América Latina segue contribuindo para a poluição
O Brasil receberá a Conferência da ONU sobre Clima, enquanto um estudo revela que ainda há grandes investimentos em petróleo e gás na América Latina, em contraste com o discurso ambiental do país. Este e outros foram os destaques da semana.
De 27 de setembro a 3 de outubro de 2025, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.
Mercosul: turbo para o crescimento
O Jornal de Artes e Profissões, publicação especializada, destacou em artigo recente a importância do novo acordo comercial firmado entre a Suíça (no âmbito da EFTA) e os países do Mercosul. O tratado elimina tarifas alfandegárias sobre a maioria dos bens industriais e serviços, estabelece regras claras de propriedade intelectual e certificação, e promete facilitar o acesso das PMEs suíças ao mercado sul-americano, especialmente em setores como engenharia, TIC e tecnologias ambientais.
Embora produtos agrícolas sensíveis permaneçam protegidos por cotas e salvaguardas, o acordo representa um avanço estratégico diante das incertezas globais – como tensões comerciais entre EUA e China, protecionismo europeu e a guerra na Ucrânia. Para a Suíça, trata-se de um passo essencial na diversificação de parceiros econômicos e no fortalecimento da competitividade internacional de suas empresas, sobretudo as exportadoras de precisão, farmacêuticas e de máquinas.
Assim, o artigo enfatiza que a abertura ao Mercosul não é apenas uma oportunidade econômica, mas também um movimento geopolítico decisivo para reduzir dependências e garantir a resiliência do comércio suíço no longo prazo.
Fonte: gewerbezeitung.ch, 03.10.2025Link externo (em francês)
ONU e mudanças climáticas: América Latina continua a produzir petróleo e gás
O portal da Rádio e Televisão da Suíça germanófona (SRF) publicou um artigo para explicar ao público suíço os bastidores da Conferência da ONU sobre Mudança Climática, que este ano ocorre no Brasil. A reportagem mostra o contraste entre a imagem do país como pioneiro na proteção climática e a realidade revelada por um estudo recente: desde o Acordo de Paris, vastas áreas na América Latina – incluindo o Brasil – continuam sendo abertas para exploração de petróleo e gás, com forte participação de capital internacional, inclusive suíço.
Segundo a investigação conduzida pela ONG alemã Urgewald, empresas investiram mais de 28 bilhões de dólares nos últimos três anos para buscar novas reservas fósseis na região, com destaque para a Petrobras, cuja receita é 98% dependente do petróleo. Apesar do discurso sobre “transição energética”, os dados apontam para uma estratégia de continuidade no uso desses combustíveis.
O texto também chama atenção para o papel do setor financeiro: quase 300 bancos globais financiam a expansão fóssil na América Latina, entre eles o suíço UBS, que figura em 27º lugar como credor e 14º como investidor. Embora o banco afirme ter metas de descarbonização, especialistas entrevistados – como o editor de economia Klaus Ammann – ressaltam que financiar novas explorações contradiz os objetivos climáticos.
A reportagem, complementada por uma entrevista conduzida por Martina Koch, conclui que o tema deverá gerar debates intensos durante a conferência no Brasil, onde a sociedade civil terá espaço para pressionar tanto governos quanto instituições financeiras internacionais.
Fonte: srf.ch, 01.10.2025Link externo (em alemão)
Setor de frangos ameaça as florestas do Brasil
O jornal francófono Le Courrier publicou um artigo de forte viés ecológico, no qual analisa os prejuízos ambientais causados pela avicultura brasileira e seus impactos no consumo suíço. Segundo relatório do Greenpeace, o frango importado do Brasil – que representa 42% das aves consumidas na Suíça – pode estar ligado ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado, ecossistemas cruciais para o equilíbrio climático. A ONG alerta que a produção de ração, sobretudo à base de soja, é um dos principais vetores da destruição ambiental, e critica a falta de transparência na cadeia de fornecimento.
O texto também destaca que grandes redes varejistas suíças, como Coop, Migros, Lidl e Aldi, apresentam posições pouco claras quanto às importações de frango congelado do Brasil, a categoria mais exposta ao risco de ligação com áreas desmatadas. O Greenpeace pede a suspensão dessas importações e defende que os supermercados parem de estimular o consumo de aves por meio de descontos, incentivando proteínas vegetais.
O artigo ainda contextualiza o debate com possíveis impactos do acordo comercial com o Mercosul e a polêmica sobre o eventual ingresso de frango clorado dos Estados Unidos, questionado por organizações agrícolas como a Uniterre por representar uma ameaça aos padrões suíços de produção e bem-estar animal.
Assim, a reportagem do Le Courrier mostra que o frango brasileiro não é apenas um tema de comércio internacional, mas sobretudo um desafio ecológico, com repercussões diretas para consumidores, varejistas e formuladores de políticas na Suíça.
Fonte: lecourrier.ch, 29.09.2025Link externo (em francês)
Portugal tentar atrair seus expatriados
O portal da Rádio e Televisão da Suíça francófona (RTS) publicou um artigo para explicar o impacto do programa Regressar, criado em 2019 pelo governo português para incentivar o retorno de cidadãos que vivem no exterior. Desde então, a iniciativa já beneficiou cerca de 37 mil portugueses, oferecendo apoio financeiro de até 15 mil euros, linhas de crédito para empreendedores e redução de 50% no imposto de renda por cinco anos. O objetivo é enfrentar o declínio demográfico e a escassez de mão de obra no país. Histórias como a de Antonio Duarte e sua esposa Christina, que decidiram deixar o cantão de Vaud para criar os filhos em Castro Daire, ilustram como os benefícios fiscais e a proximidade familiar pesam na decisão de regressar.
No entanto, especialistas apontam limites claros. A socióloga Liliana Azevedo, suíço-portuguesa, destaca que o programa tem mais peso simbólico e político do que prático: em paralelo aos regressos, mais de 63 mil portugueses emigraram para a Suíça desde o lançamento do Regressar, enquanto apenas 4 mil fizeram o caminho inverso usando os incentivos. Segundo ela, a decisão de voltar raramente é motivada pelo programa em si, mas por fatores pessoais e familiares. Além disso, as dificuldades estruturais do mercado de trabalho português, como os salários baixos e a falta de progressão de carreira, continuam a empurrar profissionais qualificados para fora do país.
O artigo ressalta ainda que o programa não tem conseguido resolver os problemas centrais da economia portuguesa. Trabalhadores de áreas como saúde e construção, que Portugal mais necessita, seguem optando pela emigração. Em resposta, novas propostas estão em debate: o consultor Vitor Gabriel Oliveira, presidente do Conselho Europeu das Comunidades Portuguesas, defende a extensão dos incentivos também aos aposentados, que poderiam dinamizar regiões despovoadas ao transferir suas pensões para Portugal. O governo já sinalizou interesse em adotar essa ideia em futuras versões do Regressar, previsto para ser renovado no próximo ano.
Fonte: rts.ch, 29.09.2025Link externo (em francês)
Recurso do desastre da Rio-Paris é julgado
A agência de notícias AFP, em artigo publicado por diversas mídias suíças, destacou o início do julgamento do recurso da Airbus e da Air France por homicídio involuntário no acidente do voo AF447 Rio-Paris, ocorrido em junho de 2009 e que resultou na morte de 228 pessoas. O caso, considerado o mais grave da história da Air France, passou por mais de uma década de investigações, relatórios técnicos e disputas judiciais. As primeiras apurações apontaram falhas nas sondas de velocidade Pitot e posteriormente erros de pilotagem, o que gerou tensão entre autoridades e familiares das vítimas, que criticaram a tendência de responsabilizar apenas a tripulação.
Em 2023, a justiça francesa absolveu tanto a Airbus quanto a Air France, entendendo que, embora tenham cometido negligência e imprudência, não ficou comprovado um vínculo causal direto com a queda do avião. No entanto, o Ministério Público recorreu da decisão, levando a um novo julgamento que se inicia nesta segunda-feira. Para as famílias, o processo é crucial para esclarecer responsabilidades, sobretudo porque documentos indicam que a Airbus já conhecia fragilidades técnicas anos antes do desastre. O desfecho desse recurso será decisivo para definir se as empresas podem ser responsabilizadas criminalmente por um dos acidentes aéreos mais marcantes das últimas décadas.
Fonte: blick.ch, 27.09.2025Link externo (em francês)
Quem é Tarcisio de Freitas, potencial herdeiro de Bolsonaro?
O portal suíço Watson.ch, um dos mais populares do país, publicou um artigo traçando o perfil de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, considerado por muitos como o possível sucessor político de Jair Bolsonaro. Aos 50 anos, engenheiro e ex-militar, Tarcísio governa o estado mais populoso e rico do Brasil desde 2023 e aparece como o nome mais forte do campo conservador para disputar a presidência em 2026, caso Bolsonaro seja impedido de concorrer. Apesar de adotar um estilo mais moderado e pragmático do que seu mentor, mantém fidelidade ao ex-presidente e chegou a prometer que, se eleito, sua primeira medida seria conceder um indulto a ele.
O artigo mostra que Tarcísio é bem visto pelo empresariado brasileiro, mas enfrenta críticas da esquerda por suas políticas de segurança, consideradas duras. De origem humilde, filho de uma faxineira e de um vendedor, iniciou a carreira como militar e depois como tecnocrata, chegando a ocupar cargos de destaque ainda sob Dilma Rousseff, antes de se tornar ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro. Essa trajetória o consolidou como uma figura respeitada pela elite política e econômica, visto como competente e menos propenso a “polêmicas inúteis”, em contraste com o estilo explosivo do ex-presidente.
Apesar de negar ambições presidenciais, Tarcísio vem ampliando suas críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, acusando-o de priorizar a ideologia em detrimento da economia e de afastar investidores com gastos excessivos. Ao mesmo tempo, sua gestão é alvo de denúncias por violência policial, já que as mortes em operações em São Paulo aumentaram 61% em um ano, contra uma queda na média nacional. Questionado por associações de direitos humanos e até por entidades internacionais, ele minimizou as críticas, reforçando sua imagem de governante pragmático, mas também controverso.
Fonte: watson.ch, 27.09.2025Link externo (em alemão)
Lisboa entre o choque e a tensão política
O Journal 21, publicação independente conduzida por jornalistas veteranos, relatou em detalhe o acidente do Elevador da Glória em Lisboa, ocorrido em 12 de outubro, no qual um bonde descarrilou, matando 16 pessoas – entre elas uma turista suíça – e ferindo mais de 20. O desastre chocou não apenas Portugal, mas também a comunidade internacional, já que o funicular é um dos pontos turísticos mais visitados da capital portuguesa. Três semanas após o ocorrido, o local ainda é marcado por homenagens com flores e bandeiras dos países das vítimas, enquanto turistas continuam a parar diante da cena da tragédia.
As investigações preliminares indicam que o acidente poderia ter sido evitado. O cabo de aço que conecta os dois vagões não se rompeu, mas se soltou de sua fixação em uma parte não visível a olho nu. Sem controle, o bonde desceu em alta velocidade e descarrilou, agravado pela falha dos freios. O motorista, entre as vítimas fatais, não conseguiu impedir a tragédia. A empresa pública Carris, responsável pela operação dos bondes, é acusada de negligência após terceirizar a manutenção para uma empresa que teria usado materiais mais baratos e inadequados, como cabos com núcleo de fibra sintética em vez de aço puro.
O impacto político foi imediato, já que o desastre ocorreu na véspera das eleições locais nacionais de 12 de outubro. O prefeito Carlos Moedas, que concorre à reeleição, recusou-se a renunciar, mas está sob forte pressão após revelações de que já havia alertas oficiais sobre falhas na manutenção. A oposição exigiu uma reunião extraordinária do conselho municipal, mas Moedas a agendou apenas para o dia 13, após a votação. A condução do caso pode decidir se ele presidirá a reunião como prefeito reeleito ou apenas como chefe em fim de mandato.
Fonte: journal21.ch, 27.09.2025Link externo (em alemão)
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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 10 de outubro. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!
Até a próxima semana!
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