Ucrânia e Rússia iniciam troca de prisioneiros em grande escala

Ucrânia e Rússia iniciaram, nesta sexta-feira (23), uma troca importante de prisioneiros que, se for concluída, será a maior desde o início da guerra, há mais de três anos.
Ambos os lados receberam 390 pessoas na primeira fase deste acordo, alcançado na semana passada durante negociações diretas entre Kiev e Moscou em Istambul, que prevê a troca de 1.000 prisioneiros de cada lado.
“A primeira fase do acordo de troca ‘1.000 por 1.000’ foi concluída” com a repatriação de “390 pessoas”, declarou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, no X.
“Esperamos que a troca continue no sábado e no domingo”, acrescentou o líder.
A Rússia informou, por sua vez, que foram devolvidos “270 militares russos e 120 civis”, incluindo alguns detidos no oblast (região administrativa) de Kursk durante a ofensiva ucraniana em meados de 2024.
A Ucrânia recuperou o mesmo número de militares e civis, incluindo soldados da Marinha, das Tropas Aerotransportadas, Forças de Defesa Territorial, Guarda Nacional e Guarda de Fronteira, segundo as autoridades.
Após a troca de prisioneiros, a Rússia enviará à Ucrânia um documento no qual vai expor as condições para encerrar sua ofensiva, iniciada em 2022, informou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
O esboço do documento estabelece “as condições para um acordo duradouro, global e de longo prazo” para pôr fim ao conflito, acrescentou.
A Ucrânia também deverá preparar um documento desse tipo, como acordado durante os recentes diálogos diretos entre russos e ucranianos em Istambul.
– ‘Queria que Deus nos desse uma boa notícia’ –
Centenas de pessoas, mulheres na maioria, esperaram, nesta sexta, notícias sobre seus entes queridos no oblast de Chernihiv, aonde os ucranianos libertados pelos russos chegaram.
“Queria que Deus nos desse uma boa notícia hoje”, disse à AFP Lyudmila Parkhomenko, vinda de Kiev.
Há dois anos ela não tem notícias do filho, que partiu para o combate em 2022 antes de desaparecer em Bakhmut, cenário de uma das batalhas mais sangrentas do conflito, no leste da Ucrânia.
Após mais de três anos de guerra, milhares de prisioneiros permanecem detidos nos dois países, embora o número exato seja desconhecido.
A Rússia dá muito pouca informação sobre o destino dos prisioneiros ucranianos e cada troca é cercada de surpresas, disse à AFP um alto funcionário ucraniano, sob condição de anonimato.
“Às vezes devolvem pessoas que estavam nas listas de desaparecidos ou que eram consideradas mortas”, afirmou.
O tema dos prisioneiros de guerra é um dos poucos em que Ucrânia e Rússia conseguiram chegar a acordos.
“Parabéns aos dois lados por esta negociação. Isso pode levar a algo grande???”, reagiu em sua plataforma, Truth Social, o presidente americano, Donald Trump, que pressiona os dois lados para encerrar o conflito.
– Novas negociações? –
Ucrânia e Rússia trocam acusações de violações à Convenção de Genebra sobre o tratamento dado aos prisioneiros de guerra.
A Rússia organiza regularmente julgamentos contra prisioneiros de guerra ucranianos, o que contraria o direito internacional.
Também são denunciados casos de tortura e vários reféns — militares e civis — morreram na prisão.
Nesta sexta, a Procuradoria-Geral da Ucrânia acusou o Exército russo de executar cerca de 270 prisioneiros de guerra desde o início da invasão, em fevereiro de 2022.
A ONG Anistia Internacional denunciou, por sua vez, as “torturas sistemáticas e a privação de atendimento médico” a prisioneiros ucranianos na Rússia em um relatório publicado em março.
Vários ex-prisioneiros ucranianos afirmaram à AFP que foram torturados durante sua reclusão.
Recentemente, a Rússia devolveu o corpo da jornalista ucraniana Viktoria Roshchyna, que morreu em cativeiro. Segundo uma investigação jornalística, ela foi torturada e faltavam-lhe alguns órgãos do corpo.
No campo de batalha, os ataques continuam. A Rússia informou, nesta sexta-feira, que derrubou 112 drones ucranianos que apontavam especialmente para a região de Moscou e perturbaram as operações de vários aeroportos pelo terceiro dia consecutivo.
Na Ucrânia, duas pessoas morreram em bombardeios russos em Odessa e três no oblast de Kherson, ambos no sul.
Após as negociações em Istambul, a possibilidade de uma segunda reunião é alvo de intensas especulações, embora o encontro não tenha sido confirmado formalmente.
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