou à Síria e ao Líbano para conversações inter-religiosas, considerou que a questão “já pertence ao passado”.

E a Corte Europeia dos Direitos Humanos, que atualmente trata de seis recursos contra a interdição, afirma ter recebido apenas duas queixas em abril, comparado com as 50 diárias no final de janeiro.

Depois de seis meses, o temor inicial quanto às reações violentas ou um boicote econômico por parte das populações muçulmanas, como o foi vivido pela Dinamarca depois do caso das caricaturas de Maomé em 2006, não se concretizou.

“As reações à proibição por parte de países muçulmanos e organizações islâmicas foram muito críticas no tom, mas em grande parte moderadas. E, com poucas exceções, não houve pedidos de boicote por membros de governos ou políticos”, afirma o porta-voz do ministério suíço das Relações Exteriores, Adrian Sollberger, acrescentando que a imagem global do país continua “boa e estável”.

Ele lembra uma pesquisa recente da Universidade de St. Gallen intitulada “Swissness (n.r.: o caráter suíço) no mundo em 2010”, que conclui ter tido a interdição de minaretes pouco impacto sobre produtos helvéticos ou serviços oferecidos pelo país.

A Secretaria Federal de Economia (Seco) confirma o limitado impacto econômico.

“Não temos indícios de qualquer problema envolvendo empresas suíças em países muçulmanos devido ao resultado do voto”, declara a porta-voz Rita Baldegger.

Limitação dos danos

Sollberger alegou que as reações majoritariamente moderadas foram graças à campanha de informação “ativa” realizada por diplomatas suíços junto a seus homólogos, líderes religiosos e grupos da sociedade civil em países muçulmanos antes do voto.

Ela foi seguida por contatos intensos entre o governo suíço e os países-membros da OIC e ministros europeus de Relações Exteriores, sendo que estes continuam.

O ex-embaixador suíço François Nordmann sentiu que essa limitação de danos parece ter reduzido de forma bem-sucedida as tensões.

A nomeação do ex-ministro e membro do governo federal, Joseph Deiss, como candidato ao cargo de presidente da 65° Assembleia Geral da ONU, e a reeleição da Suíça ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, foram indicadores importantes da ausência de hostilidades contra a Suíça, declarou.

“Mas é óbvio que a imagem internacional da Suíça, que se apresenta como um modelo na área de direitos humanos, foi abalada”, afirmou. “O voto nos forçou a sermos mais modestos.”

Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudo e Pesquisa do Mundo Árabe e Mediterrâneo, concorda que as tensões tenham diminuído, mas considera que isso se deve mais ao fator tempo do que aos esforços diplomáticos da Suíça.

“Mais preocupante é o fato de o cidadão comum no mundo árabe não ter compreendido o voto”, avalia. “Acabo de retornar de uma viagem através dos países do Golfo. Sempre que falávamos da Suíça, as pessoas diziam não entender como seus eleitores pudessem ter votado dessa maneira. A imagem da Suíça sofreu um golpe real.”

Pioneiro

Yves Lador, especialista em direitos humanos baseado em Genebra, considera que o impacto internacional do voto “pernicioso” foi diverso durante os últimos seis meses, mas que terá provavelmente consequências negativas a longo prazo.

“É como uma infecção que está lá e faz doer, mas que continua nos permitindo de funcionar”, analisa. “Mas pode repentinamente evoluir para algo maior e nos enfraquecer.”

Enquanto a Suíça continua a se beneficiar do apoio europeu, alguns países não irão hesitar em retirar da manga a “carta de trunfo” do minarete durante futuras discussões bilaterais, avalia o especialista.

Ambos se preocupam com a percepção externa do voto suíço e a maneira como esta influencia o debate sobre o Islã em outros países europeus.

“Quando você lê na imprensa árabe matérias sobre as campanhas antiburca na Bélgica e na França, todos falam da Suíça como o país pioneiro que ousou tentar fazer algo antes dos outros”, diz Abidi.

A Câmara dos Deputados belga votou em abril uma lei que proíbe a utilização por mulheres do véu islâmico completo em público. Agora a lei será votada pelos senadores. Na França, um projeto de lei semelhante deve ir ao Parlamento em julho.

No estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália, dois grupos de direita pedem a interdição de minaretes através de uma estratégia fortemente inspirada na campanha e nos cartazes produzidos pela União Democrática do Centro (UDC), maior partido suíço.

O cantão da Argóvia, no norte da Suíça, aprovou uma moção antiburca no início de maio e, na terça-feira (25/5), o braço genebrino da UDC lançou uma nova moção exigindo a interdição cantonal da burca. Um comitê constitucional irá examinar a questão no ano que vem. Se for aprovada, os habitantes poderão votar a questão em outono de 2012.

“Estamos nos contaminando”, critica Lador. “Uma interdição da burca em Genebra poderia destruir o turismo originário dos países do Oriente Médio. Se isso ocorrer, o impacto seria pior do que na história dos minaretes.”

Simon Bradley, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Segundo o censo 2000, havia 310.807 muçulmanos na Suíça. Em 1970 eram cerca de 16 mil, 57 mil em 1980 e 152 mil em 1990.

Em 1990, 2,2% da população suíça era de confissão muçulmana. Em 2000, a proporção subiu para 4,3%, com as guerras na antiga Iugoslávia e a chegada à Suíça de numerosos refugiados dos Bálcãs.

90% dos muçulmanos da Suíça provêm da Turquia e dos Bálcãs. Os de origem árabe são 6% e vêm de vários países. Aproximadamente 10% deles têm passaporte suíço.

Essa população é jovem e majoritariamente urbana.

Apenas uma pequena minoria pode ser considerada estritamente praticante.

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR